Em depoimentos prestados na primeira sessão desta terça-feira (10) ao Supremo Tribunal Federal (STF), três dos principais investigados na ação penal que apura a tentativa de golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro no poder negaram envolvimento em qualquer plano para subverter o resultado das eleições de 2022. O ex-ministro da Justiça Anderson Torres, o general da reserva Augusto Heleno e o almirante Almir Garnier tentaram afastar responsabilidades e minimizar declarações e encontros registrados no inquérito.
Anderson Torres diz que nunca apontou fraude nas urnas
O ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres afirmou ao STF que nunca identificou ou relatou indícios de fraude nas urnas eletrônicas. Segundo ele, todas as observações que fez sobre o sistema de votação se referiam a sugestões técnicas de melhorias propostas por peritos da Polícia Federal.
“Tecnicamente falando, nós não temos nada que aponte fraude nas urnas. Nunca chegou essa notícia até mim”, afirmou. Torres também garantiu que, sempre que questionado por Jair Bolsonaro ou outras autoridades, reiterava a confiança no sistema eletrônico de votação.
O ex-ministro também foi cobrado por declarações feitas na reunião ministerial de 5 de julho de 2022, onde atacou o Supremo Tribunal Federal. Ele argumentou que vivia-se um momento de tensão entre os Poderes e que se esforçava para manter o diálogo:
“Eu fui um dos que mais me esforcei para que essa relação não se esbagaçasse”.
Torres ainda teve que se explicar sobre a ausência de seu celular no momento em que foi preso preventivamente, em janeiro de 2023. Disse ter perdido o aparelho nos Estados Unidos, onde estava de férias com a família, e alegou abalo emocional diante da notícia de sua prisão. “Eu não tinha nada a esconder. Tanto que forneci a senha da nuvem do celular à Polícia Federal assim que cheguei no Brasil”, declarou.
General Heleno minimiza declarações e nega plano de golpe
Já o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), adotou uma estratégia cautelosa: optou por responder apenas às perguntas de sua defesa. Ele negou ter participado de qualquer ação golpista e minimizou falas registradas em vídeo durante reunião com Bolsonaro, em julho de 2022, nas quais afirmava que “se tiver que virar a mesa, é antes das eleições”.
Segundo Heleno, tratava-se de um “discurso figurado”. Seu advogado chegou a corrigi-lo durante a audiência para que respondesse apenas com “sim” ou “não”, evitando justificativas mais longas. O general também negou ter usado a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) para monitorar adversários políticos ou proteger aliados do então presidente.
Heleno afirmou desconhecer o plano batizado de “Punhal Verde e Amarelo”, que previa a execução de um golpe de Estado e até o assassinato de autoridades como o ministro Alexandre de Moraes e o presidente Lula. Disse que só soube da existência do plano quando já estava no jornal.
Sobre uma caderneta com anotações golpistas encontrada em sua casa, afirmou se tratar apenas de uma agenda pessoal, um documento particular e que não apresentava nada que pudesse chamar de “caderneta golpista”. Questionado se aceitou o resultado das eleições, respondeu:
“Tinha que aceitar. Não havia outra solução”.
Almir Garnier nega ter colocado tropas à disposição de Bolsonaro
Em sua primeira manifestação formal sobre o caso, o ex-comandante da Marinha Almir Garnier também negou qualquer apoio a uma ruptura institucional.
“Eu nunca usei essa expressão [colocar tropas à disposição]. Nunca disponibilizei tropas para ações dessa natureza”, declarou.
Garnier rebateu os relatos de outros comandantes das Forças Armadas que afirmaram que ele apoiava as intenções golpistas de Bolsonaro. Ele confirmou ter participado de reuniões no Palácio do Alvorada com o presidente e o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, mas disse que as conversas foram genéricas e trataram de segurança pública e dos acampamentos bolsonaristas.
O almirante negou ter visto ou recebido uma minuta de decreto golpista. “Não vi documento. Lembro que estava todo mundo com cara de quem comeu e não gostou”. Segundo ele, havia apenas uma apresentação no computador, com algumas informações, não um documento entregue.