O primeiro debate presidencial de 2022 prometeu muito e entregou pouco para quem esperava interações propositivas. Para quem estava ansioso pelo clima quente entre os dois candidatos que polarizam a disputa o saldo foi mais do que positivo.
Foi a primeira vez que o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficaram frente a frente em uma sabatina. Além deles, Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Luiz Felipe d’Avila (Novo) e Soraya Thronicke (União Brasil) responderam perguntas dos jornalistas do pool de veículos de comunicação e puderam interpelar adversários durante os três blocos do debate.
O sorteio já havia definido que Bolsonaro faria a primeira pergunta no confronto entre candidatos. E o presidente correspondeu às expectativas de que abrisse sua participação com uma pergunta para Lula. O tema foi corrupção. “_Presidente Lula, o senhor quer voltar ao poder para quê? Para continuar fazendo a mesma coisa na Petrobras?_”, questionou, citando uma série de dados a respeito da situação da empresa durante as gestões do PT.
Lula chamou as acusações de Bolsonaro de “_inverdades_” e afirmou que seu governo deu liberdade para investigações sobre atos de corrupção. “Não teve nenhum presidente da República que fez mais investigação para que a gente apurasse a corrupção do que nós fizemos. E é importante deixar claro que nós fizemos o Portal da Transparência, a fiscalização da CGU, a lei de acesso à informação, a lei anticorrupção, a lei contra crime organizado, a lei contra lavagem de dinheiro, colocamos AGU no combate à corrupção, fizemos o Coaf funcionar e movimentações bancárias atípicas”, listou.
Na réplica, o presidente chamou os governos petistas de “_cleptocracias_” e acusou Lula de comprar apoio no Congresso. O petista reagiu com dados positivos de sua passagem pelo Palácio do Planalto, entre 2003 e 2010, e acusou Bolsonaro de “_destruir o Brasil_”.
Lula e Bolsonaro, por sinal, protagonizaram o debate também na boca dos outros participantes, que buscaram a todo custo se colocar como alternativa possível à polarização que domina as pesquisas eleitorais.
**Análises dos candidatos**
**Jair Bolsonaro -** O presidente tem dificuldade de articular fatos positivos de seu governo e parece dialogar mais com seu eleitorado raiz do que com possíveis eleitores. Menos moderado do que no Jornal Nacional, foi preparado para atacar e ser atacado.
“_Seu governo (Lula) foi o mais corrupto da história do Brasil_”
“_A economia está bombando, e o Brasil está sendo exemplo para o mundo nessa área_”
“_Esses mais pobres que estão passando necessidade, alguns passam fome, sim, não nesse número exagerado. Querer fazer demagogia com números aqui fica complicado_”
**Lula -** Tenta contrapor a gestão de Bolsonaro com seus dois mandatos presidenciais, mas sofre para apontar direções de futuro de seu plano de governo, usa um discurso repetitivo sobre os escândalos de corrupção nos governos petistas e tem dificuldade de se isolar dos péssimos indicadores da gestão de Dilma Rousseff, sua sucessora.
“_Sigilo de 100 anos (de Bolsonaro), enquanto, no nosso, eu tirei ministro porque comeu um pastel ou uma porque comeu uma tapioca e não conseguiu provar_”
“_Eu espero que o Ciro nessas eleições não vá para Paris. Eu espero que o Ciro fique aqui no Brasil, que a gente sente para conversar e possa construir a verdadeira aliança política que ele sabe que vai ser construída_”
“_Estou mais limpo do que ele ou qualquer outro parente (de Bolsonaro)_”
**Ciro Gomes -** Conseguiu dividir bem suas participações entre apresentação de propostas e ataques a Lula e Bolsonaro. Tenta ganhar o voto de quem rejeita os dois líderes das pesquisas pelo bolso: fala de economia, de endividados, de criação de emprego e desenvolvimento econômico.
“_Eu quero encerrar essa disputa de quem é mais Papai Noel em véspera de eleição, mais R$ 200 de Bolsa Família, que mostra os limites politiqueiros da política de renda_”
“_O Lula é esse encantador de serpente, vai na emoção das pessoas, cativa. Nós temos uma relação bastante antiga, e ele quer sempre trazer a coisas pro lado pessoal_”
“_Se você olhar o Brasil, tudo está fora do lugar. É uma coisa que me choca ouvir o Presidente Bolsonaro dizer que a economia está bombando. Hoje, no Brasil, meu irmão?_”
**Simone Tebet -** Deu sequência à boa participação no Jornal Nacional e, assim como Ciro, conseguiu equilibrar os ataques aos adversários com propostas. Já ao contrário de Ciro, busca ganhar o eleitor moderado pelo lado social, com um discurso voltado mais às mulheres.
“_Nós acabamos de sair de uma pandemia, se é que saímos dela, uma pandemia que podia ter sido muito melhor gerida se nós tivéssemos um Presidente da República sensível à dor alheia. Lamentavelmente, no momento que o Brasil mais precisou do Presidente da República, ele virou as costas para a dor das famílias enlutadas brasileiras. E negou vacina no braço do povo brasileiro_”
“_A corrupção não começou nesse governo. A corrupção é fruto de governos passados e a corrupção mata_”
“_Não vi o presidente da República pegar a moto dele e entrar em um hospital para abraçar uma mãe_”
“_Temos radicalização e desarmonia em função de termos um presidente que ameaça a democracia a todo o momento, não respeita a imprensa livre, a independência do Supremo, do Poder Judiciário e do Legislativo. Precisamos trocar o presidente da República_”
**Luiz Felipe d’Avila -** Tem um discurso liberal mais incisivo do que o apresentado pelo Novo em 2018 com João Amoêdo. Vai bem quando fala em acabar com privilégios, em incentivos à iniciativa privada, mas esbarra quando propõe enxugar a presença do Estado em um país onde mais de 20 milhões de famílias recebem o Auxílio Brasil.
“_Nós somos o país entre os 15 mais que cobra imposto. Pra quê? Pra dar um serviço público de péssima qualidade. Tá na hora de ter gestão pública. E, pra isso, é preciso deixar de votar no menos pior. Precisamos votar em alguém que entenda de gestão pública_”
“_Nós vivemos nesse país do realismo mágico, não é? Se nós pegarmos— Que nem um jogo de futebol: quando terminar lá os 45 minutos do segundo tempo, depois de 14 anos no poder, qual foi o Brasil que o PT deixou para nós? 13 milhões de desempregados, a maior recessão econômica da história, contas públicas estouradas, o maior escândalo de corrupção do mundo, o início do nós e eles, que começou a esgarçar a democracia brasileira_”
“_É o investimento privado, é o mercado que resolve. Daí a importância da privatização. A gente tem que privatizar tudo no Brasil_”
**Soraya Thronicke -** Teve a chance de se apresentar para o eleitorado e buscou descolar sua imagem da figura de Jair Bolsonaro, a quem apoiou em 2018. Com um discurso mais agressivo, também tenta atrair o voto feminino.
“_Sou muito tranquila, vim na paz, bandeira branca. Só que, quando eu vejo o que aconteceu agora com a Vera, eu realmente fico extremamente chateada. Quando homens são tchutchuca como outros homens, mas vêm pra cima da gente sendo tigrão, eu fico extremamente incomodada. Aí eu fico brava, sim_”
“_Lá no meu estado tem mulher que vira onça. Eu sou uma delas. Eu não aceito esse tipo de comportamento e de xingamento_”
“_Não sou atriz e não estou aqui para disfarçar, mas vocês podem ter certeza de que, do jeito que está, eu vou começar a entregar, e é muita coisa aqui. Reforcem a minha segurança, delegado_”