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Saúde e nutrição com Clayton Camargos: “gotinhas” de câncer?

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A Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer da Organização Mundial da Saúde (OMS), IARC, registrou seu posicionamento sobre estudos recentes sugerindo que o aspartame pode estar associado a um maior risco de câncer de fígado. De outra parte, uma estrutura diferente dentro da mesma organização, o Comitê Conjunto de Especialistas em Aditivos Alimentares (JECFA), expressou que não mudaria sua orientação sobre quanto ao adoçante artificial mais comum e estudado do mundo ser consumido com segurança, afirmando que a substância não é absorvida pela corrente sanguínea.

 

Os anúncios aparentemente heterogêneos de ambas as agências, IARC e JECFA, certamente intensificarão os debates sobre a segurança do aspartame, que é usado em muitos itens, desde refrigerantes dietéticos, cremes dentais até iogurtes de frutas de baixas calorias e xaropes para tosse.

 

Mais de 90 países autorizaram o uso do aspartame, e a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA revisou sua segurança cinco vezes desde que foi aprovado para consumo em 1981. Ainda assim, perseveram as atenções sobre seu potencial risco cancerígeno.

 

A FDA informou em um comunicado que discorda da manifestação da IARC, citando deficiências nos estudos nas quais a agência se baseou. Sob sua visão, alguns consumidores podem confiar em produtos com aspartame e outros adoçantes para ajudar na redução do consumo de açúcar; reconhecendo que navegar por diferentes informações da OMS é um desafio.

 

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Foto: Freepik

 

Para as quase 540 milhões de pessoas  portadoras de diabetes em todo o mundo, o anúncio da IARC pode ser considerado enganoso, impreciso e alarmista.

 

Muitos colegas do setor da saúde, especialmente os cientistas, ridicularizaram a IARC antes desse último posicionamento pela OMS, observando que no passado a agência rotulou trabalhar à noite, aloe vera e os campos eletromagnéticos de radiofrequência associados ao uso de telefones celulares como causadores de câncer.

 

Tecnicamente, as avaliações da IARC e do JECFA não são conflitantes, pois as agências têm funções diferentes. A IARC determina se algo tem potencial para causar câncer, enquanto o JECFA avalia se representa um risco real aos seres humanos. A IARC determinou que o aspartame pode causar câncer, mas o JECFA afirmou que não há provas de que seja prejudicial à nossa saúde se utilizado de acordo com as instruções clinicamente consagradas.

 

O JECFA reafirmou que considera aceitável a atual ingestão diária de aspartame. O limite estabelecido pela agência é de 40 mg por kg de peso corporal por dia, o que equivale a cerca de 70 latas de 350 ml por unidade de refrigerantes dietéticos do tipo Cola para um adulto de 70 kg.

 

A OMS alega que alguns consumidores podem estar recebendo uma dose diária preocupantemente alta de aspartame devido à sua presença não apenas em refrigerantes dietéticos e outras bebidas, mas também em uma variedade de alimentos, juntamente com uma série de adoçantes mais recentes, à medida que as pessoas buscam limitar a ingestão de açúcares adicionados. A Organização sugere que o padrão de consumo seja reconsiderado.
 

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Foto: Unsplash

 

A impressão é que a posição da OMS não é institucional, mas sim uma opinião pessoal e não técnica. No entanto, é importante destacar que o compêndio científico tem consistentemente demonstrado que esses produtos são seguros e podem fazer parte de uma dieta balanceada. Eles oferecem às pessoas uma variedade de opções de bebidas que podem atender às suas necessidades, especialmente àqueles que desejam reduzir o consumo de açúcar e calorias.

 

Cerca de 95% das bebidas carbonatadas que contêm adoçantes utilizam o aspartame, assim como pelo menos 90% dos chás prontos para beber.

 

Sabemos que numerosos ensaios controlados randomizados, bem como entidades científicas consideradas padrão-ouro da pesquisa nutricional, mostraram que os adoçantes podem ser uma ferramenta segura para ajudar as pessoas a controlar seu peso. Essas pesquisas foram inexplicavelmente ignoradas pela OMS em suas diretrizes.

 

Duas investigações estão no centro do anúncio da IARC: um grande estudo observacional produzido na França em 2022 e outro realizado em animais entre 2006 e 2007 por uma equipe do Instituto Ramazzini na Itália. Ambas as pesquisas receberam críticas significativas em relação aos seus métodos.

 

O estudo francês acompanhou mais de 100.000 adultos e mostrou que os consumidores de grandes quantidades de adoçantes artificiais, especialmente o aspartame e o acessulfame-K, apresentavam um risco discretamente maior de câncer. Da mesma forma, a investigação italiana relatou que o aspartame causou tumores cancerígenos em diversos órgãos de ratos e camundongos.

 

O grupo de trabalho da IARC afirmou que diversas pesquisas recentes encontraram uma associação entre o consumo de bebidas adoçadas artificialmente e certos tipos de câncer de fígado em humanos, além de um aumento na incidência de tumores em duas espécies, camundongos e ratos, de ambos os sexos, observados em três publicações científicas. No entanto, a IARC admitiu que a possibilidade de acaso, viés ou confusão não pode ser descartada como uma explicação para esses resultados.

 

A IARC não é uma unidade de segurança alimentar, e sua revisão sobre o aspartame não é cientificamente abrangente, sendo fortemente baseada em pesquisas amplamente desacreditadas. Particularmente, tenho dúvidas à respeito do impacto sanitário da conduta adotada pela agência, pois pode induzir desnecessariamente os consumidores a ingerir mais açúcar em vez de selecionar produtos seguros sem e com baixo teor de glicose.
 

Para as pessoas que atualmente consomem refrigerantes dietéticos, a pior decisão possível seria eleger as versões adoçadas com açúcar. Bebidas açucaradas podem aumentar o risco de obesidade e diabetes tipo 2. As melhores opções para consumo diário são água, café e chás. 
Considero que os refrigerantes dietéticos podem ser uma alternativa para pessoas que buscam controlar o peso e limitar a ingestão de açúcar, comparando-os a um adesivo de nicotina: possivelmente úteis para alguns indivíduos na transição da dependência, mas não a melhor solução a longo prazo.
 

O que podemos extrair de positivo desse episódio? Podemos recebê-lo como um alerta, considerando que os alimentos ultraprocessados e industrializados inundaram as dietas globalmente. Também podemos encará-lo como um chamado para questionar por que consumimos esses produtos químicos de forma regular e ostensiva, o que nos leva a refletir sobre o uso do aspartame. Além disso, nos oferece uma oportunidade para revisar a ingestão de outros itens, como embutidos e álcool, que são conhecidos carcinógenos associados ao aumento do risco de uma variedade importante de neoplasias malignas.

 

As pessoas querem uma resposta simples de sim ou não sobre se a ingestão de aspartame pode aumentar o risco de câncer. Ainda não temos revelações. A maioria dos estudos em humanos não rastreou a quantidade específica desse adoçante que consumimos ao longo do tempo, portanto, há uma área cinzenta. A bem da verdade, a indústria de alimentos poderia propor soluções reformuladas com alternativas totalmente seguras. Isso apagaria a responsabilidade dos consumidores.
A possível associação causa-efeito entre o consumo de aspartame e câncer está muito mais distante das evidências do que a conexão com obesidade e tabagismo. No entanto, é razoável adotar parcimônia com relação à sua ingestão até que estudos conclusivos estejam disponíveis.
 

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