O Relatório da FAO, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, apontou em 2023 que 21.1 milhões de brasileiros passaram por insegurança alimentar grave, caracterizado por estado de fome. Dados de estudos sobre fome e miséria da USP dão contam que os brasileiros descartam 108 toneladas de alimentos – o que equivale a cerca de 130 mil milhões de refeições e mais de 01 bilhão de Reais em alimentos que são desperdiçados anualmente. Infelizmente, a situação fica ainda pior durante a época das festas de final de ano, quando as famílias brasileiras produzem três vezes mais resíduos alimentares do que o habitual.
Comer bem é um dos sinônimos do Natal. Para além do tradicional jantar de meia-noite, os próximos dias serão decisivos para quem gosta de se aventurar na cozinha, reaproveitando o que sobrou da ceia natalina. Se a ideia de comer a mesma preparação culinária por uma semana seguida não parece atraente, aqui estão algumas maneiras criativas de usar as sobras das festas e evitar que alimentos perfeitamente saudáveis vão para o aterro sanitário. Todo o excedente é transformado em novas receitas deliciosas:
Quando tem pernil e aí ele sobra, podemos desfiá-lo e fazê-lo igual a uma carne louca. E pode ser congelada. Essa mesma carne vira croquete, por exemplo.
Quanto às sobras de comidas, isso pode virar um almoço de natal ou jantar comum para o próximo fina de semana. Todo mundo leva uma marmitinha para casa, pois o que sobra vira uma marmita para cada um comer durante a semana. E todo mundo já espera uma marmita também.
Sugiro um prato rápido e delicioso: arroz com peru em lascas. Gosto sempre de fazer arroz com aves. Hidrate o arroz com o molho do peru e adicione a carne em lascas. Misture bem e o prato já está pronto! Coma junto com uma farofinha.
Se você fez uma salpicão de frango para a ceia, pode aproveitá-lo no dia seguinte em um sanduíche. Boa pedida para comer de manhã, fica maravilhoso.
Congele as sobras para pratos futuros. O congelamento funciona como um botão de pausa. É seguro congelar alimentos até o prazo de validade inclusive. Isto inclui carnes cruas e cozidas, frutas, batatas (depois de ferver durante cinco minutos), queijo ralado e ovos. Será seguro comer por muito tempo, mas você poderá observar uma deterioração na qualidade após 3-6 meses. Isso é chamado de queimadura por congelamento.
A queimadura por congelamento ocorre quando os alimentos no freezer são expostos ao ar frio e seco, o que faz com que eles desidratem e formem cristais de gelo com o tempo. Este processo afeta a qualidade dos alimentos, e não a segurança. Esse fenômeno térmico pode ser evitado embalando cuidadosamente os alimentos no congelador e verificando se não são guardados por muito tempo. As carnes geralmente serão melhor consumidas dentro de 2 a 3 meses. Produtos de panificação, frutas e vegetais entre 3-4 meses.
Resfrie os alimentos cozidos rapidamente em temperatura ambiente e leve à geladeira ou congele dentro de uma a duas horas. Dividir as sobras em porções menores ajudará a resfriá-los mais rapidamente. Também pode ser mais conveniente congelar e descongelar refeições em porções posteriormente. Rotule e date tudo o que você estiver congelando para poder identificar facilmente o que é; você não quer um OVNI (Objeto Congelado Não Identificado) no seu freezer!
Descongele os alimentos lenta e seguramente na geladeira ou completamente no micro-ondas na configuração de descongelamento. Não descongele em temperatura ambiente. Certifique-se de que os alimentos foram totalmente descongelados, pois os alimentos parcialmente descongelados podem não cozinhar uniformemente. Isto significa que bactérias nocivas podem sobreviver ao processo de cozimento. Depois que os alimentos estiverem descongelados, consuma em 24 horas e não recongele. Certifique-se de reaquecer qualquer alimento descongelado até ficar bem quente.
Comida boa e saborosa merece ser preservada e transformada para fazer parte com segurança o maior tempo possível da nossa mesa.
*Clayton Camargos é sanitarista pós graduado pela Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP/Fiocruz. Desde 2002, ex gerente da Central Nacional de Regulação de Alta Complexidade (CNRAC) do Ministério da Saúde. Subsecretário de Planejamento em Saúde (SUPLAN) da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Consultor técnico para Coordenação-Geral de Fomento à Pesquisa Em Saúde da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde. Coordenador Nacional de Promoção da Saúde (COPROM) da Diretoria de Serviços (DISER) da Fundação de Seguridade Social. Docente das graduações de Medicina, Nutrição e Educação Física, e coordenador dos estágios supervisionados em nutrição clínica e em nutrição esportiva do Departamento de Nutrição, e diretor do curso sequencial de Vigilância Sanitária da Universidade Católica de Brasília (UCB). Atualmente é proprietário da clínica Metafísicos.