Em troca do apoio ao governo Luiz Inácio Lula da Silva, integrantes do Centrão exigem o controle da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), do Banco do Nordeste (BNB) e do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE), três dos principais cofres da República. A fatura está sendo apresentada principalmente pelo líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), segundo integrantes do Planalto. O governo resiste a ceder tudo, mas deve entregar ao menos um dos órgãos ao União.
O PT, por exemplo, também quer ter o comando de alguns desses cofres, como o BNB. Segundo parlamentares da região, a disputa envolve até ministros. Há ao menos três nomes com padrinhos fortes: Stelio Gama Lyra Junior, do Instituto Nordeste Cidadania, ligado ao líder do governo, José Guimarães (PT-CE); Nelson Martins que tem apoio do ministro da Educação, Camilo Santana; e Luiz Carlos Farias, que tem o aval do ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias.
Interlocutores de Lula dizem que o presidente não aceitará o pedido triplo de Elmar. Já a Codevasf poderá ser cedida. A partilha de cargos de segundo escalão mobilizou o quarto andar do Palácio do Planalto nos últimos dias. Há cobiça de cargos por partidos menores que negociam com o governo Lula, como o Podemos.
Esses órgãos têm orçamento bilionário, costumam sofrer influência política direta de parlamentares, que indicam diretores e superintendentes nos Estados. Alguns deles viraram focos de denúncias de corrupção nos últimos governos, como a Codevasf, com verbas do orçamento secreto, o FNDE, e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
**Reivindicação**
A ordem no Planalto, porém, é segurar nomeações até as eleições para as presidências da Câmara e do Senado, marcadas para 1.º de fevereiro. O governo quer começar a destravar os pedidos depois, de acordo com o comportamento dos partidos nas votações.
O ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, conversou na semana passada com Elmar. O deputado ficou contrariado por ter sido vetado pelo PT da Bahia para um ministério e manifestou sua frustração a Padilha. O ministro indicou que considera “razoável” a reivindicação pela chefia da autarquia.
O apoio do União Brasil ainda é considerado instável. O partido é visto como uma “_federação_” com muitos políticos influentes. Eles divulgaram um manifesto, na semana passada, em que defendem o “_empoderamento_” do Congresso, em vez de postura “_subserviente_” ao Planalto. A articulação política lulista vai ceder para ter ao menos a maioria da bancada, mas sabe que não conseguirá todo o partido na Câmara, tampouco no Senado. Além do comando da Codevasf, há pedidos por cargos no segundo escalão dos ministérios das Comunicações e da Integração e Desenvolvimento Regional, destinados à legenda.
Diante da ofensiva por mais cargos, uma reunião causou apreensão no governo. Integrantes da bancada petista sugeriram a Padilha uma operação para contornar e isolar Elmar e neutralizar seu poder. A ideia consistia em tentar atrair com benesses os deputados mais influenciados por ele na bancada do União Brasil, que tem 59 integrantes. É a terceira maior da Câmara. Assim, poderiam obter os votos individualmente, sem tratar com o líder do União Brasil.
**Alerta**
A operação foi vista como arriscada pela articulação política do Planalto. Houve quem lembrasse que a então presidente Dilma Rousseff (PT) cometeu esse “_erro_”, na tentativa de sobreviver no governo. Quem conhece os meandros da Câmara alerta que Elmar conhece bem os bastidores da partilha de recursos do orçamento secreto pelos parlamentares.
A bancada paulista do PT já indicou Jamil Yatim para chefiar a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (Ceagesp), outra empresa que é alvo de cobiça dos aliados. Yatim é ligado ao PT de Jundiaí e já ocupou o cargo de diretor financeiro da Ceagesp no governo Dilma.
Deputados do União Brasil querem ainda emplacar um nome na Secretaria Executiva do Ministério do Turismo. Avaliam que, caso a ministra Daniela Carneiro seja demitida, poderiam fazer o substituto na pasta. Após ter o nome anunciado como ministra, Daniela foi acusada de ter ligações com a milícia do Rio.
O acordo do PT para apoiar a reeleição de Arthur Lira (PP-AL), líder do Centrão, como presidente da Câmara prevê a distribuição de postos de comando na Casa. O PT quer comandar a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais poderosa da Câmara, reivindicada também pelo PL do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O acerto beneficiaria, ainda, o Republicanos. O deputado Marcos Pereira (SP) voltaria a ser o vice-presidente da Câmara. Já o ex-líder da bancada Jonathan de Jesus (Republicanos-RR) seria indicado ao Tribunal de Contas da União (TCU). O problema é que o PL também quer ocupar a vice-presidência da Câmara.