Provavelmente você já viu – ou até mesmo já participou – daqueles desafios saudáveis que consistem em ficar um determinado período sem ingerir bebida alcóolica. Com isso, as mudanças no corpo são visíveis: menos inchaço, melhora no padrão do sono, redução de gordura corporal, entre outras.
E não é somente quem consome álcool com grande frequência que é beneficiado com essas mudanças. A endocrinologista Daniela Gebrim explica que mesmo quem ingere essas bebidas de forma casual está sujeito a riscos: “Beber grandes quantidades de álcool em uma única ocasião, mesmo que de forma esporádica, pode levar à intoxicação aguda, com efeitos no cérebro e no corpo similares ao consumo mais frequente, como redução da coordenação motora, alteração no julgamento e comportamento de risco”, afirma.
Para ela, o binge drinking, que é o padrão de “beber pesado episódico”, é considerado um comportamento perigoso, pois pode levar a complicações a curto prazo. “Os efeitos crônicos e doenças específicas estão mais relacionados ao consumo regular e abusivo a longo prazo. Os riscos crônicos estão intimamente ligados ao volume de álcool consumido ao longo do tempo e ao padrão de consumo excessivo e mantido”, destaca a médica.
Sobre o inchaço, cujo nome técnico é edema, Daniela explica que a condição é causada pelo acúmulo de líquido nos tecidos do corpo. “O álcool leva a esse edema por meio de dois mecanismos principais: pela desidratação e pelas alterações hormonais”, pontua. O álcool é um diurético potente, pois inibe a liberação de hormônio antidiurético. Enquanto isso, a redução da hidratação no corpo leva ao aumento imediato da produção de urina.
“Assim, a pessoa perde muito líquido, levando à desidratação, mas o organismo tenta compensar essa perda retendo água nos tecidos da face, abdome e pernas”, afirma. “Além disso, o álcool desencadeia uma resposta inflamatória aguda no organismo, o que ocasiona a vasodilatação, principalmente na pele e na face. Essa dilatação dos vasos facilita o vazamento do líquido para fora dos vasos, contribuindo diretamente para o inchaço”, acrescenta.
Dessa maneira, a percepção de que o corpo fica “menos inchado” após um período de abstinência de álcool é uma experiência comum, de acordo com Daniela. Ela relata que, geralmente, os primeiros efeitos da redução do inchaço começam a ser notados já em poucos dias. Em até duas semanas, o inchaço reduz muito. “A desintoxicação ocorre entre sete e dez dias, período em que o fígado metaboliza e elimina as toxinas, melhorando as funções do corpo, entre elas a retenção de líquidos”, detalha.
“É por isso que, em poucos dias ou semanas de abstinência, a pessoa percebe uma melhora significativa no inchaço e na aparência geral. Esse é um dos benefícios mais rápidos e visíveis de parar de consumir álcool, pois é um processo fisiológico direto”, ressalta. “A boa notícia para quem nota essa mudança é que o inchaço e a retenção de líquidos induzidos pelo álcool são processos relativamente rápidos e que se revertem prontamente com a interrupção do consumo. Pausas curtas ainda provocam mudanças no padrão do sono, redução da gordura corporal e melhora da pressão arterial”, completa.
Os efeitos do álcool no corpo
Daniela conta que o consumo de álcool afeta diversos sistemas do organismo humano e pode causar efeitos imediatos e a longo prazo. É uma substância depressora do sistema nervoso central.
E como o corpo reage ao consumo do álcool? A substância é absorvida rapidamente pelo estômago e vai para o sangue, impactando o cérebro ao afetar o comportamento, a cognição e a coordenação motora. “No cérebro, o álcool reduz a atividade cerebral, e pode levar à danificação de raciocínio, sonolência, relaxamento e redução da ansiedade”, explica a médica.
Ainda, o álcool potencializa a atividade do ácido gama-aminobutírico (GABA) e reduz o glutamato, a atenção, a memória e o aprendizado, além de promover um estímulo temporário da dopamina, que é ligada à sensação de prazer, o que pode levar à dependência. “Pode, ainda, levar agudamente à alteração da fala, coordenação motora e alteração do equilíbrio”, alerta.
A endocrinologista explica, por fim, que o álcool é processado principalmente pelo fígado, e seu consumo excessivo pode causar esteatose hepática (surgimento de gordura no fígado), hepatite e, em casos graves, cirrose. “Há ainda aumento do risco de câncer, incluindo boca, garganta, esôfago, fígado, intestino e mama, dos níveis de pressão arterial (pressão alta), arritmias e doenças cardíacas”, conclui.