Idolatrada pelos recordes mundiais que conquistou sobre as gigantescas ondas, a surfista Maya Gabeira está de passagem por Brasília para enfrentar outro grande desafio: sensibilizar o Congresso Nacional sobre os impactos causados pelo descarte dos plásticos no meio ambiente, especialmente nos oceanos.
Com uma voz poderosa internacionalmente, que clama por uma legislação mais rigorosa sobre a poluição nos mares, a recordista mundial no surfe concedeu uma entrevista exclusiva ao GPS, quando compartilhou detalhes sobre um projeto de lei que trata sobre o tema e que tramita no Poder Legislativo.
Maya Gabeira é reconhecida não apenas por suas conquistas no mundo do esporte, mas especialmente por sua dedicação, herdada do pai Fernando Gabeira, em prol da causa ambiental.
Ela é embaixadora da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e representa, há 10 anos, a Organização Não Governamental Oceana, responsável pela campanha “Pare o Tsunami do Plástico”. O objetivo do movimento é chamar a atenção dos congressistas e da sociedade civil para a importância de se aprovar, com urgência, o PL 2524/2022, que cria um marco regulatório para economia circular do plástico no País.
Durante a entrevista ao GPS, Maya Gabeira enfatizou que a produção de plástico no Brasil está fora de controle. Ela argumentou que não basta apenas conscientizar os consumidores a evitar o uso de plástico descartável, já que por muitas vezes as pessoas não têm escolha. Ela ressaltou que o foco é limitar a produção de plástico e incentivar a indústria a explorar alternativas mais sustentáveis.
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“Nosso objetivo é promover mudanças na legislação para enfrentar a produção excessiva e irresponsável de plásticos. Hoje, o Brasil é um dos maiores produtores de plástico e também um dos maiores poluidores dos oceanos, despejando cerca de 325 mil toneladas de plástico por ano nos mares”, disse.
Veja a entrevista na íntegra:
Desafios
A atleta reconheceu que o cenário político atual é mais propício para a promoção do debate, já que avaliou não ser possível incluir a pauta no governo anterior. Ela reconheceu os desafios enfrentados pela Oceana e outros defensores da causa, dada a influência poderosa da indústria do plástico e do petróleo, mas expressou otimismo na capacidade de criar mudanças significativas na consciência da sociedade.
“Acho que [esse projeto] nem entraria em pauta no governo passado. Não teríamos nenhuma possibilidade de discussão sobre isso. Eu acho que o governo de hoje, com certeza, se posiciona de forma muito mais de conservar e de proteger o meio ambiente. Claro que a gente sabe que falar é mais fácil do que fazer, principalmente quando você está indo contra uma indústria tão poderosa que é a indústria do plástico, que vem da indústria do petróleo. Então, a gente sabe que vai ter resistência. Qualquer mudança tem resistência. Ainda mais, uma mudança que atinge um setor econômico tão poderoso, mas a gente tem que ter otimismo“, disse.
Maya Gabeira argumentou que o alerta precisa ser feito para as autoridades e a sociedade civil, uma vez que pesquisa recente encontrou a presença de micropartículas plásticas no coração de seres humanos.
“Você respira plástico e você ingere os micro plásticos na água, na alimentação, através dos peixes, através de qualquer vida marinha. Então, os problemas são muito grandes, tanto para a nossa saúde quanto para o meio ambiente. São duas questões nessa pauta: a nossa saúde e o meio ambiente. Então, é algo extremamente essencial“, pontuou.
Petição
Além do corpo-a-corpo no Congresso, a medalhista brasileira lembra que há uma petição online para colher assinaturas de apoiadores da causa ambiental, especialmente sobre as consequências do plástico nos oceanos, para enfrentar o lobby das indústrias do produto.
“Como vencer essa batalha, né? Eu acho que é com muito apoio. Acho que é trazendo a sociedade e as pessoas para dentro do Congresso e da política, que acreditem, que queiram levantar essa bandeira, que queiram protagonizar e ser parte dessa mudança. Resistência sempre haverá, mas também sempre vai ter algumas pessoas que vão querer encarar essa resistência e levar a mudança para frente. Então, eu acho que é se articular muito bem, ter os argumentos e ter muito apoio da sociedade, muito apoio da sociedade“, argumentou.
Filha do jornalista e ambientalista Fernando Gabeira, Maya contou que, obviamente, sua conscientização ambiental veio de berço. Mas que, hoje, com toda a visibilidade que o caminho bem sucedido no esporte garantiu à ela, a causa de proteção dos oceanos ganhou ainda mais força na sua rotina.
“Começou quando eu nasci. Eu tinha um pai que falava muito da floresta, protegia muito o meio ambiente e que falava em mudanças climáticas há mais ou menos 36 anos, quando eu nasci. Eu sempre cresci com essa questão da mudança climática, aquecimento global. Mas, claro, eu fui ser surfista e o esporte demanda 100% do nosso foco. Então, quando eu saí de casa, com 14 anos para me profissionalizar e seguir meu caminho, eu deixei meu pai trabalhando. A gente fala, hoje em dia, que ele fez o verde, e agora eu tenho que fazer o azul“, afirmou.
A ativista, que pretende abordar os principais parlamentares nesta terça-feira, 15, afirmou que a causa requer urgência, principalmente pela falta de lideranças brasileiras para levantar a bandeira.
“Se eu não o fizesse, eu não via quem o faria. Então foi meio que uma posição natural de falar ‘bom, se ninguém vai fazer, eu vou ter que fazer“, finalizou.