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Omik, o brasiliense que estampa os muros da capital e do mundo

Mikael Guedes, o Omik, fala sobre como começou a carreira no grafite e indica, ainda, outros artistas de rua que valem a pena acompanhar e conhecer

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Ao descer do ônibus, um menino ficou encantado com o trabalho que um artista de rua realizada em um muro qualquer de Brasília. Com traços fortes, cores harmoniosas e uma concentração quase mágica, o desenho do homem naquela parede inspirou um garoto, que mais tarde tornaria-se um dos principais artistas de Brasília.

 

O garoto permaneceu ali até que o artista recolhesse suas tintas e fosse embora. Apesar de ter se encantado pela arte desde os 6 anos, através dos quadrinhos da Turma da Mônica e tudo o que imaginava ser na vida adulta, foi naquele momento, observando o muro ser pintado, que a mudança aconteceu em sua vida. “Fui andando para casa e o pensamento sobre aquilo me incomodando, até que cheguei em casa e peguei os restos de tintas de parede e alguns pigmentos de pinceis. Foi ali, então, onde surgiu o meu primeiro trabalho na rua, onde se encontra resquícios até hoje”, conta Mikael Guedes, ou como é conhecido Omik.

 

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As ruas sempre foram fontes de inspiração para Omik. Ele sentia-se atraído pela liberdade e pela democracia que a arte de rua proporciona ao público. Embora tenha nascido em Brasília, em Ceilândia, passou parte de sua infância no interior do Ceará, onde a família tinha raízes. Por um tempo, teve uma relação de “amor e ódio” com a capital federal. Conhecia bem a região administrativa que viveu a maior parte de sua vida, mas não compreendia muito bem o centro, o Plano Piloto. “Sempre achei muitas coisas inacessíveis, como museus, teatros e até mesmo eventos”, refletia.

 

Foi no contato do dia-a-dia e até mesmo com o trabalho de grafite nas ruas do centro da capital que a relação com a cidade do coração passou a fazer sentido. “Demorei muito tempo a entender a localização das coisas e me situar de verdade”, inicia. “Até começar trabalhar, fazer faculdade, conhecer amigos e começar a sair para os lugares”, completa. Hoje, Brasília é a base de Omik, e foi no conhecimento do fundamento da cidade que “o olhar clínico” foi desenvolvido e sua vida entrelaçou-se com o Planalto Central.

 

“O que me chamava atenção era a organização do centro, o quanto era arborizado, muita vegetação entrelaçando os prédios, as pessoas. […] A decisão de permanecer em Brasília e me tornar um artista de Brasília foi o start para perceber que para existir referências e oportunidades na área [da arte], elas teriam que ser criadas. Brasília sempre buscava recursos externos, como artistas, pois não viam potencial ou conheciam artistas de casa. Até que há seis anos o cenário começou mudar, confesso que em muitas áreas. Minha relação com a cidade, hoje, é de gratidão, porque tudo que tenho de valioso como amigos, família e trabalho são frutos dessa experiência, onde tem os céus como pinturas vivas de Deus”, explica.

 

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O grafite é a vida de Omik, como ele mesmo define. Através da arte de rua, o jovem brasiliense percebeu Deus se comunicando com ele, conseguiu lidar de forma mais leve com a morte prematura dos pais, ganhou amigos queridos e conheceu pessoas com as quais talvez nunca tivesse tido a oportunidade de interagir. E o mais especial: foi por meio de seu trabalho que Mikael conheceu a esposa, Bruna, que na época trabalhava em um local onde Omik estava pintando. “É um grande motivo pra agradecer, o graffiti está totalmente entrelaçado com a minha vida”, destaca. 

 

 

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Dentre os trabalhos mais legais que realizou até agora, Omik destaca uma parede que pintou na Espanha; a primeira viagem a trabalho que realizou para a Alemanha, onde recebeu menção honrosa como artista brasileiro; e, ainda, um grafite em um muro de Paris, em uma rua onde ocorreu um atentado. Parcerias com marcas que “jamais imaginaria representar”, como Redbull, Monster, Coca-Cola, Amazon, Ifood e outras também fizeram parte desta jornada de trabalho do brasiliense.

 

E se pudesse dar um conselho para aspirantes à profissão que atua, Omik declara:

 

“Eu diria: Seja grato a tudo, principalmente ao que considera que deu errado! Veja isso como um desafio, não como um problema. Só está acontecendo em sua vida porque você é capaz de superar, precisa acreditar e agir, por você, pelo próximo que se inspira em você, que te ver como luz em algum ponto do túnel escuro. Decidir viver de arte é uma grande decisão, mas decidir viver do que se ama é uma imensa dádiva!”, finalizou.

 

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Das diferentes profissões que já pensou e os amigos que fez

 

Entre as várias profissões que Omik já considerou, ele já quis ser de arquiteto a designer de automóveis, de fotógrafo a músico. O mais interessante é que todos esses desejos fazem parte de sua vida e trabalho de alguma forma. Afinal, o brasiliense projeta narrativas em monumentos ao pintá-los, traz movimento à vida das pessoas por meio das histórias que oferece por detrás de seus grafite, é responsável por acumular memórias aos que têm contato com a sua arte e, claro, dá luz à criatividade daqueles que precisam de um pouco de música para seguir em frente. 

 

E falando em ser luz para caminhos, como aquele grafiteiro lá no início foi o start de sua carreira, Mikael traz alguns nomes como parceiros de jornada atualmente. Caburé, Jedi e Atoismo são alguns dos amigos que o grafite trouxe a Mikael e, hoje, também estão colorindo as ruas de Brasília, deixando a cidade conhecida por ser um museu a céu aberto ainda mais bonita. 

 

Caburé é conhecido nas rua de Taguatinga pelas famosas corujinhas azuis que estampa pelos muros. Sua marca registrada até mesmo já substituiu Juscelino Kubsticheck em uma releitura da estatua que fica em frente ao Memorial JK.

 

 

Jedi traz uma temática intergaláctica para os muros brasilienses, sempre adicionando óculos robóticos e dando voz à arte de rua de uma maneira incomum. Ele mistura uma realidade distópica com críticas pertinentes aos espaços que pinta. Normalmente, sua arte é vista em muros e portões de casas, mas, como bom brasiliense, já grafitou paradas de ônibus, caçambas de lixo e estruturas de pontes.

 

 

Atoismos é o cara da linguinha. Com várias cores, sua marca registrada pode ser grande, pequena, enrolada ou encurvada, ele faz o que a criatividade mandar em suas artes. O artista traz uma forte critica social sobre a infraestrutura da cidade para as classes menos favorecidas, vivificando problemas do dia-a-dia, como, por exemplo, a falha estrutura do metrô e, ainda, a desigualdade social explícita em Brasília. O artista também adora grafitar shapes de skate, e até já pintou um dos azulejos da cozinha da avó, deixando sua marca de artista até na família.