‘O Caso’ discute o tédio existencial com humor

Na cena inicial da peça O Caso, um homem comum (interpretado por Otavio Muller) chega ao consultório de uma psicanalista (papel de Letícia Isnard) e, indagado sobre o que o levou até lá, responde sem pestanejar: “Eu acho tudo muito chato, não consigo prestar atenção em mais nada e isso começou em uma peça de teatro há três anos”. Está armada a cilada do dramaturgo francês Jacques Mougenot para ganhar a cumplicidade da plateia.

 

A versão brasileira da peça, dirigida por Fernando Philbert, estreou no sábado, 20, no Teatro Bravos, depois de bem-sucedida temporada carioca.

 

Sob a embalagem cômica, O Caso envolve o espectador para chamar a atenção de um assunto pertinente, a incapacidade de se concentrar diante da enxurrada de informações recebida o tempo todo e a falta de interesse em relação aos outros. Esta é a grande questão de Arnaldo, o entediado personagem de Muller, que, prestes a mergulhar em uma depressão, assume a falta de paciência para lidar com os mínimos desafios do cotidiano.

 

A terapeuta, assim como o paciente, precisa domar a ansiedade porque encontra dificuldade em elaborar qualquer diagnóstico sobre o sujeito. “É só mais uma vítima da crise do capitalismo que nos colocou em um buraco sem fundo”, afirma Letícia. “Você projeta as suas conquistas e quando as alcança cai em um vazio que parece não ter solução.”

 

Otavio Muller reconhece que é preciso reaprender a tocar o barco sem acumular frustrações, principalmente depois da pandemia. “A gente já superou alguns percalços sociais e políticos recentes, mas a nossa vida continua realmente chata, complicada em coisas que deveriam ser simples e isso gera uma identificação imediata da plateia”, diz.

 

Terapia

 

Muller revela que fez terapia individual no passado com a intenção de superar uma crise de pânico e o começo de uma depressão. “Foi bom demais para mim e penso em voltar, mas também teve bastante importância uma terapia familiar que fizemos juntos com os nossos filhos e nossos ex.”

 

Letícia voltou ao divã, depois de uma longa ausência, há seis meses. “Tem horas que precisamos de um mediador entre a gente e os ‘nossos eus’ e, com o fim da pandemia, percebi a necessidade de entender esse momento”, assume.

 

A atriz, no entanto, carrega uma tendência de enxergar o lado bom da vida e, segundo ela, só estar junto de Teresa, sua filha de 8 anos, recarrega suas energias e faz com que qualquer crise seja amenizada.

 

Quanto ao trabalho, ela também não pode se queixar. No intervalo das apresentações em São Paulo, Letícia grava uma participação em Amor Perfeito, a novela das seis da Rede Globo.

 

Outros palcos

 

Não é só O Caso que coloca nos palcos brasileiros personagens dispostos a analisar os caminhos do inconsciente. Pelo menos três outros espetáculos encontraram resposta popular ao tratar de assuntos em torno da psicologia, como A Última Sessão de Freud e Freud e o Visitante, em São Paulo, e Baixa Terapia, no Rio.

 

“A investigação do inconsciente atravessa o público em cheio porque a gente passa a vida querendo saber o que o outro pensa e o teatro é o espelho do homem e sua imagem”, avalia o diretor Felipe Philbert, que acredita que esses espetáculos tratam de situações comuns na vida de todos.

 

*As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Relacionados.

Terceiro filme da saga ‘O Protetor’ tem ritmo bem menos elétrico

Jamie Lee Curtis se pronuncia após greve de Hollywood completar 130 dias

Cinco lançamentos para se programar e assistir ao longo da semana