O primeiro restaurante grã-fino de Brasília ficava na lendária Cidade Livre, aquele pedaço de terra sem lei onde a poeira vermelha era tempero e o improviso era regra. Mas ali, no meio de Jeeps e casas de madeira, brilhou o Chez Willy , do alemão Willy Zweideck e sua esposa Magda.
O lugar não era pouca coisa, não. Recebeu uma clientela digna de palácio: Juscelino e sua esposa, Sarah, a duquesa de Kent (que fez o restaurante famoso nacionalmente por ser o local onde a duquesa tomou uísque gelado), o príncipe da Holanda, presidentes, governadores, prefeitos, deputados, senadores, escritores, jornalistas, empresários… Resumindo: só a nata.
As garçonetes? Todas alemãs. Agora imagina essa cena: uma tropa de atendentes loiras e de sotaque carregado no meio da Cidade Livre, onde 90% da população era formada por homens. O restaurante devia servir comida e causar desmaios.
O próprio Willy não economizava na elegância: recebia os clientes sempre de fraque, ignorando solenemente o poeirão da Cidade Livre. No cardápio, pratos refinadíssimos como foie gras com feijão branco, lagostas, vindas do Ceará especialmente para o restaurante e compota de goiaba à la Charlotte Russe. O homem não estava para brincadeira.
Ele já tinha um histórico respeitável: antes de vir para cá, tocou o restaurante Ciro no Rio de Janeiro e ainda passou por hotéis, boates e restaurantes em Buenos Aires, Paris, São Paulo e no Copacabana Palace. Brasília parecia mais uma aventura.
Depois de inaugurada Brasília, nosso personagem tratou de abrir o Chez Willy II na W3, próximo à Boate Macumba e Bar Caravelle. De início, um retumbante sucesso. Ali, por exemplo, rolou um grande regabofe oferecido pelo hoteleiro Conrad Hilton cheio de personalidades nacionais e internacionais. Mas nada é para sempre e um ano depois começou a dar ruim. O restaurante foi descendo a ladeira, virou boate, depois cabaré (no sentido brasileiro mesmo, com meninas fazendo strip e programas). Eventualmente, Willy foi despejado e desapareceu de Brasília.
O destino dele? Mistério. Talvez tenha aberto um Chez Willy III em algum canto do mundo. Talvez tenha trocado os fraques por chinelos. O certo é que ele entrou para a história gastronômica (e folclórica) da cidade e merece a lembrança.