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Rêverie: o mundo lúdico de Flávia Junqueira em nova exposição

A instalação imersiva traz um carrossel de parque de diversões suspenso e proporciona uma volta à infância
Fotos: Cortesia
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Antes mesmo de cruzarmos a cortina verde de veludo, o som que vem de dentro nos remete a um parque de diversões. Aquela clássica música que acompanha o movimento do carrossel nos leva à infância. É Flávia Junqueira nos colocando em contato com sua nova exposição, ‘Rêverie’, antes mesmo que nossos olhos possam alcançar o que a artista nos preparou. 

Ao cruzar a cortina como que adentrando um teatro, vejo a sombra dos cavalos em movimento estão nas paredes verdes. Mais uma olhada ao redor, e os olhos encontram um imponente carrossel flutuante que suavemente se movimenta. É hipnotizante. Fiquei longos minutos observando os detalhes dos cavalos, do teto, das luzes. Reparei nas borboletas coloridas, nos traços em dourado. 

Foto: Cortesia
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O chão de espelho reflete o objeto nos coloca em um universo de fantasia. É leve, é lúdico. É como se o tempo ali andasse diferente, mais lento. Talvez como um túnel do tempo, que faz com que estejamos ali, mas com os pensamentos que fazem um resgate às memórias da infância. 

“Em tradução livre, a palavra rêverie pode ser compreendida como um estado agradável de perder-se nos próprios pensamentos” – explica o texto da curadora Carollina Lauriano. 

No andar de cima, Flávia apresenta obras inéditas realizadas durante uma viagem a Madri em 2023, onde trabalhou dentro do Palácio de Linares, que hoje se chama Casa de América, e é um espaço cultural. Foram dez dias imersa no local, trabalhando os elementos e iluminação, em um resultado encantador.  

Conhecida principalmente com seus trabalhos com balões, Flávia sempre usou elementos infantis em suas obras. E, desta vez, nos propõe uma experiência imersiva no mundo da fantasia entre os encantos de um teatro e a magia dos parques de diversão na mostra que ocupa dois andares da Zipper Galeria, em São Paulo. A exposição vai até o dia 27 de abril, com entrada gratuita. Imperdível!

Foto: Cortesia
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Flávia foi responsável pela capa da revista GPS|Brasília que homenageou os 60 anos de Brasília, publicada em abril de 2020, e foi quando começou nossa relação com essa artista que tanto admiro. Conversei com ela sobre a nova exposição, confira: 

 

De onde veio a inspiração para a criação dessa exposição?

A inspiração principal foram os parques de diversões, que estão muito ligados à ideia da memória da infância, principalmente. E é uma memória que para mim é autobiográfica, porque eu sempre fui muito a parques de diversão de interior, muito comum no Brasil, e até hoje tenho uma obsessão por eles. Um outro elemento que é uma grande inspiração para essa exposição é o teatro, a teatralidade. A gente usou carpete, cortinas de teatro e na própria cenografia,com holofotes de teatro e fumaça. Eu trabalhei com cenografia por muitos anos. E existe uma relação muito forte entre a atividade teatral e o parque de diversões, porque ambos lidam com a teatralidade, com momentos de fuga da realidade ou de reconexão e criação de novas realidades. Eu amo ir ao teatro e tentei trazer a atmosfera do teatro para essa exposição.

 

Fale um pouco sobre a escolha do nome da exposição.

A palavra vem de sonho, do francês, e eu queria trazer alguma ideia que fosse do sonhar, mas diferente do significado em português. E o “rêverie” está como um sonhar acordado, como um devaneio, como algo que a gente tem essa sensação e essa experiência onírica, mas ao mesmo tempo saber que a gente está ali, naquele espaço, que a gente existe dentro dessa sensação. Não é só o sonhar como algo que não existe, talvez como um sonhar acordado. E é a magia. Então é um pouco essa a relação entre esses dois pontos. Como artista, a gente sempre tenta trazer para o espectador algo parecido com o que a gente criou, do conceito. A ideia é que exista essa relação de imersão dentro de um sonhar, vivenciar uma experiência que está ligada a magia, a profundidade do sonho.

 

Você é conhecida pelo trabalho com balões, e há algum tempo vem inserindo outros elementos do universo infantil. Quando chegou ao carrossel? 

Comecei trabalhando com balões em teatros, depois fui para espaços externos, mas que também tinham, de certo modo, uma teatralidade, como espaços icônicos conhecidos mundialmente e palácios. O aspecto dos outros elementos, como a própria teatralidade, o próprio espaço cênico, a dramaticidade, os parques de diversões, sempre acompanharam o meu trabalho. Eu acho que, na verdade, o que aconteceu foi o caminho inverso. Eu comecei falando dessas temáticas, da teatralidade, dos parques de diversões e da dramaturgia, mas em algum momento, quando eu fiz o trabalho dos balões, eu acabei ficando mais conhecida porque teve uma receptividade maior. Mas a minha pesquisa já tem 15 anos, o balão veio nos últimos cinco. E nos primeiros dez anos de pesquisa, todos esses elementos que eu trabalho hoje já existiam. Eu tenho um trabalho de 2011 muito, muito importante, que é uma catalogação de carrosséis que eu fiz em Paris. Como o trabalho que ficou mais conhecido foi com o balão, parece que agora eu estou inserindo. Mas, na verdade, eles sempre existiram a título de pesquisa.

 

Como você espera que as pessoas saiam da sua exposição? 

É como eu disse sobre o título, um sonhar acordado. Eu acho que é muito peculiar e cada pessoa, dentro da sua intimidade, vai sentir essa exposição de uma maneira diferente. Ser artista muitas vezes é pegar o que tem na realidade, ressignificar, repensar, se apropriar disso e trazer de volta para o público. Então, é uma maneira de apresentar para o público aspectos da nossa vida que muitas vezes nós esquecemos, justamente porque a racionalidade, o tempo adulto, que é um tempo que sempre está ansioso em relação ao futuro e nostálgico em relação ao passado, e viver o presente, que é um pouco o tempo da criança, que surge com a espontaneidade. Então, a ideia é que quando o espectador entre nesse espaço, principalmente na primeira sala, é que viva a experiência de estar em uma galeria de arte e encontrar um brinquedo de parque. A ideia de colocar o carrossel flutuando é justamente para dar a leveza de um balão. Trazer para o espectador algo que não sente todos os dias, que eu acho que é o papel da arte, de pegar aspectos cotidianos e fazer com que isso seja visto de novas maneiras. É um convite a sentir. 

 

Serviço

Rêverie – Exposição da artista Flávia Junqueira

Data: Até o dia 27 de abril

Visitação: de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h. Sábado, das 11h às 17h.

Local: Zipper Galeria – Rua Estados Unidos, 1494, Jardim América, São Paulo (SP)

Entrada gratuita

Mais informações: (11) 4306-4306