O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), foi reeleito neste domingo (27) e vai comandar a administração da maior metrópole da América Latina por mais quatro anos. Em seu discurso de vitória, o prefeito reeleito afirmou que o equilíbrio venceu e agradeceu o apoio que do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O triunfo de Nunes constitui uma conquista ampliada, nestas eleições municipais, dos partidos que representam a centro-direita no Brasil. Além disso, consolida um cenário em que os prefeitos predominaram nas tentativas de reeleição: somente nas capitais, os atuais mandatários conquistaram novos mandatos em 16 das 20 capitais onde disputaram.
Logo em suas primeiras palavras como prefeito reeleito, Nunes agradeceu ao governador Tarcísio de Freitas, a quem chamou de “líder maior que me deu a mão na hora mais difícil”.
“Agradeço ao líder maior, sem o qual esta vitória não seria possível. Eu queria voltar a repetir, eu agradeço ao líder maior sem o qual nós não teríamos esta vitória, o meu amigo, que me deu a mão na hora mais difícil, governador Tarcísio de Freitas”, afirmou Nunes. Tarcísio atuou como seu principal cabo eleitoral na ausência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante sua campanha.
Sem mencionar o nome do candidato derrotado do PSOL, o prefeito disse que “a democracia deixou uma grande lição para nós, para a cidade de São Paulo e deixou uma lição para o Brasil. O equilíbrio venceu todos e todos os extremismos”. Ele afirmou ainda que a sua gestão irá “governar para todos, porque todos merecem igual respeito por parte de quem governa”.
Aliança ampla
Empresário e vereador por dois mandatos, Nunes tem 56 anos e venceu a eleição com uma ampla coligação de 12 partidos, que vai da centro-esquerda até o PL, legenda que hoje abriga boa parte do bolsonarismo. A aliança garantiu ao emedebista o horário eleitoral mais dominante em um pleito na capital paulista desde 2000.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve uma participação discreta e controversa na campanha, enquanto Tarcísio de Freitas se consolidou como o principal aliado de Nunes, sustentando o apoio à sua candidatura até mesmo nos momentos mais críticos da corrida eleitoral. A relação entre o governador e o prefeito ficou tão estreita que eles passaram a conversar diariamente.
Ricardo Nunes assumiu de forma definitiva a Prefeitura de São Paulo em maio de 2021, após a morte de Bruno Covas (PSDB), que lutou contra um câncer por um ano e meio. Na eleição de 2020, o tucano também enfrentou Boulos, conquistando na época 59,38% dos votos válidos.
Nunes passou a comandar a Prefeitura de São Paulo em um período conturbado, enquanto o mundo ainda enfrentava a pandemia de covid-19. Como prefeito, ele deu continuidade às políticas de combate ao vírus adotadas por seu antecessor, sem grandes rupturas e mantendo a parceria da Prefeitura com o então governador tucano João Doria.
Na campanha, a contratação do marqueteiro Duda Lima foi estratégica para construir a imagem de Nunes e consolidar marcas de sua gestão. No entanto, o principal objetivo da admissão foi estreitar o vínculo de Nunes com o PL, uma vez que Duda Lima é tido como o homem de confiança de Valdemar Costa Neto, presidente nacional da sigla.
No mandato
Nunes preservou boa parte do secretariado de Covas, realizando mudanças pontuais. A principal foi a realocação de Edson Aparecido (MDB) para a secretaria de Governo, que funciona na prática como um braço direito do prefeito. Antes de ocupar o posto, Aparecido era secretário municipal de Saúde, mas deixou o cargo para disputar, sem sucesso, vaga no Senado.
Aliados relatam que Nunes demorou a assumir plenamente o papel de chefe do Executivo. A decisão de se mudar para o gabinete de prefeito ocorreu só um ano após o falecimento do tucano. Quando a campanha à reeleição começou a ganhar corpo, Nunes ainda era desconhecido de parte da população.
Em agosto de 2023, 21% dos paulistanos diziam não conhecer o prefeito, segundo pesquisa do Datafolha.
Com um caixa recorde – fruto de medidas como o aumento no IPTU, a elevação na arrecadação do Imposto sobre Serviços (ISS) e a renegociação da dívida municipal -, Nunes aumentou o nível de investimento na cidade e ampliou os gastos com publicidade para promover sua gestão. O investimento em recapeamento foi uma das primeiras marcas trabalhadas. Outras se somaram a ela, como o Domingão Tarifa Zero e a Faixa Azul, exclusiva para motos.
Aliados do prefeito creditam sua vitória à combinação da avaliação favorável do governo com a alta rejeição de Boulos: mais da metade da população afirmava que não votaria de jeito nenhum no candidato do PSOL, segundo o Datafolha.
Contra polarização
Tanto o marqueteiro Duda Lima quanto o coordenador-geral da campanha, Baleia Rossi (MDB-SP), rejeitavam a ideia de apostar em uma polarização entre Lula e Bolsonaro, especialmente porque o ex-presidente enfrentava uma alta rejeição na cidade, o que poderia contaminar Nunes.
O caminho do prefeito até a vitória foi mais desafiador do que seus aliados inicialmente imaginavam. Mais de um ano antes do pleito, o emedebista trabalhou nos bastidores para assegurar que o PL não lançasse candidato, o que poderia rachar o campo da direita e deixá-lo em uma posição semelhante à do ex-governador Rodrigo Garcia, que ficou de fora do segundo turno da eleição estadual 2022, desbancado por Fernando Haddad (PT) e Tarcísio.
Efeito Marçal
Deu certo até a chegada do furacão Pablo Marçal (PRTB), influenciador digital que acumula milhões de seguidores nas redes sociais e que tumultuou a eleição paulistana de forma nunca antes vista, com provocações aos adversários e a divulgação de um laudo falso sobre Boulos na véspera do primeiro turno.
Marçal trouxe uma dose extra de emoção à campanha do prefeito, que se viu obrigada a recalcular a rota originalmente traçada para ter o deputado do PSOL como principal adversário.