De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), até 20% das crianças e adolescentes apresentam sintomas de ansiedade e depressão. Metade desses casos surge antes mesmo dos 14 anos, o que destaca a importância da atenção precoce ao bem-estar emocional na infância e na adolescência.
Nesse cenário, é importante ressaltar que o ambiente escolar exerce forte impacto sobre a saúde mental dos alunos, afirma a psicóloga clínica Mariana Pinto. “Desde um clima escolar positivo, passando pelo estabelecimento de vínculos de confiança, respeito e pertencimento, que resultam em menores índices de ansiedade e depressão”, destaca.
Para ela, o clima escolar refere-se à qualidade e ao caráter da vida escolar e, quando se torna positivo, ajuda as pessoas a sentirem-se social, emocional e fisicamente seguras. “Inclui as normas, as crenças, os relacionamentos, as práticas de ensino e aprendizagem dos alunos, dos pais e do pessoal escolar, bem como as características organizacionais e estruturais da escola”, explica. “Mantendo-se positivo, está associado a um melhor desempenho acadêmico, melhor saúde mental e menos bullying”, completa.
Transtornos como ansiedade, depressão e distúrbios do sono estão diretamente relacionados a casos de bullying, que, quanto mais intenso, maior a probabilidade de efeitos negativos sobre a saúde psicológica dos estudantes. “Saúde esta que se encontra debilitada diante do uso excessivo de dispositivos digitais”, alerta Mariana.
“O impacto é profundamente negativo, afinal, mais de quatro horas diárias de tela estão associadas a maiores riscos de ansiedade, depressão e problemas comportamentais, principalmente quando acompanhadas por sono irregular e baixa atividade física”, relata a psicóloga.
Assim, é importante se perguntar como identificar os sinais de alerta. Os pais devem ficar atentos aos sinais físicos, como insônia, dores de cabeça ou estômago sem causa aparente, mudanças no apetite ou sono; comportamentais, como isolamento, queda no rendimento e desinteresse em atividades anteriormente prazerosas; e emocionais, como irritabilidade constante, tristeza persistente, autoestima baixa, pensamentos obsessivos ou declarações sobre morte.
“Algumas crianças e adolescentes escondem tudo por trás de um comportamento exemplar, mas deixam pistas e cabe aos adultos que convivem com ela, sejam professores ou pais, perceberem e acolherem, estabelecendo assim uma bom vínculo de confiança, respeito e pertencimento”, aponta.
Algumas ações que você pode colocar em prática ainda hoje:
- Promover diálogo aberto e empático: momentos de rodas de conversa e reuniões de família, onde possam perguntar com cuidado e ouvir sem julgamento;
- Estabelecer uma rotina consistente: com horários previsíveis para reduzir ansiedade;
- Equilibrar e gerenciar o tempo de tela: incentive atividades físicas, leitura, jogos e momentos de qualidade na convivência do dia a dia;
- Observar padrões persistentes: que se mantenha como hábito, seja durante ou aos fins de semana, como evitar sair com amigos e familiares, preferir ficar em casa sozinho, passar o recreio sozinho, fazer trabalhos de escola sozinho;
- Se houver indícios de automutilação, troca de mensagens com ideação suicida ou sofrimento grave, busque ajuda urgentemente.
Ainda, considerando que muitas crianças e adolescentes passam mais tempo na escola do que em casa, certas estratégias eficazes podem ser desenvolvidas em ambiente escolar:
- Alfabetização emocional: para que os alunos saibam reconhecer, nomear e buscar apoio;
- Intervenções de mindfulness, atividades de meditação e respiração para controle de ansiedade;
- Programas de Aprendizagem Socioemocional: que podem ser como terapia em grupo, encontros recorrentes, temáticos e com foco em compartilhamento para foco em resolução, promovendo o desenvolvimento da empatia, do autocontrole e da resiliência;
- Eventos como palestras, oficinas e talks, que fortalecem a conexão entre alunos, famílias e educadores;
- Apoio e capacitação da equipe escolar: para evitar esgotamento, desenvolver estratégias de condução de conflitos e garantir o ambiente acolhedor.
Na opinião da especialista, a escola tem papel decisivo na promoção ou na deterioração da saúde mental. “Por meio de um clima escolar acolhedor, práticas que promovem regulação emocional, programas estruturados e alfabetização afetiva desde a infância, é possível reduzir o impacto da ansiedade e depressão e construir ambientes mais inclusivos e saudáveis”, reflete.
“Pais e professores precisam estar atentos aos sinais emocionais precoces, dialogar com sensibilidade e buscar apoio sempre que necessário. A colaboração entre família e escola é o caminho mais eficaz para promover bem-estar e prevenir crises futuras”, conclui.