O renomado médico ortopedista especializado em cirurgia robótica da coluna, Rodrigo Lima, compartilhou em uma entrevista à colunista do GPS Brasília, Paula Santana, a inspiradora história de vida. Originário de família humilde, ele enfrentou desafios desde cedo, mas a perseverança e o apoio familiar foram fundamentais para superar as dificuldades.
Rodrigo sempre teve o estudo como prioridade, seguindo o conselho do pai, que trabalhava arduamente para garantir que seus filhos tivessem acesso à educação. Mesmo estudando em escolas públicas, ele se destacou academicamente. Aos poucos, seu sonho de cursar medicina tomou forma.
Durante a faculdade, Rodrigo considerou ser cardiologista. No entanto, a influência do médico Ricardo Frade no quinto ano da faculdade revelou a ortopedia como uma arte de reconstrução para ele, levando-o a escolher essa área para atuar.
Leia mais sobre essa história na entrevista abaixo:
Brasília é uma das uma das precursoras da cirurgia robótica e você integra um seleto grupo à frente disso tudo. Como começou essa sua trajetória? (GPS)
“Foi uma jornada longa. O curso de medicina, por si só, para chegar à formação é um tempo longo. São, no mínimo, 10 anos de dedicação. E o começo não foi nada fácil. Para surpresa de muita gente, a minha origem foi muito humilde. Quando eu era pequeno, tinha que ir para casa do vizinho para poder assistir televisão. Certamente uma estrutura familiar grande foi o que proporcionou a gente evoluir, principalmente, como ser humano. Nunca houve aquela mentalidade de desistir e de se conformar com o que tínhamos. A gente aprendeu a lutar e isso foi o aprendizado que meu pai e minha mãe me transmitiram. Por mais difícil que seja o caminho, a gente conseguir trilhar.” (Rodrigo Lima)
Você começou a trabalhar muito cedo? Teve aquela vida dupla de estudante e trabalhador?
“O estudo sempre foi a prioridade. Meu pai sempre falava que iria trabalhar o máximo que podia para que os filhos estudassem. Então, o foco era estudar. Nada poderia atrapalhar os estudos. Então, assim, eu sempre fui dedicado na escola e tinha notas boas.”
Você já enxergou desde cedo que o estudo seria a sua ponte de acesso a uma vida nova?
“Muitas vezes, a gente aprende com os bons exemplos, mas em alguns casos a gente também aprende com o exemplo ruim. Por exemplo, meu pai só teve o primário e ele falava que nós não poderíamos ser iguais a ele, que não teve condições de estudar. Ou você nasce com muitos patrimônios, com todas as condições, e chega a um caminhão que está ali na frente, ou você tem que se agarrar alguma coisa e construir a partir daquilo. E a única coisa que a gente tinha para se agarrar era nos estudos. Então, o estudo era levado muito a sério. No segundo grau, eu já fazia um curso de eletrotécnica já pensando em ter uma profissão, um emprego.”
Você sempre estudou em escolas públicas?
“Sempre estudei em escola pública, porque eu não tinha condições na época de estudar em colégio particular. A escola pública em Brasília tem uma boa estrutura. Mas,quando você compete com o ensino privado, a diferença é muito grande, ainda é muito desleal, então, você tem que remar muito para poder pelo menos chegar perto. Mas como fiz um curso de eletrotécnica já tinha uma profissão e, assim que eu terminei meu segundo grau, comecei a estagiar na Companhia Energética de Brasília (CEB). Eu acreditava que iria fazer engenharia elétrica, mas ao longo de seis meses vi que não era o que eu queria. Uma empresa queria me contratar e me ofereceram um salário bom para a época, mas pensei que esse emprego não iria me levar onde eu queria chegar. Cheguei em casa e falei ao meu pai que me ofereceram um emprego, mas eu não queria aceitar. Eu queria que ele pagasse um cursinho de pré-vestibular para medicina. Ele não acreditou. Primeiro, pela dificuldade em ser aprovado no curso de medicina e segundo que na família não tem médico. Então, assim, não é uma tradição.”
E como surgiu esse sonho de ser médico?
“Durante a minha adolescência eu participei da Pastoral da Criança na igreja da comunidade. Então, já tive esse primeiro contato. Era um serviço voluntário e aquilo me trazia muita paz, muita alegria. Era bom servir as pessoas. Então, dali que surgiu esse start. Eu vou fazer medicina. Como que eu iria fazer? Não sabia, mas eu vou fazer medicina. Então, meu pai pagou para mim um cursinho. Durante seis meses, estudava das 7h até meia noite todos os dias. Era uma maratona. Enquanto amigos estavam saindo, se divertindo, eu me dedicava. Nos primeiros seis meses, fui fazer as primeiras provas, não passei em nada. Pensei: Meu Deus do céu, que escolha que eu fiz! Me dei mal.”
Depois disso, como você conseguiu se manter nesse caminho?
“Disse ao meu pai que eu não passei, mas pedi que pagasse mais seis meses. Ele falou estava muito caro e não tem condições. Nessa época, teve uma prova para ganhar bolsa de estudos durante o cursinho. Tinham quatro bolsas de 50% e 28 bolsas de 25%. Pensei que se eu conseguisse ser aprovado numa dessas de 25% de desconto, conseguiria negociar mais seis meses, mas me ligaram e disseram que eu consegui 50%. Eu nem conversei com o meu pai e disse pode fechar. Fiz prova em na Universidade Federal de Goiânia, em Brasília, na Universidade de Brasília e na Escola Superior de Ciências da Saúde. Passei em todas.”
Obviamente, você teve acesso em sua residência médica a todos esses hospitais públicos, que são uma grande escola, o que deve ter contribuído para uma enorme experiência, mas como você escolheu a ortopedia?
“ Durante a faculdade, eu não sabia em qual área iria me especializar. Pensei em cardiologia, mas no quinto ano o médico Ricardo Frade me mostrou que a ortopedia é uma arte de reconstrução.”