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Saúde e nutrição com Clayton Camargos: churrasco de cachorro e gato

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Donald Trump: “In Springfield they’re eating the dogs. “They’re eating the cats. They’re eating … the pets of the people that live there. And this is what’s happening in our country, and it’s a shame.”

Como uma alegação estapafúrdia sobre imigrantes comendo animais de estimação tornou-se chacota em todo o mundo?

Vamos lá! Recentemente, no debate com os candidatos à presidência dos Estados Unidos, um dos debatedores, o ex-presidente Donald Trump, fez as alegações retrocitadas que, em livre tradução: “em Springfield, eles estão comendo os cachorros”, referindo-se a uma cidade de Ohio que está lidando com um influxo de imigrantes haitianos. “Eles estão comendo os gatos. Eles estão comendo… os animais de estimação das pessoas que vivem lá. E é isso que está acontecendo em nosso país, e é uma vergonha.”

O momento extraordinário – a transmissão de uma fake news em cadeia global enquanto participava de um debate presidencial no horário nobre da TV estadunidense – provavelmente intrigou a maioria dos milhares de pessoas sintonizadas para o confronto de Trump com a atual vice-presidente Kamala Harris. Mas o boato, que foi criticado por perpetuar tropos racistas, já estava prosperando e sendo amplificado pelos “trumpistas”.

Clique aqui para assistir o trecho com essa performance, no mínimo curiosa, do ex-presidente estadunidense.

Claro que se trata de uma ficção maluca. Uma balbúrdia. Nos Estados Unidos, e em vários países, a comercialização e o consumo de carnes de cachorros e gatos é ilegal.

A prática de comer cães e gatos se tornou menos comum à medida que aumenta o número de animais de estimação, e as novas gerações têm atitudes diferentes em relação ao consumo de animais domésticos.

De outra parte, de acordo com a Humane Society International, estima-se que 30 milhões de cães na Ásia, incluindo animais de estimação roubados, ainda sejam mortos para consumo humano todos os anos. Embora não seja muito difundida, a instituição de caridade diz que a prática é mais comum na China, Coreia do Sul, Filipinas, Tailândia, Laos, Vietnã, Camboja e na região de Nagaland, na Índia.

Embora seja difícil obter números precisos, acredita-se que a China seja responsável pela maioria dos casos globais de abate de cães e gatos. A cada ano, cerca de 4 milhões de gatos e 10 milhões de cães são mortos no país. A Humane Society diz que a maioria são animais de estimação roubados e vira-latas que são capturados e mantidos em gaiolas. A tradição de comer cães remonta a milhares de anos, embora eles sejam frequentemente mantidos como animais de estimação.

Todo ano, em junho, a cidade de Yulin, no sul da China, sedia um festival de carnes canina e gatina, onde cães e gatos vivos são vendidos especificamente para consumo e estima-se que 10.000 sejam abatidos para obter sua carne. De toda sorte, no ano passado houve grandes protestos contra o festival tanto na China quanto no Ocidente.

Na Coreia do Sul, pratos de carne de cachorro são tão comuns que têm seu próprio nome: Gaegogi. Segundo a Humane Society, o país tem cerca de 17.000 fazendas de cães, onde os animais são rotineiramente preparados para consumo humano. Entretanto, assim como em outros países, a pressão de grupos de assistência social está impactando. Em janeiro, o parlamento desse país aprovou um projeto de lei que proíbe a criação e o abate de cães para consumo, encerrando a prática tradicional, mas controversa, de comer carne de cachorro, após anos de debate nacional.

No Brasil ocorre uma situação semelhante a sul-coreana e, infelizmente, ainda não regulamos definitivamente essa proibição; o que não significa que isso seja ético e moralmente aceitável pela nossa sociedade. Aqui temos a aprovação de Projeto de Lei 3.017/19 do deputado cearense Célio Studart (PSD) que interdita a comercialização de carnes de cães e gatos. Entretanto, tramita em caráter conclusivo após ser analisado pelas comissões de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços; de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Da dimensão nutricional: tanto a carne de cachorro quanto a de gato são fontes de proteína, semelhantes a outras como bovina, de aves ou suína. O valor nutricional dependeria de fatores como a dieta do animal, idade e método de preparação.

Além do fato de que matadouros de cães serem ilegais e que cães e bichanos são mortos da forma mais cruel; as carnes desses animais podem realmente deixar você muito doente. E não há nenhuma evidência científica ou de outro tipo para quaisquer benefícios à saúde.

Os cães e gatos são coletados e transportados em pequenas gaiolas para matadouros ou restaurantes. Eles geralmente são mantidos sem água e comida e alguns animais não resistem ao transporte. Eles morrem de asfixia, desidratação e ferimentos. Os sobreviventes são assassinados da forma mais cruel, causando dor e sofrimento. Eles lutam por suas vidas por até 30 minutos antes de finalmente morrerem. As abordagens típicas de abate são:

• golpe na cabeça;
• afogamento em massa;
• estrangulamento.

Mitos dos benefícios para saúde humana a partir do consumo das carnes desses animais:

1. Carnes de cachorro e gato curam e auxiliam na recuperação de doenças;

2. É mais saudável do que outras carnes porque não contém antibióticos;

3. Carne de cachorro aquece o corpo;

4. É um elixir reparador para mulheres grávidas e que acabaram de dar à luz;

5. Carne de cachorro deixa você mais másculo, e a de gato mais erótico e sedutor – uma verdadeira sensualidade felina.

Os riscos para a saúde:

Raiva. Há uma taxa alarmante de cães e gatos infectados com raiva em matadouros e mercados marginais. Carnes de cachorros e gatos representam enormes perigos para aqueles que capturam, abatem e comem esses animais.

Outras doenças. Carnes de cão e gato infectadas com o parasita Trichinella pode colocar a segurança dos consumidores em risco. A cólera também é facilmente disseminada pelo processo de transporte em massa e abate dos animais para consumo.

Veneno. Um dos métodos para abater cães e gatos é envenená-los. O veneno permanece no animal e pode potencialmente matar a pessoa que come a sua carne.

Hipoteticamente, imagine a seguinte cena: o seu Lulu da Pomerânia desapareceu, e quando você vai a uma celebração na casa de amigos o encontra na grelha girando no espeto de churrasco, como um “Lulu no rolete”! É chocante, para dizer o mínimo. Entendo que essas informações podem ser desconfortáveis e perturbadoras. Sinto exatamente o mesmo. E é justamente por isso que não se deve argumentar um conteúdo tão constrangedor, que envolve desde questões culturais milenares até práticas mafiosas, como uma anedota – de mal gosto. Você pode pensar que é apenas um indivíduo e que não tem poder algum. O oposto é verdade!

a. Compartilhe essas informações com seus amigos e familiares;

b. Não compre nem coma carne de cachorro ou de gato;

c. Não adquira e tampouco consuma carnes em ambientes suspeitos, cujas procedências dos produtos sejam desconhecidas, inseguras e as regras sanitárias não estejam sendo obedecidas. Ao desconfiar, solicite as credenciais que habilitam o serviço para o exercício daquela atividade, e os registros correspondentes às carnes comercializadas, ao perceber alguma irregularidade denuncie para a representação local da vigilância sanitária e para a delegacia de crimes ambientais ou unidade convergente;

d. Apoie o bem-estar animal por meio de voluntariado, doações e conscientização;

e. Esterilize e castre seus cães e gatos de estimação para evitar filhotes indesejados.

Informação é prevenção. Você tem alguma dúvida sobre saúde, alimentação e nutrição? Envie um e-mail para dr.clayton@metafisicos.com.br e poderei responder sua pergunta futuramente. Nenhum conteúdo desta coluna, independentemente da data, deve ser usado como substituto de uma consulta com um profissional de saúde qualificado e devidamente registrado no seu Conselho de Categoria correspondente.

Clayton Camargos é sanitarista pós-graduado pela Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP/Fiocruz. Desde 2002, ex-gerente da Central Nacional de Regulação de Alta Complexidade (CNRAC) do Ministério da Saúde. Subsecretário de Planejamento em Saúde (SUPLAN) da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Consultor técnico para Coordenação-Geral de Fomento à Pesquisa Em Saúde da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde. Coordenador Nacional de Promoção da Saúde (COPROM) da Diretoria de Serviços (DISER) da Fundação de Seguridade Social. Docente das graduações de Medicina, Nutrição e Educação Física, e coordenador dos estágios supervisionados em nutrição clínica e em nutrição esportiva do Departamento de Nutrição, e diretor do curso sequencial de Vigilância Sanitária da Universidade Católica de Brasília (UCB). Atualmente é proprietário da clínica Metafísicos.
CRN-1 2970.

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