O Brasil já tem seu primeiro espumante com Denominação de Origem (D.O.) disponível no mercado. Com uma produção limitada de 18 mil garrafas, o Aurora Extra Brut está dentro da D.O Altos de Pinto Bandeira, no Rio Grande do Sul, e foi produzindo seguindo as regras estabelecidas pela certificação, obtida no fim do ano passado. Esse reconhecimento equivale aos vinhos espumantes da região de Champagne, na França.
O rótulo é o primeiro a estampar o selo da Denominação de Origem e tem preço médio de R$ 80. Além da Aurora, as vinícolas Don Giovanni, Geisse e a Valmarino também estão produzindo sob as novas regras da D.O. na região. “O que se vê em Champagne, na França, é o que a gente observa aqui. O papel mais importante de uma Denominação de Origem é o norteamento de uma região. Quando um investidor chega na região, ele tem os rumos que deve tomar. Ou seja, o investimento fica mais atrativo”, diz Daniel Panizzi, presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra).
O produto já começou a ser distribuído para todo o País e eu tive o privilégio de receber uma garrafa em primeira mão! Elaborado pelo método tradicional, ele amadurece por 12 meses em contato com as leveduras.
No começo do ano, a Aurora enfrentou denúncias de trabalho análogo à escravidão na colheita das uvas, com funcionários da empresa terceirizada Fênix, que também prestava o serviço para outras vinícolas da Serra Gaúcha. Na época, a cooperativa rompeu contrato com a empresa e pediu desculpas pelo ocorrido. Também assinou um termo de ajuste de conduta (TAC) milionário com o Ministério Público do Trabalho, para o pagamento de indenizações aos trabalhadores e danos coletivos. A Fênix recusou o acordo. Em uma investigação paralela ao do MPT, a Polícia Federal não viu indícios de participação das vinícolas no caso.
O que é a Denominação de Origem?
Essa Denominação de Origem é a primeira deste tipo exclusiva para espumantes do Novo Mundo. A área que recebe a certificação abrange 65 km², sendo 76% localizada no município de Pinto Bandeira, 19% em Farroupilha e 4% em Bento Gonçalves. Dentro da região estão a Aurora, a Don Giovanni, Geisse e a Valmarino, que produzem espumantes sob a nova regra. Além da área, o selo é válido apenas para espumantes feitos com as uvas Chardonnay, Pinot Noir e Riesling Itálico. E as regras não param por aí. O sistema de condução das videiras precisa ser pelo método espaldeira e a segunda fermentação deve ser feita em garrafa, método chamado de champenoise.
O processo para a obtenção da Denominação levou cerca de uma década e foi conferido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial, o INPI. Toda a criação da D.O. Altos de Pinto Bandeira foi feita em conjunto com a Embrapa, Universidade de Caxias do Sul, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Sebrae, Sicredi e prefeitura de Pinto Bandeira. Para ter o selo no rótulo, os espumantes devem ser aprovados anualmente por um conselho regulador. Os rótulos são degustados às cegas para garantir a isonomia do processo.
No Brasil, existem mais de 30 denominações de origem. Ela se refere a uma localidade específica em que é elaborado um produto, com características encontradas apenas ali e em nenhum outro lugar do mundo. A produção também segue regras muito detalhadas. Além do vinho, o país também tem D.O. de queijo e de café.