André Braga Segundo a Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN), estima-se que cerca de 40% da população brasileira apresenta algum grau de intolerância à lactose. Apesar de não ter cura, a condição pode ser controlada a partir do uso de enzimas para facilitar a digestão da lactose e também a partir de ajustes na alimentação. Porém, é importante estar atento às opções de produtos rotulados como “sem lactose”, pois, em certos casos, eles podem até mesmo agravar os sintomas do paciente.
Os sinais mais comuns que indicam para a intolerância incluem distensão abdominal, gases, cólicas e diarreia após o consumo de leite ou derivados. Mas, não necessariamente, os sintomas serão permanentes. A nutricionista Aline Quissak conta que nem toda intolerância é permanente: “Muitas vezes, o problema está no intestino, e não no leite”, revela.
Segundo ela, a intolerância pode ser provocada por inflamações intestinais, desequilíbrios da microbiota, dieta inadequada, estresse e uso prolongado de antibióticos. Nesses casos, os sintomas tendem a ser reversíveis com a recuperação da barreira intestinal e a reeducação alimentar.
Ela chama atenção, ainda, para os produtos “sem lactose”, aqueles que são feitos a partir do leite comum com adição da enzima lactase. Esses itens podem conter proteínas desnaturadas e aditivos que irritam ainda mais uma mucosa intestinal, já fragilizada. “Pacientes com o intestino inflamado muitas vezes não respondem bem a esses alimentos”, alerta.
No entanto, existem estratégias capazes de auxiliar na digestão da lactose e no reequilíbrio intestinal, como cepas probióticas específicas, que têm demonstrado eficácia.
A nutricionista explica que essas bactérias ajudam a reduzir a inflamação, melhorar a digestão e modular a resposta imunológica local. “É possível reconstruir a tolerância ao leite. O foco deve estar na saúde intestinal, não apenas na exclusão alimentar. A saúde intestinal é regulada por uma microbiota diversa e funcional. Certas cepas probióticas têm a capacidade de degradar a lactose e modular a inflamação intestinal, favorecendo a tolerância alimentar”, reforça Aline.
“Em vez de eliminar o leite para sempre, podemos reconstruir a tolerância a ele, começando pela recuperação da barreira intestinal”, defende.
As principais cepas com potencial terapêutico incluem:
- Lactobacillus rhamnosus GG: reduz a permeabilidade intestinal e ajuda na regeneração da mucosa;
- Bifidobacterium longum: melhora a digestão da lactose e reduz flatulência e distensão abdominal;
- Lactobacillus acidophilus: produz lactase, favorecendo a quebra da lactose;
- Saccharomyces boulardii: promove a recuperação pós-antibióticos e reduz inflamações.
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Quando se fala em substituição, a especialista destaca que há alternativas mais seguras e acessíveis para aqueles que sofrem com a intolerância, como o consumo de alimentos naturalmente pobres em lactose, como queijos maturados (meia cura, canastra, parmesão) e bebidas vegetais caseiras. “São opções mais nutritivas, com menos aditivos, mais em conta e que respeitam o momento intestinal do paciente”, conclui.
O leite, no entanto, é um alimento com alto teor de cálcio, o que é essencial para a saúde dos ossos e dos dentes. Além disso, é uma fonte importante de proteínas de alto valor biológico, que auxiliam na construção e na manutenção muscular, e de vitaminas como A, D, B12 e riboflavina. Estudos científicos também associam o consumo moderado de laticínios a menores riscos de doenças como hipertensão, diabetes tipo 2 e síndrome metabólica. No entanto, esses efeitos positivos costumam depender da qualidade e da quantidade consumida.
