O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que os quase 2 milhões de palestinos que ele quer deslocar da Faixa de Gaza não seriam permitidos a retornar ao território sob seu plano hipotético de reconstruí-lo. Em um trecho de uma entrevista ao canal Fox News, programada para ir ao ar na noite desta segunda-feira (10), Trump detalhou sua recente proposta para uma tomada liderada pelos americanos de Gaza.
Perguntado se os palestinos que seriam removidos do território enquanto ele é limpo teriam o direito de eventualmente retornar à sua pátria, ele disse: “Não, eles não teriam. Porque eles vão ter moradias muito melhores – em outras palavras, estou falando sobre construir um lugar permanente para eles.”
A noção de Trump de que os EUA tomem Gaza e reassentem sua população tem recebido ampla condenação internacional, com alguns críticos comparando-a uma limpeza étnica. A deportação forçada ou transferência de uma população civil é uma violação do direito internacional e um crime de guerra, segundo especialistas. Trump anteriormente sugeriu que a população de Gaza fosse relocada para a Jordânia e Egito, uma ideia que ambos os países prontamente rejeitaram. Mas na entrevista Trump disse que “poderia fazer um acordo” com a Jordânia e Egito.
Em comentários separados no domingo (9), Trump reiterou sua proposta para os Estados Unidos tomarem Gaza, dizendo a repórteres no Air Force One, o avião presidencial americano, que a faixa de terra era “um grande espaço imobiliário” que os Estados Unidos “vão possuir”. Os comentários mais recentes de Trump adicionaram ainda mais confusão em torno da proposta, que ele anunciou pela primeira vez na semana passada em uma coletiva de imprensa na Casa Branca ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
Oficiais de topo na administração Trump tentaram minimizar os comentários do presidente na quarta-feira (5), um dia após ele anunciar a ideia pela primeira vez. Eles insistiram que o republicano não se comprometeu em enviar tropas americanas para Gaza e que qualquer realocação de palestinos seria temporária.
Mas no domingo, enquanto Trump estava viajando para assistir ao Super Bowl em Nova Orleans, ele levantou a proposta novamente. “Não haverá ninguém lá” , disse Trump no Air Force One segundo as gravações. “Hamas não estará lá. Nós vamos construir [moradias] com ajuda de outros países muito ricos no Oriente Médio; eles estarão construindo alguns locais belíssimos para as pessoas, os palestinos, morarem,” ele disse.
Netanyahu, em uma reunião de seu gabinete no domingo quando retornou dos EUA, elogiou a visão de Trump para a região após a guerra. “Existem oportunidades para possibilidades que eu acho que nunca sonhamos, ou pelo menos alguns meses atrás não pareciam possíveis – mas são possíveis”, disse.
O presidente Trump veio com uma visão completamente diferente para o futuro de Gaza, muito melhor para o Estado de Israel, uma visão revolucionária e criativa, sobre a qual estamos discutindo. Ele está muito determinado a realizá-la”, disse Netanyahu.
Quando Trump introduziu a proposta na Casa Branca na semana passada, sua administração não havia feito nem mesmo o planejamento mais básico para examinar a viabilidade da ideia, segundo pessoas com conhecimento das discussões. Isso envolveria deslocar dois milhões de palestinos de Gaza. Na coletiva de imprensa ao lado de Netanyahu, Trump disse que os Estados Unidos assumiriam a Faixa de Gaza e que os EUA seriam responsáveis por se desfazer de munições não detonadas e reconstruir o local, transformando-o no que ele chamou de “a Riviera do Oriente Médio”.
A proposta inicial de Trump provocou uma rápida rejeição da Arábia Saudita, um importante aliado do país na região, e provocou raiva em países próximos, incluindo a Jordânia , que já abrigam milhões de refugiados palestinos. O líder da Jordânia, o rei Abdullah II, deve se encontrar com o presidente em Washington na terça-feira (11).
O plano para a Faixa também foi recebido com alarme imediato pela ONU e outros que disseram que violaria o direito internacional. “Qualquer deslocamento forçado de pessoas equivale a uma limpeza étnica”, disse o porta-voz da ONU Stéphane Dujarric quando questionado sobre as propostas do presidente dos EUA. (com agências internacionais)