Após uma década de espera, os amantes da dança terão a oportunidade de testemunhar a grandiosidade artística do Grupo Corpo, mais uma vez em Brasília. A maior companhia de dança do Brasil está de volta à Capital com seu espetáculo inovador e emocionante, Gira, que promete transportar o público para uma experiência única no mundo da dança.
O show, marcado para o próximo sábado (9), terá lugar no auditório máster do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, e é resultado de um profundo mergulho na cultura e na espiritualidade afro-brasileira, especificamente na umbanda, uma das religiões mais influentes do Brasil, que combina elementos do candomblé, catolicismo e kardecismo.
A cenografia, a iluminação e os figurinos são elementos igualmente essenciais para a narrativa de Gira. O palco transforma-se em um quadrado de linóleo negro, iluminado intensamente, que simboliza um terreiro, o espaço central das cerimônias afro-brasileiras. Não há coxias, apenas 21 cadeiras nas laterais e no fundo do palco, cada uma delas iluminada tenuamente, evocando presenças incorpóreas. O cenário, criado por Paulo Pederneiras, é coberto por tule negro, que também envolve os bailarinos quando estão fora de cena.
O espetáculo começa com sete bailarinas em transe, com mãos cruzadas sobre o quadril, olhos fechados e movimentos vagos e hipnóticos, estabelecendo imediatamente a atmosfera mágica que permeia toda a apresentação. No entanto, a apresentação não é uma mera mimética dos rituais afro-brasileiros, é uma fusão magistral do vocabulário gestual e coreográfico adquirido por Rodrigo Pederneiras ao longo de décadas como coreógrafo.
Os figurinos, projetados por Freusa Zechmeister, são igualmente impressionantes, com todos os membros do elenco vestindo torsos nus, complementados por saias brancas de corte primitivo e tecido cru.
A equipe do GPS conversou com o cinegrafista Pederneira Pederneiras para saber mais sobre o espetáculo Gira. Confira!
Paulo, Gira é claramente uma obra que mergulha nas tradições da umbanda e da cultura afro-brasileira. O que inspirou a criação de um espetáculo com essa temática?
Ele foi criado em 2017. O grupo tem uma tradição de fazer espetáculos com música especialmente composta para o grupo, desde sempre. A gente já fez Gilberto Gil, Caetano Veloso, João Bosco, Arnaldo Antunes, Tom Zé e Marco Antonio Guimarães. Convidamos o artista a compor a música, a trilha para o grupo Corpo, e eles tem toda a liberdade de, inclusive, propor também o argumento do espetáculo. E, nesse caso, convidamos o Metá Metá, e eles propuseram fazer a trilha como uma homenagem a Exu. Eles são da religião do candomblé. E então foi proposto essa peça, esse assunto.
Como os elementos de cenografia, iluminação e figurinos contribuem para a narrativa do espetáculo?
No caso do Gira, fizemos uma opção pelo espaço cênico, que é um grande quadrado iluminado, onde acontece a gira e em volta temos várias cadeiras onde os bailarinos ficam quando, digamos, não estão em cena. Eles até continuam em cena, mas estão sentados nessas cadeiras com um véu preto em cima dos corpos. Em cima de cada um tem uma lâmpada, que, enfim, indica sempre a presença de uma entidade. E eles participam da gira quando são convocados, eles saem debaixo do véu e dançam nesse espaço iluminado. No caso da luz e do figurino, são todos iguais, todos de torso nus. Eles todos usam uma saia branca de algodão.
Olhando o corpo técnico do espetáculo, temos alguns Pederneiras presentes. Pode nos explicar melhor a relação de família que existe no Gira?
O Corpo vai fazer 50 anos daqui a um ano. Desde que foi fundado, em 75, tinham vários membros da família. Eu fundei o grupo e junto comigo estava o meu irmão Rodrigo, que é o coreógrafo do Corpo até hoje, e mais outros da família que dançavam. Myrian também foi uma das fundadoras e mais alguns irmãos que estavam no primeiro espetáculo, que se chamava Maria Maria (Milton Nascimento). Essa música foi feita para nós já na época e então tinham realmente vários Pederneiras.
O que você espera que o público leve consigo após assistir ao Gira?
Olha, o Gira é uma homenagem a Exu. A gente está fazendo uma homenagem a esses cultos de raízes afro. E a importância que tem isso na cultura brasileira. Os negros, hoje, são maioria na cultura brasileira e sem eles eu acho que seria completamente outra coisa.
Por fim, o que mais o emociona em trazer Gira de volta aos palcos de Brasília após tanto tempo?
Sempre tivemos uma relação muito boa, muito próxima com o público de Brasília. A gente frequentou a cidade em quase todos os anos da existência do Corpo. E, infelizmente, depois que fechou o teatro (Nacional), ficamos sem possibilidade de nos apresentar aí. A gente torce o tempo inteiro para que eles reabram o teatro o mais rápido possível. Porque, enfim, é impressionante a capital do Brasil sem nenhum teatro pra poder acolher tudo que existe de artes cênicas.
Serviço:
Grupo Corpo – Gira
Data: 09 de setembro (sábado)
Horário: 22h
Local: Centro de Convenções Ulysses Guimarães
Acesso ao local: 20h
Classificação indicativa: 14 anos