A etimologia do nome confirma: Helio (Sol, na mitologia grega) Nakanishi (junção das palavras “centro” e “oeste” em japonês) estava predestinado a resplandecer na capital do País. O paranaense de Londrina descobriu as versões cabeleireiro e empreendedor em Brasília, onde fundou a rede homônima de salões de beleza há 45 anos. Obstinado e avant-garde, o neto de japoneses começou a trabalhar tão logo alcançou a maioridade. “Meu primeiro corte foi um chanel para uma colunista famosa na época”, lembra. “Trabalhava como ajudante em um salão no Gilberto Salomão e, num dia movimentado, eu me predispus a realizar o corte, que foi parar no jornal”, rememora.
No espaço de 70 m², tempos mais tarde, ele abriu o primeiro Helio Diff. O local fica em frente à atual sede da empresa, uma mansão de mil metros quadrados na QL 8 do Lago Sul. É na casa, ao som de pássaros e ao lado dos muitos familiares da rede, que ele passa boa parte dos dias. “Empresas familiares podem dar certo. A nossa é um exemplo”, desmistifica.
O segredo de seu reconhecimento, que ultrapassa as fronteiras do Distrito Federal, é a discrição somada à busca constante por inovação. A modéstia é outro traço marcante. Quem o vê com roupas simples e os pulsos desnudos não imagina a grandeza de seus feitos profissionais. “A simplicidade é o máximo da sofisticação”, defende.
A clientela dos salões do grupo, fixados em quatro pontos estratégicos de Brasília, é fiel e igualmente numerosa: não é incomum encontrar nas cadeiras quatro gerações de fidèles. “Lealdade é a palavra. Quem vem, confia no serviço”. Diplomatas, políticos e celebridades como Lady Di e Fernanda Montenegro integram o histórico de clientes. Damas da sociedade também. “Nosso público não é A, B ou C. Nossos clientes são clientes felizes”, frisa. Agregador, o paranaense encontra em ações filantrópicas, como cortes de cabelo solidários, uma forma de retribuir o acolhimento brasiliense. “Tenho uma responsabilidade social com Brasília, minha eterna capital da esperança”, afirma.
Enquanto cria um origami e degusta o segundo ou o terceiro expresso do dia, o personal beauty passeia pela linha do tempo que o trouxe até aqui. “Meu avô por parte de mãe foi um dos japoneses convocados por Juscelino Kubitschek para formar o cinturão verde que contorna o Distrito Federal, em 1957”, compartilha. Dos antepassados orientais, herdou a disciplina e as habilidades manuais. A característica mais admirada por ele no país de origem da família, nação em que a tradição anda de mãos dadas com a modernidade, é a sede por inovação: “Penso em inovar 24 horas por dia”.
Em família
O CEO do grupo é um sobrinho. Firme sem perder a ternura, Gustavo Nakanishi pilota a equipe de 287 colaboradores há mais de vinte anos. “Comecei varrendo cabelo do chão”, lembra. Além dos quatro salões, ele administra os outros braços da empresa: a escola de formação Beauty Lab (antigo Instituto Helio), no Setor Comercial Sul, responsável pela formação de cinco mil alunos ao longo dos anos; e a H Cosméticos, rede de salões mais acessível, com três unidades e um e-commerce.
Apesar da diferença geracional, Gustavo compartilha o mesmo mote do tio de formar mão de obra especializada para o setor. “Nosso objetivo é atender o público mais exigente de Brasília, oferecendo a melhor qualidade. Internamente, entretanto, nossas metas são mais simplistas e ligadas ao nosso verdadeiro propósito: empoderar profissionais da beleza, muitas vezes vindos de realidades financeiras desafiadoras”, declara Gustavo, também presidente do Sindicato dos Salões, Institutos, Centros de Beleza e Estética do Distrito Federal (Simbeleza-DF). Diversos nomes conceituados do mercado foram formados pela academia Helio Diff.
Além dos parentes – Gabriela Nakanishi, a caçula dos três filhos do fundador, é a mais nova contratada pelo clã –, a empresa coleciona colaboradores de longa data. A rotatividade é baixa, como comprova Maria Dinalva Queiroz, cabeleireira desde a fundação, em 1979. “Nosso maior capital é o humano”, atesta o CEO.
Defensor da classe
Precursor de técnicas como a cromoterapia, o segundo maior cliente da L’Oreal Paris no Brasil é considerado um líder pela classe. Peça-chave para a regulamentação da categoria no País, Helio ajudou a mudar a vida de mais de 700 mil profissionais da beleza, antes invisíveis perante a lei.
Respeitado no Congresso Nacional, com frequência, presidentes de entidades recorrem a ele para articular mudanças necessárias para a categoria. Helio se faz presente no parlamento, mas ignora os códigos de vestimenta do legislativo. Afinal, “não precisa de gravata para ser ouvido”. Sua influência foi crucial para a aprovação da Lei do Salão-Parceiro. “Não gosto de contemplar os efêmeros sucessos do passado. Há muita luta pela frente”, pondera. Agora, ele trabalha para ajustar a nova Reforma Tributária.
Apesar de sua influência política, Helio nunca almejou cargo público. Outra ideia que jamais passou pela cabeça dele foi deixar Brasília. “A mistura de sotaques da capital me encanta. Atendo uma pessoa do Sul, depois uma carioca, uma francesa. A diversidade de biotipos aqui é incrível para criar”, justifica. Sobre os próximos 45 anos do império familiar, ele prefere não especular: “Escreveremos o futuro como sempre fizemos, um dia após o outro, com responsabilidade social e gratidão aos brasilienses”.