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Saúde e nutrição com Clayton Camargos: dieta para saúde mental

Dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que na atualidade, globalmente, o Brasil é o primeiro País no ranking em prevalência de transtornos ansiosos e o terceiro em depressão.

O que a alimentação tem a ver com isso?

O velho ditado sobre seguir uma dieta equilibrada é mais conhecido pelos seus benefícios corporais, entretanto, um novo estudo sugere que tais hábitos alimentares têm efeitos significativos na saúde mental e cognição.

O artigo publicado na Nature Mental Health, no mês passado, examinou os padrões e preferências alimentares de mais de 180.000 adultos no Reino Unido, e os dividiu em quatro categorias:

1. Sem amido ou amido reduzido;

2. Vegetariano;

3. Alta proteína e baixa fibra;

4. Equilibrado.

Clique aqui para acessar o estudo: https://www.nature.com/articles/s44220-024-00226-0

Mais de metade das pessoas entrevistadas enquadraram-se na categoria equilibrado”, e os resultados de saúde mental e função cognitiva relatados foram melhores do que qualquer um dos outros três grupos.

Aqueles que seguiram uma dieta rica em proteínas e pobres em fibras apresentaram menores volumes de massa cinzenta numa parte do cérebro chamada giro pós-central, que coordena a forma como o nosso corpo se move através do ambiente, do que os indivíduos que seguiram uma dieta equilibrada.

Além disso, os vegetarianos tinham volumes maiores de massa cinzenta em partes do cérebro chamadas tálamo e precuneus. Surpreendentemente, o estudo descobriu um risco aumentado de comprometimentos de saúde mental àqueles que consumiam mais vegetais e frutas, um achado que os autores  creditam ao desenho da pesquisa e requer uma investigação mais aprofundada.

De outra parte, a pesquisa (re)confirmou que os alimentos ultraprocessados contribuem para uma ampla variedade de problemas de saúde, incluem-se:

  • Mortes relacionadas às doenças cardiovasculares;
  • Transtorno de Ansiedade Generalizada;
  • Diabetes tipo 2;
  • Obesidade;
  • Distúrbios do sono;
  • Depressão.

Abordagens como a dieta mediterrânea, que dá ênfase ao consumo de peixes e  vegetais, têm demonstrado efeitos promissores à saúde física, sobretudo, em razão da sua capacidade antiinflamatória. E, por isso, também podem ter um impacto significativo na saúde do cérebro.

Isto é, dietas caracterizadas por alta ingestão de vegetais e frutas, ricas em antioxidantes, consumo limitado de carne vermelha e uso rotineiro de azeite de oliva como fonte primária de gordura estão associadas à diminuição do risco de demência. Por exemplo, a adesão ao protocolo mediterrâneo, que é generoso em alimentos à base de plantas e pobre em itens ricos em gordura saturada, tem sido associada à melhoria da função cognitiva e a maiores volumes cerebrais em regiões específicas.

Foto: Unsplash

Hábitos alimentares ricos em gorduras saturadas, açúcares e carboidratos refinados têm sido associados à diminuição da função cognitiva e do volume cerebral. Além disso, o impacto da dieta no microbioma intestinal também desempenha um papel significativo na saúde do cérebro, com evidências sugerindo que um intestino saudável, promovido pelo consumo abundante de fibras alimentares, pode preservar o eixo intestino-cérebro e potencialmente melhorar a cognição.

O estudo sugere que ao criar equilíbrio nos hábitos alimentares, as pessoas podem estabelecer as bases para uma melhor saúde mental e cognição.

As escolhas de estilo de vida; isso significa um sono de qualidade, exercício físico regular e boas técnicas de gestão do stress, como meditação, são motores essenciais que complementam uma dieta equilibrada.

Esse estudo em pauta é alvissareiro, em parte porque se trata de uma investigação com um universo amostral robusto, com mais de 181 mil participantes, e mostra uma quantidade significativa de dados correspondentes.

Também foi mostrado que dietas ricas em proteínas e pobres em fibras estão associadas a pontuações mais baixas de bem-estar, níveis mais elevados de marcadores inflamatórios e um risco aumentado de acidentes cerebrovasculares.

Essas informações  concordam com o que já sabemos sobre dieta e saúde mental: podemos modificar nosso hábito alimentar para melhorar a saúde do cérebro, incluindo vegetais, frutas, amidos como grãos integrais, legumes e batatas; bem como proteínas magras, peixes gordurosos e gorduras vegetais, como oleaginosas, sementes, abacate, azeitonas e azeite.

Em suma, num horizonte que ponha em perspectiva anos de vida com qualidade conectando corpo e mente numa sincronia harmonizada; a ciência reitera a necessidade de reduzir ao máximo o consumo de alimentos ultraprocessados, carnes gordurosas e embutidos, incluindo bacon, salsicha, refrigerantes, açúcar e outros carboidratos refinados.

No Brasil, a equipe do NUPENS (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde) da Universidade de São Paulo (USP) vem apresentando preliminares de estudos em curso desde 2020 sobre os padrões de alimentação da população brasileira, e mostram que o elevado consumo de produtos ultraprocessados está relacionado à manifestação de sintomas de depressão. As análises revelam um risco aumentado em 42% para quadros depressivos dentro do grupo no qual esses produtos perfazem quase dois quintos da dieta. 

Clique aqui para acessar o estudo: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38613906/

Alimentos altamente processados são conhecidos pelo seu baixo valor nutricional. Geralmente são ricos em açúcares adicionados, sódio e gorduras, sendo essa uma das razões por trás do surgimento de problemas de saúde mental. Mas os cientistas desconfiavam que havia algo a mais.

As evidências mostram, portanto, que as causas dos problemas psiquiátricos também podem residir nos aditivos químicos. Incluindo alcalóides como a cafeína presente no café e chás, taurina nas bebidas energéticas e teobromina no chocolate. Além do alto consumo de açúcar refinado e suas preparações, bem como de bebidas alcoólicas, que diretamente impactam na arquitetura de regulação de neurotransmissores como a serotonina, dopamina e endorfina. O desequilíbrio desses agentes neuroquímicos está diretamente conectado à episódios de transtornos ansiosos e síndrome do pânico.

Segundo os autores do estudo, essa conexão pode estar relacionada com alterações da microbiota intestinal promovida por essas substâncias que, por sua vez, causam um desequilíbrio na própria absorção dos nutrientes.

A solução para quem quer cuidar da saúde é cessar ao máximo o consumo desses produtos. Essa também é a recomendação do Ministério da Saúde. No sistema de classificação de alimentos do Guia Alimentar para a População Brasileira, são a quarta categoria, após alimentos in natura ou minimamente processados, ingredientes processados e alimentos apenas processados. 

No futuro, os pesquisadores esperam que os resultados ajudem o poder público no momento de desenhar e aprimorar as políticas públicas de saúde e alimentação, enfrentando um dos efeitos mais deletérios da industria de alimentos ultraprocessados: o excesso ponderal, incluindo sobrepeso e obesidade, que alcança mais da metade dos brasileiros.

O que temos hoje é um horizonte desértico com alterações climáticas devastadoras que comprometem diretamente a produção agropecuária do país, reduzindo a nossa competitividade produtiva, nos tirando do lugar de exportador para importador. Isso aumenta  o valor final para o consumidor de itens saudáveis como legumes e frutas, e por puro subsídio através de um lobby bem sucedido que reduz os impostos relacionados aos alimentos ultraprocessados, permitindo que esses produtos sejam fabricados em larga escala e com uma capacidade impressionante de escoamento e acesso ao consumidor.

À médio prazo, em razão das doenças adjuvantes, sobretudo à obesidade, demandarão tecnologias de alto custo e alta complexidade que poderão exaurir tanto o sistema público, como o da atenção supletiva e também o setor exclusivamente privado. Lidaremos com um cenário que se sobrecarregará com tudo, ao mesmo tempo e agora, isto é, o diabetes, a hipertensão, os infartos agudos do miocárdio, os acidentes cerebrovasculares, a depressão, os transtornos ansiosos e a síndrome do pânico, impactando em absenteísmo e incapacitação da força produtiva. Um verdadeiro apocalipse para atenção integral à saúde, sistemas trabalhista e previdenciário.

Você tem alguma dúvida sobre saúde, alimentação e nutrição? Envie um e-mail para dr.clayton@metafisicos.com.br e poderei responder sua pergunta futuramente.

Nenhum conteúdo desta coluna, independentemente da data, deve ser usado como substituto de uma consulta com um profissional de saúde qualificado e devidamente registrado no seu Conselho de Categoria correspondente.

 

 

Clayton Camargos é sanitarista pós graduado pela Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP/Fiocruz. Desde 2002, ex gerente da Central Nacional de Regulação de Alta Complexidade (CNRAC) do Ministério da Saúde. Subsecretário de  Planejamento em Saúde (SUPLAN) da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Consultor técnico para Coordenação-Geral de Fomento à Pesquisa Em Saúde da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde. Coordenador Nacional de Promoção da Saúde (COPROM) da Diretoria de Serviços (DISER) da Fundação de Seguridade Social. Docente das graduações de Medicina, Nutrição e Educação Física, e coordenador dos estágios supervisionados em nutrição clínica e em nutrição esportiva do Departamento de Nutrição, e diretor do curso sequencial de Vigilância Sanitária da Universidade Católica de Brasília (UCB). Atualmente é proprietário da clínica Metafísicos.

CRN-1 2970.

Clayton Camargos

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