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Presidente do Peru é destituído e preso após tentar golpe

Pedro Castillo, primeiro líder de origem rural da história do país enfrenta acusações de corrupção em meio um mandato turbulento

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O Congresso do Peru destituiu do cargo o **presidente de esquerda Pedro Castillo** nesta quarta-feira, 7, horas depois de o presidente ter tentado dissolver o Parlamento e instaurar, sem sucesso, um golpe de Estado no país. Sem apoio e isolado politicamente, Castillo foi preso duas horas depois de declarar um “_governo de emergência_” no país. A vice-presidente Dina Boluarte assumirá o cargo.

Com o **golpe frustrado**, Castillo tentou uma última cartada para impedi-la com a dissolução do Congresso e a instauração de um governo de emergência – o que não encontra respaldo na Constituição peruana.

“_Tomamos a decisão de criar um governo de emergência para reestabelecer o estado de direito e a democracia, eleger um novo Parlamento e uma nova Constituição_”, disse Castillo em pronunciamento, que **ampliou dramaticamente a crise política** peruana e a fragilidade institucional do país, que, com a nova troca de comando, teve seis presidentes nos últimos seis anos.

A reação foi imediata: renúncia em massa de ministros, **abandono de aliados** no Congresso e comunicados do Judiciário, Ministério Público e Forças Armadas em prol da ordem democrática.

O ministro da Justiça Félix Chero deixou o cargo para “_respeitar a ordem democrática_”. A vice-presidente Dina Boluarte declarou que a instauração de um **governo de emergência** consiste numa ruptura da ordem democrática. Até o advogado que defende Castillo, Benji Espizona, deixou o posto.

A Suprema Corte também reagiu com veemência ao decreto e pediu que as Forças Armadas e a população “_defendam a ordem democrática_” no país. A procuradora-geral do Peru, Patricia Benavides, também rechaçou de maneira enfática qualquer **ruptura da ordem constitucional** que possa ocorrer no país.

Em nota, as Forças Armadas peruanas e a Polícia Nacional disseram que se manterão fiéis à Constituição e não acatarão nenhuma ordem contrárias à **Carta Magna do país**.

**Entenda a crise**

A dissolução do Congresso peruano não é uma prática incomum no país nas últimas décadas, já que a Constituição elaborada durante o **governo de Alberto Fujimori (1990-2000)** permite ao presidente dissolver o Parlamento e convocar novas eleições.

Em 2019, o então presidente do país, **Martín Vizcarra**, por exemplo adotou uma medida similar para ampliar seu capital político, mas não instaurou um governo de emergência, nem falou em alterar a Carta Magna, ambas medidas anunciadas por Castillo nesta tarde.

Segundo analistas, estas duas últimas medidas principalmente avançam o sinal e constituem uma ruptura institucional. “_O que ocorreu no Peru foi um golpe de Estado com todas as letras_”, disse Fernando Tuesta, professor da PUC Peru. “_Se Castillo tinha baixa legitimidade, agora perdeu sua legalidadde. Está usurpando o poder e ninguém deve obediência a ele._”

A tentativa de golpe de Castillo foi feita poucas horas antes de o Congresso, no qual o presidente não tem maioria, debater uma **moção de censura que poderia retirá-lo do cargo**. Castillo foi eleito em 2021 por uma pequena margem contra a conservadora Keiko Fujimori com uma plataforma de esquerda e com forte apoio das zonas rurais do país.

Desde então, a oposição já tentou em outras duas oportunidades tirá-lo do cargo por meio de um **impeachment**, ainda que sem sucesso.

**O governo de Castillo foi marcado por escândalos de corrupção e investigações criminais**, bem como pela instabilidade política, com trocas constantes de ministros. Os promotores o acusaram de liderar uma organização criminosa com legisladores e familiares para lucrar com contratos do governo e de repetidamente obstruir a Justiça.

No mês passado, o líder peruano ameaçou dissolver o Congresso usando uma manobra constitucional controversa, e meios de comunicação locais relataram recentemente que ele tentou entrevistar **líderes militares** sobre o apoio a tal medida.

Durante seu mandato, ele passou por **mais de 80 ministros e ocupou muitos cargos com aliados políticos sem experiência relevante**, alguns dos quais enfrentaram investigações por corrupção, violência doméstica e assassinato.

![Pedro Castillo: de ascensão popular para um mandato turbulento e cercado de denúncias de corrupção (Foto: Peruvian Presidency)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/Peruvian_Presidency_be7389f4e6.png)

**Do sindicato à presidência**

Castillo, um ex-agricultor, professor e ativista sindical **sem experiência anterior em governo**, prometeu na campanha para apoiar os peruanos mais pobres. Sua vitória refletiu a crescente desilusão no Peru de uma classe política de elite que foi manchada por anos de escândalos de corrupção e lutas internas.

O presidente deposto alega que moção de impeachment faz parte da mesma tentativa de impedi-lo de governar que o perseguiu desde sua vitória sobre Fujimori, que liderou uma campanha de semanas para **anular os resultados da eleição** com base em alegações infundadas de fraude.

“_Ao longo dos 17 meses de minha gestão, um determinado setor do Congresso se concentrou apenas em me destituir do cargo, porque nunca aceitou o resultado de uma eleição que vocês, queridos peruanos, definiram com seus votos_”, disse Castilho. “_Não sou corrupto_”, acrescentou. “_Sou um homem do campo que vem pagando os erros da inexperiência, mas que nunca cometeu crime._”