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Saúde e nutrição com Clayton Camargos: dieta e ataque do coração

Os infartos e ataques cardíacos continuam sendo uma das maiores razões de óbitos no Brasil. Para evitar, manter uma dieta balanceada é essencial

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De acordo com um recente levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Cardiologia (INC), por meio de dados extraídos do Sistema de Internação Hospitalar (SIH) do Datasus do Ministério da Saúde, perfazendo o período de 2008 a 2022, e representando de 70% a 75% de todos os pacientes assistidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), verificou-se um preocupante aumento no número de internações por infarto no Brasil: especificamente entre os homens, a média mensal saltou de 5.282 para 13.645 casos, estampando um acréscimo significativo de 158%. No caso das mulheres, a normalidade passou de 1.930 para 4.973, exibindo um aumento não menos expressivo de 157%.

 

As doenças isquêmicas e cerebrovasculares são as maiores responsáveis por óbitos em todas as regiões brasileiras. Entre 2017 e 2021, 7.368.654 pessoas morreram por circunstância desses agravos de saúde. Embora não ocorra uma causa única, raciocina-se que uma dieta pouco saudável pode ser um dos ativos de ameaça sanitária que contribuem para o estado da arte desses eventos. Prestar atenção ao que se come e ingerir uma variedade de itens saudáveis dos 5 grupos de alimentos é uma das medidas preventivas mais importantes que se pode tomar.

 

A doença cardíaca resulta do estreitamento das artérias que fornecem sangue ao coração por meio de um processo conhecido como aterosclerose. Depósitos de gordura (ou placa) acumulam-se gradualmente no interior das paredes das artérias, estreitando o espaço no qual o sangue pode fluir para o coração. A aterosclerose pode começar quando você é jovem; portanto, quando alcançar a meia-idade, poderá estar bastante avançada.

 

O acúmulo de placa pode ser considerado estável ou instável. Se houver uma deposição excessiva de placa estável, ela estreita as artérias, causando dor e desconforto devido ao sangue insuficiente que chega ao coração – isso é chamado de angina e precisa ser tratado.

 

A placa instável está inflamada e tem uma capa fina que é propensa a desenvolver uma rachadura, permitindo que o sangue entre em contato com o conteúdo gorduroso da ateromatose. O sangue vai coagular para tentar selar a lacuna, mas, ao fazê-lo, o coágulo bloqueia a artéria. Isso impede o fluxo de sangue para o coração, corta seu suprimento de oxigênio e danifica ou mata as células cardíacas. Isto é, um ataque cardíaco.

 

Existem muitos motores que podem aumentar o risco de comprometimentos cardiovasculares. Embora alguns deles não possam ser alterados, a boa notícia é que existe uma boa parte sob nosso controle. Por exemplo, ser fisicamente ativo, garantir um bom apoio social e não fumar reduzem o risco de doença cardíaca.

 

Alguns fatores de risco estão conectados. Por exemplo, os níveis de colesterol e a pressão arterial podem ser afetados pela qualidade da alimentação, assim como o peso corporal e o controle do diabetes. Portanto, uma das melhores atitudes que você pode considerar para reduzir as chances do desenvolvimento de disfunções cardiovasculares é ter uma dieta saudável e manter-se normopesado.

 

O colesterol é uma gordura crucial para muitas funções metabólicas e é uma parte essencial de todas as membranas celulares do corpo. É produzido pelo organismo a partir dos alimentos que ingerimos e metabolizado no fígado. Os lipídios do sangue (gorduras) que contêm colesterol incluem lipoproteína de baixa densidade (LDL) e lipoproteína de alta densidade (HDL). O LDL (‘ruim’) pode levar à formação de placas nas artérias, enquanto o HDL (‘bom’) ajuda a remover a fração ruim e dificulta sua formação.

 

As gorduras saturadas, também conhecidas como “gorduras ruins”, tendem a aumentar o colesterol LDL no sangue. Fontes comuns desses lipídios incluem produtos de origem animal e alimentos ultraprocessados.

 

Laticínios integrais ou com baixo teor de gordura: embora os laticínios integrais (como leite, queijo e iogurte) contenham gordura saturada, parece que têm uma relação inócua com a saúde do coração. O INC recomenda que leite, iogurte e queijo branco possam ser consumidos pela população em geral, mas para pessoas que precisam reduzir o colesterol LDL, devem ser ingeridas versões com baixo teor de gordura.

 

Ovos: em um passado não muito distante, pensava-se que o colesterol encontrado naturalmente nos ovos era ruim para a saúde do coração. No entanto, as pesquisas sugerem que esse alimento não aumenta nem diminui o risco de doenças cardíacas para a população em geral. Para os indivíduos que precisam reduzir o colesterol LDL ou portadoras de diabetes tipo 2, o INC orienta um máximo de 7 ovos por semana.

 

Gorduras Trans: assim como as gorduras saturadas, as trans tendem a aumentar o colesterol LDL no sangue, e a reduzir os níveis de HDL. Portanto, são mais prejudiciais à nossa saúde e podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares, como o infarto agudo do miocárdio e os acidentes vasculares cerebrais. Os ácidos graxos trans se formam quando óleos vegetais monoinsaturados ou poliinsaturados são “hidrogenados” e solidificados para formar margarinas, óleos para frituras e gorduras para produtos assados. Esses lipídios mais sólidos são usados pela indústria alimentícia em produtos ultraprocessados, como bolos, biscoitos recheados, refeições fritas e congeladas. Essas gorduras também ocorrem naturalmente em algumas carnes, manteiga e laticínios. A maioria das margarinas de mesa comercializadas no Brasil, ricas em gorduras mono e poliinsaturadas, são substitutas preferidas da manteiga, que contém gordura saturada.

 

Gorduras monoinsaturadas e poliinsaturadas: reduza o risco de doenças cardíacas, substituindo a ingestão de energia de gorduras saturadas e trans (‘gorduras ruins’) na dieta por gorduras insaturadas (‘gorduras boas’). Troque a manteiga, óleo de coco e dendê, banha, gotejamento e cofa por óleos feitos de sementes ou plantas (como azeitona, abacate, girassol, cártamo, amendoim e gergelim). Outras fontes incluem oleaginosas sem sal e sementes (destacando a chia, o tahine e a linhaça dourada).

 

Pressão arterial e sódio: uma dieta rica em sal está associada à hipertensão (pressão alta), que pode aumentar o risco de doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais. A maioria de nós consome mais de 10 vezes a quantidade de sal essencial para atender às  necessidades individuais de sódio (o sal contém sódio e cloreto). Uma boa parte do sódio da dieta não vem do sal adicionado à mesa, mas de alimentos industrializados e ultraprocessados. Mesmo as preparações doces e aquelas que não têm sabor ‘salgado’ podem ter muito mais sódio do que se esperaria. Uma maneira simples de reduzir a quantidade desse micronutriente na dieta é limitar a porção de itens ultraprocessados, constranger o consumo de “fast foods” e usar ervas combinadas às especiarias para conferir sabor às preparações culinárias.

 

Embora não exista um alimento “mágico” para diminuir o risco de desenvolver doenças cardíacas, priorize:

 

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Foto: Unsplash

 

Abundância de vegetais, frutas e grãos integrais. Fibras, potássio e outros micronutrientes (como antioxidantes) contidos nesses alimentos oferecem proteção contra doenças cardíacas. Eles também são uma importante fonte de folato – que ajuda a diminuir os níveis sanguíneos do aminoácido homocisteína, que parece estar associado a um risco aumentado de doença cardíaca.

 

Uma variedade de fontes saudáveis de proteínas (especialmente peixes e frutos do mar), leguminosas (como feijões e lentilhas), oleaginosas e sementes. Peixes como cavala, sardinha, atum e salmão, que contêm ácidos graxos insaturados, melhoram a elasticidade dos vasos sanguíneos tornando o sangue mais fino e menos propenso a coagular e interditar o fluxo circulatório.

 

Se escolher proteínas de origem animal, certifique-se de que contenha menor gordura, limite-as para as não processadas (como bovina, vitela, carneiro, cordeiro, porco, coelho e outras carnes de caça). Evite itens embutidos (como salsichas, presunto, salame e presunto). Apare toda a gordura visível da carne e remova as peles das aves.

 

Reduza o consumo de fontes refinadas de carboidratos com índices glicêmicos altos (incluindo alimentos com adição de açúcares). Privilegie itens não refinados com baixa carga glicêmica – como pães e cereais integrais, legumes, certos tipos de arroz, macarrão, algumas frutas e vegetais também ajudam a diminuir os níveis de triglicerídeos, glicose e ácido úrico no sangue, apoiando o controle do diabetes e a redução do risco de doenças cardiovasculares.

 

Ingestão de bebida alcoólica: o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), no contexto brasileiro, considera que uma dose saudável corresponderá a 14 g e 10 g de etanol puro por dia, respectivamente para homens e mulheres. Isso proporcionaliza 350/250 ml de cerveja (5% de álcool), 150/107 ml de vinho (12% de álcool) ou 45/32 ml de destilado (como vodca, cachaça e tequila, com aproximadamente 40% de álcool). Uma alta ingestão de bebidas alcoólicas pode aumentar a pressão arterial e elevar a concentração de triglicerídeos no sangue, além de promover o acúmulo de gordura abdominal visceral direcionada à sobrecarga do fígado, a chamada esteatose hepática alcoólica.  

 

Por fim, esteja atento ao quanto se está comendo, o tamanho das porções aumentou com o tempo e muitos de nós ingerimos mais do que precisamos, o que pode levar à obesidade e aumentar o risco de doenças cardiovasculares. Idealmente, um prato saudável inclui porções balanceadas de: ¼ de proteína, ¼ de carboidratos e ½ de vegetais. Coma com os olhos, mas não tenha “olhos gordos”.