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Saúde e nutrição com Clayton Camargos: ansiedade e obesidade

Essa interação ocorre por diversos fatores, incluindo alterações hormonais

A relação entre ansiedade e ganho de peso tem sido amplamente estudada pela ciência, e os resultados apontam para um ciclo bidirecional: a ansiedade pode levar ao aumento de peso, e o ganho de peso pode, por sua vez, agravar os quadros ansiosos. Essa interação ocorre por diversos fatores, incluindo alterações hormonais, mudanças comportamentais e até mesmo aspectos sociais e emocionais.  

A ansiedade e o impacto no metabolismo

A ansiedade é uma resposta natural do organismo ao estresse, envolvendo a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA). Quando o corpo percebe uma ameaça, libera hormônios como o cortisol, que desempenha um papel crucial na regulação do metabolismo.  

Estudos demonstram que níveis elevados e prolongados de cortisol podem levar ao acúmulo de gordura abdominal e ao aumento do apetite, especialmente por alimentos ricos em açúcar e gordura. Segundo a pesquisa de Epel e colaboradores*, publicada na Proceedings of the National Academy of Sciences,  indivíduos sob estresse crônico tendem a consumir mais calorias e armazenar gordura na região central do corpo, um fator de risco para doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2.  

*https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/11020091/

Alimentação emocional e escolhas nutricionais

A ansiedade frequentemente desencadeia a chamada “fome emocional”, um mecanismo compensatório que leva à busca por alimentos altamente calóricos para aliviar sentimentos de tensão e angústia. Uma revisão publicada no Journal of Health Psychology* mostrou que indivíduos ansiosos são mais propensos a episódios de compulsão alimentar, especialmente em resposta a eventos estressantes.  

*https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17543357/

Além disso, alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares refinados, tendem a provocar picos e quedas bruscas nos níveis de glicose, o que pode intensificar os sintomas de ansiedade. Esse ciclo cria uma dependência fisiológica e psicológica do consumo de certos tipos de alimentos, reforçando o ganho de peso.  

O impacto do excesso de peso na saúde mental

O aumento de peso pode, por sua vez, gerar um impacto negativo na saúde mental, ampliando sintomas ansiosos. O estigma social associado ao sobrepeso e à obesidade pode levar à baixa autoestima e ao isolamento social, fatores que intensificam quadros de ansiedade.  

Um estudo publicado na Obesity Reviews* analisou a relação entre obesidade e transtornos psiquiátricos e concluiu que indivíduos com excesso de peso têm um risco significativamente maior de desenvolver ansiedade e depressão ao longo da vida.  

*https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20194822/

Outro ponto relevante é que a obesidade pode afetar a produção de neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, fundamentais para o equilíbrio emocional. A literatura sugere que a inflamação sistêmica, comum em pessoas com obesidade, pode afetar a função cerebral e contribuir para sintomas ansiosos e depressivos*. 

*https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26711676/

Quebrando o ciclo: estratégias para equilíbrio 

Embora a relação entre ansiedade e ganho de peso seja complexa, algumas estratégias podem ajudar a interromper esse ciclo:  

1. Alimentação Equilibrada – Priorizar alimentos ricos em triptofano (como banana, aveia e oleaginosas) pode auxiliar na produção de serotonina. Além disso, uma dieta baseada em vegetais, proteínas magras e gorduras saudáveis, pode melhorar tanto a saúde mental quanto o metabolismo.  

2. Atividade Física Regular – Exercícios aeróbicos e treinos de resistência demonstraram reduzir os níveis de cortisol e aumentar a liberação de endorfinas, substâncias que promovem bem-estar e auxiliam no controle da ansiedade*.

*https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28088704/

3. Terapia e Técnicas de Controle do Estresse – A psicoterapia cognitivo-comportamental (TCC) tem mostrado eficácia na redução da fome emocional e da compulsão alimentar. Além disso, técnicas de mindfulness e meditação podem ajudar a reduzir os níveis de estresse e melhorar a relação com a comida.  

4. Higiene do Sono – A privação de sono está diretamente ligada ao aumento da ansiedade e ao descontrole alimentar. Garantir uma rotina de sono adequada pode contribuir para o equilíbrio hormonal e emocional.  

A conexão entre ansiedade e ganho de peso é multifatorial e envolve tanto aspectos biológicos quanto comportamentais. Romper esse ciclo exige uma abordagem integrada, combinando alimentação saudável, exercícios físicos, estratégias de regulação emocional e, quando necessário, suporte profissional.  

Investir em bem-estar mental e físico não apenas reduz o impacto da ansiedade sobre o peso, mas melhora a qualidade de vida como um todo. Afinal, corpo e mente caminham juntos – e cuidar de um significa, inevitavelmente, cuidar do outro.  

Informação é prevenção. Você tem alguma dúvida sobre saúde, alimentação e nutrição? Envie um e-mail para dr.clayton@metafisicos.com.br e poderei responder sua pergunta futuramente. Nenhum conteúdo desta coluna, independentemente da data, deve ser usado como substituto de uma consulta com um profissional de saúde qualificado e devidamente registrado no seu Conselho de Categoria correspondente.

 

Clayton Camargos é sanitarista pós graduado pela Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP/Fiocruz. Desde 2002, ex gerente da Central Nacional de Regulação de Alta Complexidade (CNRAC) do Ministério da Saúde. Subsecretário de  Planejamento em Saúde (SUPLAN) da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Consultor técnico para Coordenação-Geral de Fomento à Pesquisa Em Saúde da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde. Coordenador Nacional de Promoção da Saúde (COPROM) da Diretoria de Serviços (DISER) da Fundação de Seguridade Social. Docente das graduações de Medicina, Nutrição e Educação Física, e coordenador dos estágios supervisionados em nutrição clínica e em nutrição esportiva do Departamento de Nutrição, e diretor do curso sequencial de Vigilância Sanitária da Universidade Católica de Brasília (UCB). Atualmente é proprietário da clínica Metafísicos.

CRN-1 2970.

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