Ricardo Nunes chama Tarcísio de líder maior, em discurso após vitória

Prefeito reeleito creditou a vitória ao atual governador de São Paulo | Foto: Reprodução/ Instagram @prefeitoricardonunes

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), foi reeleito neste domingo (27) e vai comandar a administração da maior metrópole da América Latina por mais quatro anos. Em seu discurso de vitória, o prefeito reeleito afirmou que o equilíbrio venceu e agradeceu o apoio que do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O triunfo de Nunes constitui uma conquista ampliada, nestas eleições municipais, dos partidos que representam a centro-direita no Brasil. Além disso, consolida um cenário em que os prefeitos predominaram nas tentativas de reeleição: somente nas capitais, os atuais mandatários conquistaram novos mandatos em 16 das 20 capitais onde disputaram.

O prefeito obteve 59,35% dos votos válidos (3.393.110 dos votos), enquanto Guilherme Boulos (PSOL) ficou com 40,57% (2.323 901 dos votos) – uma diferença de 18,78%.

Logo em suas primeiras palavras como prefeito reeleito, Nunes agradeceu ao governador Tarcísio de Freitas, a quem chamou de “líder maior que me deu a mão na hora mais difícil”.

“Agradeço ao líder maior, sem o qual esta vitória não seria possível. Eu queria voltar a repetir, eu agradeço ao líder maior sem o qual nós não teríamos esta vitória, o meu amigo, que me deu a mão na hora mais difícil, governador Tarcísio de Freitas”, afirmou Nunes. Tarcísio atuou como seu principal cabo eleitoral na ausência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante sua campanha.

Sem mencionar o nome do candidato derrotado do PSOL, o prefeito disse que “a democracia deixou uma grande lição para nós, para a cidade de São Paulo e deixou uma lição para o Brasil. O equilíbrio venceu todos e todos os extremismos”. Ele afirmou ainda que a sua gestão irá “governar para todos, porque todos merecem igual respeito por parte de quem governa”.

 

Aliança ampla

Empresário e vereador por dois mandatos, Nunes tem 56 anos e venceu a eleição com uma ampla coligação de 12 partidos, que vai da centro-esquerda até o PL, legenda que hoje abriga boa parte do bolsonarismo. A aliança garantiu ao emedebista o horário eleitoral mais dominante em um pleito na capital paulista desde 2000.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve uma participação discreta e controversa na campanha, enquanto Tarcísio de Freitas se consolidou como o principal aliado de Nunes, sustentando o apoio à sua candidatura até mesmo nos momentos mais críticos da corrida eleitoral. A relação entre o governador e o prefeito ficou tão estreita que eles passaram a conversar diariamente.

Ricardo Nunes assumiu de forma definitiva a Prefeitura de São Paulo em maio de 2021, após a morte de Bruno Covas (PSDB), que lutou contra um câncer por um ano e meio. Na eleição de 2020, o tucano também enfrentou Boulos, conquistando na época 59,38% dos votos válidos.

Nunes passou a comandar a Prefeitura de São Paulo em um período conturbado, enquanto o mundo ainda enfrentava a pandemia de covid-19. Como prefeito, ele deu continuidade às políticas de combate ao vírus adotadas por seu antecessor, sem grandes rupturas e mantendo a parceria da Prefeitura com o então governador tucano João Doria.

Na campanha, a contratação do marqueteiro Duda Lima foi estratégica para construir a imagem de Nunes e consolidar marcas de sua gestão. No entanto, o principal objetivo da admissão foi estreitar o vínculo de Nunes com o PL, uma vez que Duda Lima é tido como o homem de confiança de Valdemar Costa Neto, presidente nacional da sigla.

 

No mandato

Nunes preservou boa parte do secretariado de Covas, realizando mudanças pontuais. A principal foi a realocação de Edson Aparecido (MDB) para a secretaria de Governo, que funciona na prática como um braço direito do prefeito. Antes de ocupar o posto, Aparecido era secretário municipal de Saúde, mas deixou o cargo para disputar, sem sucesso, vaga no Senado.

Aliados relatam que Nunes demorou a assumir plenamente o papel de chefe do Executivo. A decisão de se mudar para o gabinete de prefeito ocorreu só um ano após o falecimento do tucano. Quando a campanha à reeleição começou a ganhar corpo, Nunes ainda era desconhecido de parte da população.

Em agosto de 2023, 21% dos paulistanos diziam não conhecer o prefeito, segundo pesquisa do Datafolha.

Com um caixa recorde – fruto de medidas como o aumento no IPTU, a elevação na arrecadação do Imposto sobre Serviços (ISS) e a renegociação da dívida municipal -, Nunes aumentou o nível de investimento na cidade e ampliou os gastos com publicidade para promover sua gestão. O investimento em recapeamento foi uma das primeiras marcas trabalhadas. Outras se somaram a ela, como o Domingão Tarifa Zero e a Faixa Azul, exclusiva para motos.

Aliados do prefeito creditam sua vitória à combinação da avaliação favorável do governo com a alta rejeição de Boulos: mais da metade da população afirmava que não votaria de jeito nenhum no candidato do PSOL, segundo o Datafolha.

 

Contra polarização

Tanto o marqueteiro Duda Lima quanto o coordenador-geral da campanha, Baleia Rossi (MDB-SP), rejeitavam a ideia de apostar em uma polarização entre Lula e Bolsonaro, especialmente porque o ex-presidente enfrentava uma alta rejeição na cidade, o que poderia contaminar Nunes.

O caminho do prefeito até a vitória foi mais desafiador do que seus aliados inicialmente imaginavam. Mais de um ano antes do pleito, o emedebista trabalhou nos bastidores para assegurar que o PL não lançasse candidato, o que poderia rachar o campo da direita e deixá-lo em uma posição semelhante à do ex-governador Rodrigo Garcia, que ficou de fora do segundo turno da eleição estadual 2022, desbancado por Fernando Haddad (PT) e Tarcísio.

 

Efeito Marçal

Deu certo até a chegada do furacão Pablo Marçal (PRTB), influenciador digital que acumula milhões de seguidores nas redes sociais e que tumultuou a eleição paulistana de forma nunca antes vista, com provocações aos adversários e a divulgação de um laudo falso sobre Boulos na véspera do primeiro turno.

Marçal trouxe uma dose extra de emoção à campanha do prefeito, que se viu obrigada a recalcular a rota originalmente traçada para ter o deputado do PSOL como principal adversário.

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