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Pós-pandemia: infraestrutura precisa se expandir diante das novas demandas

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Epidemias e povoamentos em uma relação íntima, baseada na constatação de que cidades, em si, são **focos de disseminação de doenças**. Estruturas do espaço e da organização comunitária, os centros urbanos são o marco da **identidade social**, centros econômicos, e o sítio delimitado de um povo.

Sob esta ótica, a forma como planejamos nossas cidades é um **reflexo** de uma época, sua cultura e suas possibilidades tecnológicas. Em certos casos é um reflexo também de grandes crises. As cidades frequentemente responderam as epidemias com **inovações**, sejam elas _sanitárias_ – fornecimento de água, redes de esgoto, construção de grandes parques, espaços abertos– sejam elas em sua _infraestrutura_ – melhoria de transporte, abertura de vias e novos bairros, necrópoles e cemitérios, entre outras.

A rápida disseminação do vírus da COVID-19 **modificou drasticamente** o uso dos espaços públicos e privados, assim como as _relações sociais_ e _comerciais_. A relação do cidadão com a cidade se tornou **contraditória**, pois ao mesmo tempo em que cidade é o local de disseminação de uma doença também é o local de proteção do indivíduo, em seus lares e em seus hospitais, e a onipresença viral se transforma então em uma ameaça real e imaginária na urbanidade.

**Vivenciamos tempos muito diferentes:** os espaços ficaram contidos e socialmente reservados, e a sociedade teve que aprender a _funcionar de maneira mais solidária_, se apoiando e cooperando para que as pessoas pudessem sobreviver às **restrições** e ao **isolamento**. Relembrar como as cidades responderam às pandemias no passado nos ajuda a refletir sobre possíveis **soluções para o futuro**.

Atenas foi atingida pela _praga_, e em seguida perdeu a Guerra de Peloponeso contra Esparta. A Capital do Império Asteca, Tecnochtitlan, entrou em _colapso_ após a chegada dos conquistadores espanhóis, que _disseminaram uma série de doenças_ comuns à raça europeia, significando a **extinção** de um povo e culminando na tomada do sítio urbano e na criação da moderna Cidade do México.

Em 1854, **Londres** foi assolada pela epidemia de _cólera_. Na época, ficou provado que a doença era causada pelo consumo de água infectada, o que alertou os governantes para a necessidade de maior atenção à saúde pública e ao saneamento. Isto demandaria não só a utilização de métodos de combate às epidemias, mas também a maior eficiência dos métodos de ação e de fiscalização.

Em 1858, **Paris** se transformava através do _Plano Haussmann_, que abria grandes avenidas e ordenava a demolição de doze mil construções instáveis ou cortiços, em nome da _boa iluminação_ dos lares, da _boa ventilação_ da cidade, da possibilidade de _acesso à água tratada_ e de práticas corretas de _saneamento_. A gripe espanhola, também conhecida como gripe de 1918, foi uma vasta e mortal epidemia do vírus influenza, que fez milhares de vítimas no mundo todo.

Justamente neste contexto é que surge um dos movimentos mais expressivos da nossa urbanização: o **modernismo**. A influência de um meio construído mais “saudável” é inegável quando se estuda a teoria e os conceitos do desenho modernista, tanto em termos da ocupação na cidade quanto em termos do próprio objeto construído, a casa.

Já no início do século XX, movimentos na **Inglaterra** e na **Alemanha** pregavam a necessidade, em prol da boa saúde, de moradias mais “salubres, amplas, iluminadas e ventiladas” e um estilo de vida mais ligado à _natureza_. Como doenças como a tuberculose, muito comum à época, atingia mais homens e mulheres jovens, em idade ativa, o dano financeiro na economia europeia era considerável.

O estilo de vida pregado pelo movimento modernista, mais _equalitário_ e baseado em dogmas higienistas, com valores socialistas, era o ideal para o momento. Agora, em tempos de pandemia, temos novamente a oportunidade e a necessidade de repensar as cidades. **Brasília**, com seus espaços públicos generosos, jardins e parques, já é, por si só, um convite à convivência urbana em suas áreas externas.

As áreas verdes, mais precisamente os **parques**, nunca foram tão importantes dentro da estrutura urbana. Se pensarmos em _densidade_, o **Plano Piloto** já oferece uma situação mais segura, já que não se trata de áreas com população altamente concentrada em um determinado perímetro. É arriscado, porém, se fazer uma correlação simplista entre urbanização e grau de contágio, já que algumas cidades com altas densidades populacionais e maior rede de atendimento médico parecem também controlar mais eficientemente as doenças contagiosas.

O que é inegável é perceber que a situação da nossa cidade já nos oferece uma grande vantagem, desde seu nascimento: a existência de _espaços públicos amplos de recreação_, ligados à natureza, prédios distantes entre si, apartamentos ventilados e bem iluminados.

Com a pandemia, o brasiliense se **apoderou** mais e mais destes espaços públicos. Tivemos que nos deslocar de maneira diferente, consumir de maneira diferente, viver de maneira diferente.

Percebeu-se a grande vantagem física e psicológica de se contar com espaços ao ar-livre seguros quando se deve cuidar do isolamento e do distanciamento social. No futuro, isto pode representar a adoção de um _desenho urbano mais humano_ para a cidade, que represente o entendimento da nossa responsabilidade social como cidadãos e o compromisso político necessário para cuidar e manter espaços que assegurem para todos o direito à cidade – em todo Distrito Federal.

Vizinhanças mais autônomas, com possibilidades de assistência médica a curta distância – todas as comodidades, empregos, compras e serviços mais perto de casa, alcançáveis em curto tempo a pé ou de bicicleta. Mobilidade maior com investimentos na área de transporte, de maneira sustentável e democrática. Esta é a base da proposta formulada pela prefeita de Paris, **Anne Hidalgo**, com o objetivo de integrar a população aos seus bairros e reduzir a emissão de poluentes na cidade – o movimento “cidade de 15 minutos”. Não seria uma solução bem ajustável a uma cidade que nasceu com o conceito de “unidade de vizinhança”?

O **“urbanismo biomórfico”**, base teórica do movimento, prega que o planejamento urbano e a infraestrutura da cidade sejam orientados pela **ecologia**, com capacidade de se regenerar e de se expandir de acordo com as demandas da população crescente. Isto inclui uma mudança da relação dos moradores da cidade com o espaço e o tempo – inclusive o tempo consumido no deslocamento de cada pessoa entre um ponto e outro da cidade. Isto envolve uma revolução no modo de pensar e planejar as cidades – quase que o fim da era dos automóveis. Espaços públicos mais livres da poluição, e vias amigáveis aos pedestres e ciclistas, o fim dos bolsões centrais de vagas de estacionamento e a adaptação de vias como exclusivas ou semiexclusivas para pedestres.

O desafio maior, assim como em qualquer cidade com grande desequilíbrio de distribuição de renda, é de que maneira podemos fazer isto – e como esta ação pode alcançar a população mais carente. Em um País com déficit habitacional de sete milhões de unidades, é gritante a existência de um grande panorama de áreas fragilizadas e excluídas de serviços urbanos essenciais. Novos desafios se somam a antigos problemas.

Como moradores e como amantes de Brasília, entendemos que devemos planejar o futuro, de maneira inclusiva, para uma cidade mais humana e comprometida com a qualidade de vida das futuras gerações. A Covid-19 nos deu uma oportunidade de pensar em como vivemos e como nos relacionamos na cidade. As comunidades e vizinhanças são as grandes redes de suporte das pessoas mais vulneráveis para tempos mais difíceis. Se cada vez mais somos uma “espécie urbana”, os ambientes urbanos devem estar associados a uma ótima qualidade de vida – para todos.

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