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Quatro escolas brilham no último dia de desfiles na Marquês de Sapucaí

Vila Isabel, Imperatriz, Beija-Flor e Viradouro juntam-se à Mangueira, Salgueiro e Grande Rio na briga pelo título
Sambódromo da Marquês de Sapucaí. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Sambódromo da Marquês de Sapucaí. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

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**A segunda e última noite de desfiles das principais escolas de samba do Rio de Janeiro começou às 22h de segunda-feira (20) e terminou às 5h45 desta terça-feira (21).** Não faltaram luxo, emoção, torcida e lamentação. A **Paraíso do Tuiuti** abriu os trabalhos com uma exibição simples, mas competente e provavelmente capaz de mantê-la na elite; a **Portela**, alvo da maior expectativa da noite, fez um desfile histórico, **mas teve um carro quebrado** e problemas suficientes para impedir que ela retorne no desfile das campeãs, que reúne as seis escolas mais bem classificadas e vai acontecer no próximo sábado (25).

A partir daí, seguiram-se quatro escolas que têm chances de vencer o campeonato: **Unidos de Vila Isabel, Imperatriz Leopoldinense, Beija-Flor e Viradouro**. Elas concorrem com **Mangueira, Salgueiro e Grande Rio**, destaques da primeira noite – mas Salgueiro e Grande Rio tiveram problemas de evolução e têm menos chances de vitória. A escola rebaixada deve sair da primeira noite de desfiles – **Mocidade Independente de Padre Miguel e Império Serrano** correm riscos.

A primeira escola a desfilar na segunda noite de exibições foi a **Paraíso do Tuiuti**, agremiação do morro do Tuiuti, em São Cristóvão (zona norte do Rio) que exaltou o Pará a partir da história da chegada dos búfalos à Ilha de Marajó. Penúltima colocada no concurso de 2022, **a escola queria se manter na elite, e certamente atingiu esse objetivo**: fez um desfile correto, em vários aspectos superior a escolas tradicionais como **Mocidade e Portela**, que tiveram problemas com carros alegóricos e vão perder pontos por isso.

As fantasias e alegorias da Tuiuti eram simples, comparadas à oponência de **Salgueiro ou Grande Rio**, mas o enredo foi muito bem contado, como é praxe no trabalho da consagrada carnavalesca **Rosa Magalhães**, maior vencedora de desfiles na “era sambódromo”, como é chamado o período a partir de 1984, quando a atual passarela do samba foi inaugurada. **Rosa divide a função de carnavalesca da Tuiuti com João Victor Araújo.**

O desfile começou contando a importância dos búfalos na Índia e o comércio de especiarias e outros produtos indianos com o mundo. **Aí chegou ao Pará, porque no século XIX um navio saiu da Índia rumo à Guiana Francesa levando especiarias e búfalos, mas naufragou na costa brasileira e só os animais sobreviveram.** Eles chegaram à ilha de Marajó e se tornaram um símbolo dela, servindo como atração turística, montaria para a polícia e fornecedores de leite. Tudo isso narrado durante o desfile com fantasias coloridas e um samba com refrões fáceis.

O segundo desfile da noite foi da **Portela**, cuja apresentação era a mais esperada da noite. Sediada em Madureira, zona norte do Rio, e recordista de títulos no carnaval carioca (22), **a escola comemora seu centenário neste ano** e contou sua própria história na avenida. Não era considerada grande candidata ao título, porque houve dificuldades na preparação do Carnaval, mas **havia expectativa de uma apresentação inesquecível e da volta no desfile das campeãs.**

**Mas o terceiro carro alegórico teve problemas desde o início da exibição e quebrou pouco antes da primeira cabine de jurados.** Chegou a **bater na grade que separa as frisas da pista**, e causou a abertura de um espaço de aproximadamente cem metros na pista (que tem 700 metros). **Isso vai gerar perda de pontos** e tornou muito improvável que a Portela consiga voltar entre as campeãs.

De toda forma, o desfile foi histórico pelo enredo e pelas homenagens. **O que não faltou foram celebridades e personagens históricos da escola, como Paulinho da Viola, Zeca Pagodinho, Marisa Monte, Diogo Nogueira, Luiza Brunet e Adriane Galisteu.** Uma novidade foi um conjunto de drones que formaram no céu palavras ou expressões como “Portela”, “100 anos”, “Monarco” e “Clara”, esta referência à cantora portelense Clara Nunes.

A terceira escola a desfilar foi a **Unidos de Vila Isabel**, de novo sob as ordens do carnavalesco **Paulo Barros**. Ele apresentou festas religiosas pelo Brasil e pelo mundo, um enredo simples, expresso em alegorias e fantasias muito luxuosas e de fácil compreensão. Foi o primeiro desfile que a escola faz sob a gestão do presidente Luizinho Guimarães, filho de **Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães**, contraventor e um dos fundadores da Liga Independente das Escolas de Samba. Ele é figura constante nos desfiles da Sapucaí e iria desfilar junto com o cantor e compositor **Martinho da Vila**, presidente de honra da escola.

Mas desde dezembro Guimarães cumpre prisão domiciliar, sob acusação de ter mandado matar o pastor **Fábio Sardinha**, assassinado em junho de 2020. Então, restou ao filho Luizinho dedicar o desfile ao pai: “isso acaba trazendo mais motivação ainda pra poder entregar esse título pra ele. Sei que ele vai ficar orgulhoso vendo a Vila em casa”, afirmou. Questões policiais à parte, **a Vila fez um excelente desfile, digno dos melhores momentos de Paulo Barros**, e deve voltar entre as campeãs – e talvez encerre o desfile, como campeã do ano.

A quarta escola a desfilar foi a **Imperatriz Leopoldinense**. Na estreia da segunda passagem do carnavalesco Leandro Vieira (ele já havia trabalhado na escola em 2020, quando a Imperatriz disputou e venceu o concurso da segunda divisão), **a escola contou a morte de Lampião e a tentativa dele de ingressar no inferno e no céu**. Recusado em ambos, acabou indo… desfilar na Imperatriz. A história pode soar fantástica demais, mas foi muito bem contada pela escola de Ramos, zona norte do Rio, que esbanjou luxo em fantasia e alegorias.

A **Beija-Flor** foi a penúltima escola a desfilar e levou um susto a poucos minutos do início de sua apresentação: **o carro abre-alas sofreu um princípio de incêndio** quando faíscas atingiram material inflamável. **Mas o problema foi sanado antes de o desfile começar, então não causou reflexos na avenida.**

Resolvido esse problema, **a Beija-Flor falou sobre os 200 anos da expulsão das tropas portuguesas da Bahia, que ocorreu em 1823 e consolidou a independência brasileira** – a escola defendeu a ideia de que essa foi a verdadeira independência do Brasil. Com carros alegóricos e fantasias muito luxuosas e a habitual disposição dos desfilantes, que não pararam de cantar **o samba interpretado por Neguinho da Beija-Flor em parceria com Ludmilla**.

Coube à **Unidos do Viradouro**, de Niterói (região metropolitana do Rio), encerrar a segunda noite de desfiles das escolas de samba do Rio. **A agremiação homenageou Rosa Maria Egipcíaca (1719-1771), africana que aos 6 anos de idade foi escravizada e trazida ao Brasil**. Inicialmente obrigada a fazer serviços domésticos, depois ela foi vendida a donos de minas de ouro, que passaram a explorá-la sexualmente.

**Como tinha sonhos e visões que se concretizavam, passou a ser considerada bruxa** pela Igreja Católica, embora cultuada pelo povo. Foi presa em um convento no Rio, onde aprendeu a ler e escreveu um livro autobiográfico – **o primeiro livro escrito por uma mulher negra no Brasil**. Com alegorias muito bem trabalhadas, fantasias luxuosas e desfilantes muito animados, a escola encerrou sua exibição já sob os primeiros raios de sol, aos gritos de campeã.