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O menino que não rouba livros. Na verdade, Eric prefere construir bibliotecas

A alguns metros do Estacionamento 10 do Parque da Cidade, você pode se deparar com uma estante repleta de livros – seja para apreciar uma leitura em um dia ensolarado no parque ou até mesmo levar um para casa e deixar outro na prateleira. Essa é a minibiblioteca montada por Eric de Sousa Vital, um garoto de 11 anos apaixonado por literatura.

 

“Sempre que posso estou lendo”, conta Eric, que decidiu, aos 9 anos, trazer vários livros de seu acervo pessoal para disponibilizar a quem passa por aquele ponto. A partir daí, outros usuários do parque souberam e começaram a trazer mais livros, concretizando o projeto.

 

laviana de Sousa, mãe de Eric, conta dos problemas que o menino passa por conta do TOD. Foto: Lúcio Bernardo Jr. / Agência Brasília
Mãe de Eric, Flaviana de Sousa conta o que ele passa por conta do TOD. Foto: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília

 

A mãe de Eric, Flaviana de Sousa, 37 anos, disse ter ficado surpresa quando o filho pediu para montar a pequena biblioteca. “É um orgulho poder ver que o trabalho de uma mãe persistente dá resultado. Como educadora social, sempre incentivei a leitura desde que ele era pequenininho, contando histórias e dando livros para ele”, acentuou.

 

De acordo com Flaviana, a inspiração para a criação do espaço surgiu do seu Raí, antigo frequentador do parque. Conhecido como “Anjo da Guarda” do local, ele faleceu neste ano, devido a complicações de um câncer. “Seu Raí era amigo da minha tia e ele colocava livros lá em cima (perto da administração). Admirava nele a ideia da biblioteca”, conta Eric. Agora que ele também montou a estante, convida: “podem vir para ler”.

 

A leitura como ferramenta de superação

Eric cursa o sexto ano do ensino fundamental. A mãe afirma que o filho tem passado por bullying no colégio após ser diagnosticado com o Transtorno de Oposição Desafiante, conhecido como TOD, que é caracterizado por distúrbios do controle de impulsos e da conduta, apresentando um padrão global de desobediência, comportamento hostil e desafio. 

 

Flaviana diz que a falta de compreensão a respeito da situação de Eric influencia diretamente nas interações sociais do filho. “No começo, achei que ele era hiperativo, mas acabamos descobrindo que ele tem TOD. Para ele, ficar quieto em um lugar é muito difícil. A leitura é algo que ele consegue se concentrar mais, acalmar e ocupar a mente”, explicou.

 

A educadora ressalta que o filho já vinha ao Parque da Cidade todo fim de semana e sempre foi muito agitado. “Atualmente, tudo é mais voltado para o digital e o livro está cada vez mais distante da população. Com isso, o projeto de Eric traz o livro para mais perto, desperta a curiosidade e o livro não se torna uma ferramenta obsoleta. Toda leitura impacta e ajuda”, observou.

 

O secretário de Esporte e Lazer, Julio Cesar Ribeiro, comentou sobre a ação do garoto no Parque da Cidade. “Vemos no Eric uma criança cheia de amor pela literatura. Esse sentimento é tão forte que ele se sente engrandecido em transmiti-lo a outras pessoas, principalmente as que são frequentadoras assíduas do parque. Nós temos que reconhecer e agradecer esse gesto de gentileza”, declarou.

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