Uma pobre criança negra que dançava nas ruas de St. Louis, Missouri, para se aquecer do frio. E que tornou-se um **ícone da moda**, caminhando pelas ruas de Paris com seu animal de estimação incomum: um guepardo. Esta é **Josephine Baker**, a cantora e dançarina afro-americana que deixou os Estados Unidos em meados da década de 1920 para uma Paris multicriativa. E lá **fez história**.

Cem anos depois, em tempos conflituosos de busca por novos ideais, representações e representatividades, **Maria Grazia Chiuri, diretora artística da Dior**, se alimenta da força de Baker e toda a sua trajetória para trazer robustez emocional ao **seleto grupo de mulheres** que poderá vestir a alta-costura da casa francesa, em peças delicadas, emblemáticas que se alimentam do excepcional savoir-faire parisiense.



E no vestir, **sentir a essência** do que o composto criativo, cênico e musical, adaptado às sensações inconscientes e coletivas do mundo, promove num vestido que, no corpo, tem o poder de **encorajar, inspirar, transmutar e ressignificar** almas e pessoas. Este é o sentido da moda, o vigor de uma narrativa que não fala de matéria tão somente, mas de comportamento e seus códigos a serem decifrados por **mentes sensitivas** a serviço de um poderoso mercado chamado luxo.





Mal sabia Baker no que se transformaria. Ela seria algo, fato, mas não imaginava para onde a vida a levaria. Em Nova York, ainda adolescente, ela foi descoberta por um produtor que precisava de artistas negros para impressionar os festivos franceses. **A fama veio aos 19 anos**, em 1926, quando o lendário cabaré _Folies Bergère_ se rendeu à sua ousadia. Poderosa, sua performance a fez ser aplaudida de pé consecutivamente por muitos minutos na noite de estreia. O motivo: um **show selvagem** com figurino de bananas e pérolas.

De lá até sua morte, em 1975, aos 68 anos, são favas contadas de ícones que se perdem no meio do caminho. Baker tornou-se **ativista da igualdade racial**, espiã dos aliados na Segunda-Guerra Mundial, defensora dos órfãos e uma das mulheres mais influentes na moda. Recebeu homenagens diversas, condecorada inclusive por Charles de Gaulle. Casou-se inúmeras vezes, adotando 12 crianças.
E foi da mulher negra mais rica do mundo à falência. Os últimos anos foram em Mônaco, assistida até a morte pela amiga Grace Kelly, à época princesa do pequeno país. Para Dior a identidade de uma **mulher icônica, glamurosa e empenhada**, encarnada na modernidade daqueles anos, promovendo mistura de culturas e experiências partilhadas. Uma narrativa composta por retratos gigantes de personalidades extraordinárias que simbolizam um novo panteão de mulheres.




Pelos bastidores da marca, o memorial de Baker foi sendo transmutado em **roupas vigorosas** que podem ser, sim, armaduras para mulheres que entendem a necessidade que o mundo tem em tê-las operando suas virtudes em destinação ao real sentido do viver. O **_savor-faire_** do divino plano original.