Era pra ser apenas dois meses em Brasília. Mas já se passaram 40 anos desde que Kathia Pinheiro chegou na capital federal. A carioca que desembarcou na década de 1980, para um curso de férias na Escola de Música, construiu aqui a sua vida, família e carreira na música e não quis mais sair.
Ela conta que tudo começou quando recebeu um convite do maestro Levino de Alcântara para dar aula de música e, logo depois, veio o convite para participar da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro (OSTNCS), que estava sendo fundada na época.
Lá foi onde cresceu profissionalmente e desenvolveu suas melhores habilidades. Kathia se tornou spalla — primeiro-violino de uma orquestra, cargo mais importante depois do maestro —, e trabalhou na orquestra por 35 anos, até se aposentar, em 2015.
Mas a história profissional da mulher de família evangélica, filha de músicos, que começou a cantar em corais de igreja com 4 anos de idade, tocar piano com 7 e violino com 11, não para por aí.
Em 2001, ainda enquanto estava na orquestra, Kathia decidiu fundar o seu próprio grupo, a Toccata. Multifacetado, o grupo faz apresentações em formato de orquestra, coral, banda de baile, quinteto de jazz, quarteto de cordas e serenatas. Kathia costuma dizer que a Toccata é como uma árvore, com várias ramificações.
São cerca de 30 músicos fixos e o grupo ultrapassa as fronteiras das cidades e até do País. Nova York foi um dos destinos para onde a Toccata embarcou para levar a sua música.
Entre os eventos estão concertos mais realizados pelo grupo estão aniversários, casamentos, noivados, confraternizações de fim de ano, e até velório. “Costumo dizer que estamos nos momentos mais marcantes da vida”, comenta Kathia.
Vocação
Ao longo da conversa, Kathia se emocionou diversas vezes ao citar a sua relação com a música. “A música é curativa, ela mexe com as emoções, renova a vida, traz memórias, faz você viajar”, avalia.
Alguém que já tocou com grandes nomes da música brasileira, como Elis Regina, Milton Nascimento e Chitãozinho e Xororó, passou por palcos em Portugal, Cuba, Coreia do Sul e Japão, não tinha como sentir outra coisa. Kathia nasceu para a música.
Durante a pandemia, parar de tocar e ficar em casa foi um dos maiores desafios para a musicista. “Sempre trabalhei só com música, minha vida toda foi em cima do violino, só tocando. Quem é músico não sabe fazer outra coisa”, diz.
Não poder realizar seus concertos a angustiaram de tal forma, que dois meses após o lockdown teve a ideia de fazer apresentações nas quadras residenciais de Brasília.
“A gente levava todos os equipamentos, montava e se apresentava para as pessoas na janela. Todo mundo assistia, enchia de gente, elas tomavam vinho e curtiam muito. Foi muito emocionante”, lembra.
Momentos marcantes e novos projetos
O trabalho de Kathia já a proporcionou momentos emocionantes ao longo da sua carreira. Ela lembra de uma vez em que um homem a abordou em um shopping para pedir dicas para um presente para a ex-namorada. Kathia divulgou o seu trabalho com serenatas e foi contratada pelo rapaz.
“Fomos em uma chácara fazer a serenata para a namorada, foi tão emocionante. Eles reataram e meses depois a gente fez o casamento deles. Somos amigos deles até hoje. Essa é uma lembrança que me marcou muito“, revela. Outra emoção neste ano foram as três serenatas que a Toccata fez para aniversariantes que fizeram 100 anos. “Eu costumo dizer que serenata não vem embrulhada mas abre o coração“, diz.
Kathia, que também é diretora da Orquestra Brasileira de Arte, Cultura e História (Obach), especializada em interpretar músicas barrocas do século 18, trabalha com projeto para 2025 para uma apresentação de músicas de Raul Seixas em arranjo barroco.