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Saúde e nutrição com Clayton Camargos: “chocolate-se”!

Chocolate é um alimento ancestral, simbólico e afetivo - mas também pode ser funcional, quando escolhido com critério

A Páscoa é uma celebração que transcende fronteiras e culturas, marcada por registros que carregam significados profundos. Entre eles, o chocolate destaca-se como protagonista, especialmente na forma de ovos decorados. Mas como essa iguaria se tornou sinônimo da festividade? E como podemos apreciá-la de maneira equilibrada e consciente? Vamos explorar essa doce jornada!

Muito antes do chocolate entrar em cena, o ovo já era um símbolo poderoso de renovação. Civilizações antigas, como egípcios, persas e romanos, associavam o ovo ao renascimento e à fertilidade, celebrando o equinócio da primavera com a troca de ovos decorados. Com o advento do Cristianismo, o ovo passou a representar a ressurreição de Cristo, integrando-se às tradições pascais.

Originário das Américas, o cacau era considerado sagrado por povos como os maias e astecas, que o utilizavam em rituais e como moeda. Com a chegada dos europeus, o cacau foi levado ao Velho Continente, onde, no século XVIII, confeiteiros franceses começaram a produzir ovos de chocolate, inicialmente recheando cascas de ovos com a iguaria. Com o tempo, os ovos passaram a ser moldados inteiramente em chocolate, tornando-se uma tradição que perdura até hoje.

A celebração da Páscoa varia globalmente, mas o chocolate é uma constante. Na Europa Oriental, ovos são pintados com cores vibrantes, enquanto na França e na Inglaterra, a tradição dos ovos de chocolate se consolidou no século XIX. No Brasil, a prática foi adotada com entusiasmo, tornando-se uma das principais datas para a indústria chocolatière.

No Brasil, o chocolate ao leite lidera as preferências durante a Páscoa, seguido pelos chocolates recheados e os ovos de colher. Em 2024, cerca de 44% dos lares brasileiros adquiriram chocolates no período, com destaque para barras e caixas de bombons, que representaram 45,3% do volume total de vendas.

A Páscoa de 2025 trouxe consigo um aumento significativo nos preços dos ovos de chocolate. Em comparação a 2024, os preços subiram em média 9,5%, com alguns produtos registrando aumentos de até 27%. Fatores como a alta no preço do cacau e custos de produção sazonal contribuíram para esse cenário.

Para celebrar a Páscoa de forma equilibrada e econômica, considere:

  • Optar por chocolates em barra ou bombons, que geralmente têm melhor custo-benefício.
  • Preparar ovos caseiros, controlando ingredientes e porções.
  • Escolher chocolates com maior teor de cacau, que oferecem benefícios à saúde.
  • Compartilhar os ovos, promovendo moderação no consumo.

Nem todos os ovos de Páscoa são iguais. Ovos com alto teor de cacau, ≥ 70%, são ricos em antioxidantes e podem trazer benefícios à saúde cardiovascular. Por outro lado, ovos com recheios açucarados e coberturas coloridas tendem a ser mais calóricos e menos nutritivos. A moderação é essencial para equilibrar prazer e bem-estar.

Ao nos debruçarmos sobre os rótulos, percebemos que há mais em um ovo de chocolate do que a forma oca pode sugerir. O teor de cacau não apenas altera o sabor – mais intenso, amargo e complexo – como redefine seu valor nutricional.

Comparativo Nutricional: Chocolate ao Leite x Chocolate 70% Cacau

Tipo de Chocolate

Calorias

Açúcares Totais

Proteínas totais

Gorduras Totais

Teor de Cacau

Ferro (mg)

 Magnésio (mg)

Polifenóis**

Ao Leite (30g)

160 kcal

15 g

7,3 g

9 g

25-40%

0,5 mg

65 mg

Baixo

70% Cacau (30g)

130 kcal

6 g

7,9 g

11 g

≥70%

2,1 mg

20 mg

Alto

*Fonte: TACO/NEPA-UNICAM; USDA Food Data Central

**Fonte: Journal of Agricultural and Food Chemistry (2011); British Journal of Nutrition (2017)

Enquanto o chocolate ao leite entrega prazer imediato, textura suave e doçura acentuada, seu contraponto com maior concentração de cacau destaca-se pela riqueza em flavonoides, magnésio, ferro e compostos bioativos antioxidantes, os quais demonstram efeitos positivos na saúde cardiovascular, na modulação do humor, e até na melhora da sensibilidade à insulina.

Além disso, o chocolate com 70% ou mais de cacau geralmente contém menos açúcar, sim – mas isso não é uma regra absoluta. O que determina a presença ou não de açúcares em excesso é a formulação industrial: alguns chocolates amargos são adoçados com maltitol, xilitol ou até mesmo açúcar refinado em grandes quantidades, para mascarar o amargor. Ou seja, um chocolate dark” nem sempre é sinônimo de baixo índice glicêmico ou de saúde ideal.

Por isso, a leitura atenta do rótulo é imprescindível. Verifique a ordem dos ingredientes: se o açúcar” vem antes do cacau”, isso já é um indício de que o produto pode não ser tão saudável quanto a embalagem sugere.

Qual é a melhor indicação?

  • Para quem busca benefícios à saúde, o ideal são chocolates com ≥ 70% de cacau, em quantidades moderadas (até 30 g por dia), preferencialmente com pouco ou nenhum açúcar adicionado.
  • Para diabéticos ou pessoas com resistência à insulina, há versões com adoçantes naturais de baixo índice glicêmico, como eritritol ou estévia.
  • Já os chocolates com menor teor de cacau e recheios cremosos, embora deliciosos, devem ser considerados guloseimas esporádicas, devido à sua alta carga glicêmica e densidade energética.

O chocolate é um alimento ancestral, simbólico e afetivo – mas também pode ser funcional, quando escolhido com critério. A chave está na qualidade dos ingredientes, teor de cacau, e sobretudo na moderação. Afinal, mais do que nos empanturrarmos, a ideia é – com sabedoria, elegância e equilíbrio – chocolatear-se com prazer.

Informação é prevenção. Você tem alguma dúvida sobre saúde, alimentação e nutrição? Envie um e-mail para dr.clayton@metafisicos.com.br e poderei responder sua pergunta futuramente. Nenhum conteúdo desta coluna, independentemente da data, deve ser usado como substituto de uma consulta com um profissional de saúde qualificado e devidamente registrado no seu Conselho de Categoria correspondente.

 

*Clayton Camargos é sanitarista pós-graduado pela Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP/Fiocruz. Desde 2002, ex-gerente da Central Nacional de Regulação de Alta Complexidade (CNRAC) do Ministério da Saúde. Subsecretário de Planejamento em Saúde (SUPLAN) da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Consultor técnico para Coordenação-Geral de Fomento à Pesquisa Em Saúde da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde. Coordenador Nacional de Promoção da Saúde (COPROM) da Diretoria de Serviços (DISER) da Fundação de Seguridade Social. Docente das graduações de Medicina, Nutrição e Educação Física, e coordenador dos estágios supervisionados em nutrição clínica e em nutrição esportiva do Departamento de Nutrição, e diretor do curso sequencial de Vigilância Sanitária da Universidade Católica de Brasília (UCB). Atualmente é proprietário da clínica Metafísicos.

CRN-1 2970.

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