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O Roupa Nova da comédia: grupo Os Melhores do Mundo completa trinta anos de trajetória

Companhia faz aniversário junto com Brasília e revela como continuam sendo os melhores quando o assunto é fazer rir

Jovane Nunes e Adriano Siri entram em um dos camarins do Teatro da Caesb e dão de cara com dois violões. Enquanto Adriana Nunes prepara o espaço onde a Companhia de Comédia Os Melhores do Mundo receberia a revista GPS|Brasília para um bate-papo, os dois vão direto aos instrumentos e começam a tocar. Ela ainda tenta pôr ordem e pedir foco no propósito da conversa, mas logo entra na onda e cantarola: “Em mil novecentos e noventa e cincooooo começooou a apresentar…”, até ser interrompida pela chegada de Welder Rodrigues, que encerra a trilha sonora improvisada do trio. É nesse ritmo o encontro com as figuras que, junto com Ricardo Pipo e Victor Leal, formam a balzaquiana trupe de humor de Brasília, que completa trinta anos em 21 de abril de 2025.

Tirando o Beirute e a pizzaria Dom Bosco, não tem nada tão longevo no gosto do brasiliense quanto Os Melhores do Mundo. Há, claro, quem leia nisso uma pitada de exagero, mas nem tanto quando se trata de uma companhia teatral que resistiu aos obstáculos impostos à cultura e conseguiu romper as quatro linhas do quadradinho. Semanalmente, eles lotam apresentações país afora e de 17 a 21 de julho de 2025 realizam a segunda turnê internacional por cinco cidades de Portugal.

“Somos nós e o Roupa Nova. E os Rolling Stones”, diz Welder, às gargalhadas, ao comparar o grupo à banda brasileira que completa 45 anos em 2025 e à inglesa com quase 63 de estrada. “E com a mesma formação, desde a primeira apresentação, de Rumo ao Planeta Boing na antiga Casa do Teatro Amador. Ninguém entrou nem saiu”, emenda.

Os Melhores do Mundo são um CNPJ. Uma equipe fixa de 11 pessoas “com escala 7×7”, para a qual os fins de semana que seriam em casa ou em festas de aniversário dos filhos com a família foram substituídos pelo palco e a companhia de desconhecidos – ou nem tanto assim. São pelo menos 25 peças ao longo dessas três décadas, oito delas programadas só em 2025 e sempre de casa cheia, muitas vezes com mais de uma apresentação por noite.

Você pode até se perguntar: mas são as mesmas peças até hoje e ainda com casa cheia? A resposta é não e sim. Não, porque os textos base de cada espetáculo, ainda que escritos e encenados ao longo de trinta anos, dão suporte a roteiros com frequentes adaptações, seja em relação a algo acontecendo no País ou no mundo, seja com os cacos e referências da cidade em apresentação. E, sim, a bilheteria é disputada por um público fiel que se diverte em rir do que já viu como se fosse ali uma novidade. E o brasiliense é bom nisso.

“Em Brasília, a gente não tem plateia, a gente tem torcida. É quase como se as pessoas daqui se sentissem donas dos espetáculos. E, na verdade, são”, diz Jovane, lembrando que a companhia ganhou o Brasil quando já tinha conquistado a cidade. Ainda nos anos 90, quando não tinha despontado nacionalmente, o grupo contava com um fã clube de cinco mil pessoas com carteirinha para demonstrar fidelidade aos pais de Hermanoteu, Micalatéia e Joseph Climber, para dizer apenas três dos personagens mais icônicos da companhia. “O espectador de Brasília sempre foi o investidor da nossa carreira, que nos dava suporte para expandir nossas apresentações. E se porventura a gente tivesse um fracasso fora, era voltar e ter nosso porto seguro aqui”, completa.

E por falar nos irmãos bíblicos interpretados por Pipo e Adriana, a peça Hermanoteu na Terra de Godah é a prata da casa dos Melhores do Mundo. A sátira ao Antigo Testamento escrita em 1995 virou filme em 2021 com Marcos Caruso, Milton Gonçalves e Jonas Bloch no elenco, mas teve o lançamento nos cinemas congelado pela pandemia. Ainda assim, é o maior sucesso dessa companhia transgressora, que usa seus espetáculos como pano de fundo para falar do cotidiano e joga a favor do público com uma coragem artística que é quase um selo de qualidade gabaritando os Melhores do Mundo.

“Arrisco a dizer uma coisa que posso ser mal interpretado, mas vou dizer e explicar: Hermanoteu na Terra de Godah é a peça mais famosa da dramaturgia brasileira. Não estou falando que é a melhor em qualidade, mais do que O Auto da Compadecida, por exemplo. Mas virou um ícone pop com remontagens em escolas e grupos de teatro amador. Hermanoteu é mais famoso que os Melhores do Mundo”, acredita Jovane, ao contar que o texto já foi encenado não comercialmente em países de língua portuguesa, como Portugal e Angola, e espanhola, como Argentina e República Dominicana.

Fazer dar certo uma parceria comercial e um relacionamento frequente de quase irmãos por trinta anos, com perfis e personalidades distintos, é um desafio vencido pelos Melhores do Mundo. Trocar os sábados e domingos em família para manter de pé um negócio bem-sucedido e levar alegria a desconhecidos é um dos méritos do grupo e exigiu acertos, acordos e muita cumplicidade, o que nem sempre é fácil. “Focamos no que nos une, não no que nos separa”, explica Adriano Siri. “A gente é puta velha”, resume Victor sob mais gargalhadas dos parceiros.

Ah, vale lembrar que os Melhores do Mundo em cima do palco são seis, mas há um “sétimo beatle” – ou “rollinstoner”, ou “roupanover” – nessa vida longa da companhia de teatro. Responsável por chegar um dia antes nas cidades, o músico Marcelo Linhos cuida da trilha sonora do grupo, monta os cenários, prepara a sonoplastia, cria e ajusta a iluminação e pensa nos efeitos que vão deixar os espetáculos mais atraentes para o público. Ele enche o palco de fumaça para dar volume à iluminação. “Vai nos matar isso, uma hora, mas tudo bem, fica bonito”, brinca Jovane.

Para celebrar os trinta anos de formação, a companhia prepara o mini documentário Era uma vez, Os Melhores do Mundo produzido para as redes sociais, com entrevistas realizadas quando o septeto fazia bodas de prata, no início da pandemia. Para quem é de Brasília, haverá ainda uma exposição na galeria da Sala Martins Pena, no Teatro Nacional, de fotos de Nick Elmoor (1963-2023) que registrava, entre coxias e plateias, o tempo das piadas, o movimento dos risos, a materialização de improvisos inimagináveis da companhia ao longo desses anos.

O Roupa Nova da comédia: grupo Os Melhores do Mundo completa trinta anos de trajetória

Curiosidades

  • Hermanoteu na Terra de Godah é a peça mais vista do grupo. Seguida por Notícias Populares, Sexo – A Comédia, Tormentas da Paixão, Dingou Béus, Misticismo e Telaplana;
  • Pipo mora no Rio de Janeiro. Todos os outros em Brasília;
  • Ao longo desses trinta anos, estima-se umas quatro mil apresentações com mais de quatro milhões de espectadores presenciais.

Cara-crachá dos Melhores

Brasiliense, a única mulher da trupe é formada pela Fundação Brasileira de Teatro Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, artista plástica, ilustradora, figurinista, contadora de histórias, autora de livros infantis, locutora e, ufa!, professora. Além de atuar nos Melhores do Mundo, já participou de diversos trabalhos no teatro, no cinema e na TV. É nesta última, inclusive, que junto com Welder Rodrigues fez a dupla Jajá e Juju, no humorístico Zorra Total, da TV Globo. Na divisão de tarefas, é uma espécie de assessora de imprensa dos MM.

Morador de Brasília, o carioca é formado em Arquitetura pela UnB, profissão em que atuou até migrar para a música, o cinema, a dublagem e a locução. Além de ator, é palestrante e escritor de livros infanto-juvenis. Na TV, atuou em Malhação, entre outros programas. Quando está fora dos palcos, se apresenta como porta-voz dos Melhores do Mundo e “explicador oficial” da história de trinta anos de atuação. Foi a partir da entrada dele na companhia, em 21 de abril de 1995, num dia de aniversário de Brasília, que se passou a contabilizar o tempo da atual formação.

O goiano que mora em Brasília dirige o escritório dos Melhores do Mundo na W3 Sul. Formado em Artes Cênicas pela UnB, é um dos embrionários do projeto que estruturou a companhia, ainda em 1994. Ator e autor dos mais de 25 espetáculos montados, atuou e escreveu também para a TV, tendo formado, junto com Victor Leal, a dupla de roteiristas da série Família Paraíso, do Multishow – com duas temporadas disponíveis no Globo Play e no Prime. Autodeclarado falante, tem três livros publicados.

O intérprete de Hermanoteu é brasiliense, mas atualmente vive fora da cidade. Outro membro embrionário dos MM, atuou em diversos trabalhos no rádio, no cinema e na TV, quando, com outros integrantes do grupo estreou na série Planeta B, do Multishow. Ainda na adolescência, fez dupla com Welder Rodrigues por quase dez anos na apresentação do projeto Jogo de Cena, em Brasília.

Administrador de empresas formado pela UnB, está nos Melhores do Mundo desde o projeto que deu corpo ao grupo na primeira apresentação, em 1995. Junto com Jovane, é responsável pelos roteiros e frequentes adaptações nos textos base de cada uma das peças, sugeridas também por todo o grupo. Como ator, fez 13 longa-metragens e participou de programas de TV. No Youtube, foi presença marcante em esquetes do Porta dos Fundos, para o qual também escreveu.

Ator e artista gráfico, fez faculdade de Quadrinhos na Espanha e é o responsável pela identidade visual que você vê por aí dos Melhores do Mundo. Na TV, talvez seja o rosto mais lembrado do grupo por suas participações nos humorísticos Zorra Total (como o Jajá), Tá no Ar (lembra do “foooooca em mim!”?) e a releitura da Escolinha do Professor Raimundo. Atuou também em novelas da Globo como Mar do Sertão (2022-2023) e Rancho Fundo, de 2024.

*Por Hédio Ferreira Júnior. Matéria originalmente publicada na edição 42 da Revista GPS|Brasília

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