O título, por si só, é um achado. O filme fala de **mulheres** que são “proibidas” de **dar à luz aos seus filhos**, na terra onde nasceram e moram com suas famílias. Esse lugar é uma _ilha paradisíaca_, cuja principal receita vem do turismo _milionário_. Empresários investem pesado na hotelaria e afins para usufruto dos visitantes.
À população local, são reservados os trabalhos ordinários. Empregados mais qualificados são “importados” de outras regiões para ocupar postos que requerem mais estudo e qualificação. A única maternidade que havia na ilha _foi desativada em 2004_.
Doze semanas antes do parto, as mulheres gestantes são “orientadas” pela Administração do lugar a **deixar a ilha** e pegar um voo. Então são levadas a um centro mais avançado e desenvolvido na capital onde, segundo os responsáveis, “terão seus bebês com mais segurança e conforto”.
A viagem é totalmente custeada pelo **Estado**, com direito a _hotel, alimentação e despesas médicas_. Além do período pré-parto, as mulheres ainda permanecem longe de suas famílias por mais **dois meses**, após o nascimento do bebê. Então são “instruídas” a fazer o registro de nascimento de seus filhos por ali mesmo, na capital.
![Foto: Divulgação](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/Proibido_nascer_Foto_01_d2d297cbbf.jpg)
O registro fora da ilha é uma **armadilha**: um decreto oficial de 2004 (que versa sobre o controle migratório da ilha) determina que “filhos de nativos **não têm direito** à residência permanente”. Isso só é concedido aos moradores que comprovarem habitar a ilha _por mais de 10 anos ininterruptos_.
Então constata-se que essas crianças que acabaram de nascer não possuem qualquer direito de, posteriormente, adquirir ou herdar um palmo sequer de terra na ilha paradisíaca, onde seus avós e pais nasceram e foram criados.
Bem, com certeza você deve estar pensando em um filme _distópico_, que aborda a gentrificação? Melhor seria, se fosse. O que descrevo aqui _não se trata de uma obra de ficção_. Não é um filme, mas a **pura realidade**.
Surpresos? Então, dou mais uma dica: tudo se passa aqui no **Brasil**. Esse filme é um _documentário_. As gestantes são mulheres noronhenses. A capital é **Recife**. E a ilha paradisíaca é… **Fernando de Noronha**!
Vocês não acreditam? Uma das gestantes entrevistadas, cuja família habita em Fernando de Noronha _há mais de cinquenta anos_, teve o pedido de residência de seu bebê negado. A alegação? “Condições desfavoráveis de moradia”.
Outra gestante, neta de nativos (o avô pescador chegou no arquipélago na década de 1940), a empresária noronhense **Babalu da Tapioca** se sente frustrada por não ter gerado a primeira filha na própria terra onde nasceu.
Cenas tristes de gestantes dispostas em fila para embarcar, ou então alojadas _aos montes_ em recintos comunitários na capital, fazendo suas refeições em grupo, **longe de casa** e de seus pares, poderiam perfeitamente ser confundidas com cenas de mulheres cumprindo pena em uma **prisão**. Ironicamente, o antigo presídio de Fernando de Noronha está desativado há décadas.
Imagens de golfinhos, tartarugas e pores-do-sol, que frequentemente aparecem em documentários sobre Fernando de Noronha como destino de viagem, em **Proibido Nascer no Paraíso** elas nos transportam ao dia-a-dia do povo noronhense, seu coração ingênuo, _o amor pela terra_ e o sentimento de **pertencimento** ao seu chão. Desta vez não são os animais e a floresta que estão em risco. A **população nativa** é que se encontra em perigo de _extinção_.
**Conte aí. Você sabia disso?**