Embora as escolas de samba contem com a participação feminina, a estrutura do Carnaval ainda é dominada por homens. No entanto, algumas mulheres desafiaram essa tradição e conquistaram espaços de liderança, rompendo barreiras em um universo historicamente masculino. A historiadora Ana Maria dos Santos destaca que por muito tempo as mulheres foram limitadas a funções secundárias, mas a partir da segunda metade do século XX pioneiras começaram a ocupar cargos estratégicos.
“A participação feminina ganhou força principalmente nos anos 1970 e 1980, quando mulheres começaram a atuar como carnavalescas, compositoras e até presidentes de escolas de samba. Esse avanço se deu graças à luta dessas mulheres por reconhecimento e à transformação social que possibilitou maior participação feminina em diversos setores”, explica a historiadora.
As mulheres estavam presentes desde os primeiros desfiles das escolas de samba, sendo responsáveis pela confecção de fantasias, pela organização dos desfiles e pela dança. “Elas não tinham espaço para tomar decisões estratégicas. A primeira mulher a ganhar grande destaque no Carnaval foi Dona Ivone Lara, que, na década de 1960, se tornou a primeira mulher a assinar um samba-enredo. Com o tempo, outras começaram a conquistar espaço como carnavalescas e dirigentes, mas foi um processo lento e cheio de barreiras”, esclarece Ana Maria.
Além de Dona Ivone Lara, outras mulheres desempenharam papéis fundamentais na história do Carnaval. Rosa Magalhães: uma das primeiras carnavalescas a comandar desfiles e criar enredos que marcaram a história. Ela se tornou uma referência no Carnaval do Rio de Janeiro, sendo responsável por diversos desfiles vencedores. Lícia Lacerda: teve um papel de destaque como diretora de bateria, uma função tradicionalmente dominada por homens. Tia Ciata: não foi líder de escola de samba, mas teve um papel fundamental na disseminação do samba no Brasil, sendo uma das grandes influências para o surgimento do Carnaval como conhecemos hoje.
A historiadora comenta que essas mulheres foram fundamentais para quebrar barreiras e abrir caminhos para futuras gerações de carnavalescas, compositoras e dirigentes. Somente a partir das décadas de 1980 e 1990 é que as mulheres começaram a ser reconhecidas como líderes dentro do Carnaval. O clássico “Os Cinco Bailes da História do Rio”, de Dona Ivone para o Império Serrano, marcou uma virada simbólica: uma mulher, em um espaço até então, 100% dominado por homens e abriu caminho para novas gerações femininas de destaque no samba. Atualmente, quatro mulheres têm papel de destaque nas escolas de samba e o GPS|Brasília te conta quem são elas.
Guanayra Firmino
Aos 58 anos, Guanayra Firmino se tornou a primeira mulher a assumir a gestão do Carnaval da Mangueira, em 2022. Criada no Morro da Mangueira, ela carrega no sangue a tradição do samba: seu bisavô, Júlio Dias Moreira, presidiu a agremiação entre 1935 e 1937, enquanto seus pais, Emergenilda Dias Moreira, atual presidente da Velha Guarda, e Roberto Firmino, ex-presidente (1992-1995), dedicaram suas vidas à escola.
A Estação Primeira de Mangueira foi fundada em 1928 e já ganhou 20 carnavais do Rio de Janeiro. É a segunda escola de samba mais vitoriosa do Rio, atrás apenas da Portela. Sua última conquista foi em 2019. A agremiação teve três bicampeonatos ao longo da história: em 1932 e 1933, em 1967 e 1968, e em 1986 e 1987. Neste ano, junto com Guanayra, a escola foi mais uma vez destaque neste Carnaval.
Solange Cruz
À frente da Mocidade Alegre há duas décadas, Solange Cruz se tornou um dos maiores símbolos do Carnaval paulistano. Conhecida por segurar um terço durante as apurações, a presidente carrega no coração o legado da escola fundada por seu pai e tios. Em sua estreia como líder, em 2004, a agremiação conquistou um título marcante, repetindo o feito em 2023. Neste Carnaval, a Mocidade Alegre desfila como atual campeã com o enredo “Quem não pode com mandinga não carrega patuá”, destacando a tradição e a espiritualidade.
A Mocidade Alegre, fundada em 24 de setembro de 1967 no bairro do Limão, consolidou-se como uma das escolas de samba mais vitoriosas do Carnaval de São Paulo. Com 12 títulos, a maioria conquistada a partir dos anos 2000, a agremiação é a atual campeã e mantém sua tradição de desfiles marcantes e enredos envolventes. Em terceiro lugar no ranking de títulos, a Nenê de Vila Matilde soma 11 conquistas, sendo oito delas entre as décadas de 1950 e 1960, período em que dominou o cenário carnavalesco paulistano.
Angelina Basílio
Filha de Eduardo Basílio, fundador da Rosas de Ouro, Angelina Basílio assumiu a presidência da escola em 2004, dando continuidade ao legado do pai. Com uma história que começou nos desfiles como porta-bandeira e destaque de ala, ela enfrentou desafios e preconceitos ao longo da vida. Neste Carnaval de 2025, pode celebrar a vitória da Rosas de Ouro com emoção, após uma apuração acirrada que garantiu o primeiro título da escola desde 2010.
A escola de samba Rosas de Ouro, fundada em 18 de outubro de 1971 na Brasilândia, quebrou um jejum de 15 anos e conquistou o título do Carnaval de São Paulo neste ano de 2025. A vitória veio após uma apuração acirrada, decidida apenas na última nota, reforçando a tradição da agremiação, que não vencia desde 2010. Sexta a desfilar na primeira noite de apresentações no Sambódromo do Anhembi, a Rosas de Ouro brilhou na avenida e voltou ao topo do Carnaval paulistano.
Cátia Drumond
Seguindo os passos do pai, Luizinho Drumond, Cátia Drumond conquistou, em 2025, seu primeiro título como presidente da Imperatriz Leopoldinense, coroando sua gestão com um desfile vitorioso. Envolvida na escola desde jovem, já atuou como secretária e chefe do setor de compras, tornando sua ascensão à presidência um “processo natural”, como ela mesma define. Reeleita por aclamação, Cátia seguirá à frente da agremiação até 2027, mantendo vivo o legado da família.
Fundada em 6 de março de 1959 no bairro de Ramos, no Rio de Janeiro, a Imperatriz Leopoldinense é uma das mais tradicionais escolas de samba do Carnaval carioca. Com nove títulos no Grupo Especial, a agremiação também brilhou no Estandarte de Ouro de 2024, conquistando prêmios em cinco categorias, incluindo melhor samba-enredo e melhor ala. Além de sua trajetória vitoriosa na elite do samba, a escola também acumula conquistas nas divisões de acesso, sendo campeã da segunda divisão em 2020 e da terceira em 1961.