As bebidas açucaradas podem contribuir para muitas doenças, incluindo obesidade, diabetes tipo 2 e cárie dentária. Pesquisas mostram que beber uma lata (350 ml) de Coca-Cola pode danificar o corpo em apenas uma hora após seu consumo.
De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), aproximadamente metade da população dos Estados Unidos consome pelo menos uma bebida açucarada por dia. Os adultos jovens são os consumidores mais frequentes desses produtos. Um estudo publicado em 2015 pela Circulation da American Heart Association atribuiu 184.000 mortes globais anuais à ingestão de líquidos açucarados industrializados.
Nos anos 1980, a Coca-Cola lançou uma campanha com um jingle que cantava sobre a magia de saboreá-la, cujo título era Coca-Cola é isso aí!.
Pois bem, o que é a Coca-Cola?
Sua invenção ocorreu nos Estados Unidos em 1886 originalmente como um remédio para tratamento de queixas estomacais. Uma lata desse refrigerante contém 37 g de açúcar adicionado, o que equivale a quase dez colheres de chá. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o consumo máximo de seis colheres de chá de açúcar adicionado por dia. Ao beber apenas uma porção dessa bebida, uma pessoa facilmente excederá essa quantidade.
Em 2015, o farmacêutico britânico Niraj Naik no blog The Renegade Pharmacist destacou os danos que uma lata de Coca-Cola pode causar ao corpo em apenas uma hora após ser consumida. Seu argumento foi baseado em um artigo escrito pela divulgadora de saúde Wade Meredith.
De acordo com Naik, a doçura intensa da Coca-Cola devido ao seu alto teor de açúcar deveria fazer uma pessoa desengoli-la imediatamente após entrar em contato com o organismo. No entanto, o ácido fosfórico presente na formulação diminui o dulçor, permitindo que os indivíduos mantenham a bebida no estômago.
Os níveis de açúcar no sangue aumentam drasticamente vinte minutos depois de ingeri-la, causando um aumento vertiginoso do hormônio insulina. O fígado, por sua vez, transforma as altas quantidades de glicose em gordura. Dito isso, o consumo regular dessa bebida pode elevar os níveis de triglicerídeos, caracterizando uma hipertrigliceridemia. O xarope de milho com alto teor de frutose, um dos ingredientes da sua composição, é encontrado em praticamente todos os alimentos ultra processados, como refeições prontas, fast foods, doces e outros refrigerantes, e a maioria das pessoas desconhece completamente seus efeitos deletérios à saúde.
Dentro de quarenta minutos, o corpo terá absorvido toda a cafeína da Coca-Cola. Essa substância faz com que as pupilas se dilatem e a pressão arterial aumente. A essa altura, o refrigerante bloqueará os receptores de adenosina no cérebro, deixando seu consumidor alerta e hiper-reativo.
Apenas cinco minutos após o consumo, a produção de dopamina aumentará. A dopamina é um neurotransmissor que auxilia na regulação dos centros de prazer e recompensa do cérebro. A forma como a Coca-Cola estimula esse circuito é comparável aos efeitos da heroína, desencadeando um desejo incontido de consumir mais refrigerante.
Uma hora depois de ingeri-la, será iniciada a redução dos níveis de glicose sérica, causando irritabilidade. O corpo também terá eliminado a água contida na bebida através da urina, juntamente com nutrientes essenciais. Esse raciocínio se aplica não apenas à Coca-Cola, mas a todos os refrigerantes que contêm cafeína.
Em 2018, uma mini revisão da literatura publicada na Cureus indicou mais caminhos pelos quais as bebidas açucaradas podem afetar a saúde: os autores examinaram as repercussões das preparações adoçadas com açúcar para o cérebro. Compreendeu-se que esses produtos aumentavam os níveis de certos compostos e substâncias químicas que interferiam na atividade cerebral, impulsionando o risco de acidentes vasculares cerebrais e demência.
Os cientistas também mostraram que a ingestão regular de bebidas açucaradas pode afetar a qualidade e a duração do ciclo do sono de seus consumidores. Alguns compostos também exibiram reverberações lesivas à memória e coordenação motora, o que pode contribuir para o desenvolvimento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em crianças.
De outra parte, em 2018, os autores de uma investigação divulgada pelo periódico Nutrition envolvendo 2.019 participantes identificaram que não podiam descartar o consumo de refrigerantes dietéticos como fator de risco para diabetes. Eles observam que suas revelações apoiavam a sugestão de que bebidas adoçadas artificialmente, como algumas versões da Coca-Cola, desempenham um papel relevante no desenvolvimento dessa doença crônica.
Um estudo realizado com ratos em 2016 e publicado na Molecular Medicine Reports, mostrou que os roedores consumidores de Coca-Cola apresentavam sinais de diminuição da função renal e hepática em comparação aos não bebedores desse refrigerante.
No entanto, muitas das pesquisas realizadas sobre esse produto foram conduzidas em camundongos. A extensão completa dos efeitos dessas bebidas em organismos humanos ainda não foi totalmente identificada.
O que sabemos é que Coca-Cola é isso aí: um produto industrializado e ultraprocessado portador de ativos químicos que, individualmente, estão diretamente relacionados a vários problemas de saúde. Tanto na versão tradicional quanto na dietética, o consumo excessivo pode contribuir para o aumento de peso e suas consequências. No entanto, ingerir uma pequena quantidade ocasionalmente não trará grandes prejuízos. Como em todas as coisas da vida, a chave está na moderação!
*Clayton Camargos é pós graduado pela Fiocruz, ex-Coordenador Nacional de Promoção da Saúde da Fundação de Seguridade Social, Subsecretário de Saúde do DF, professor da UCB e atualmente proprietário da clínica Metafísicos.