O ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Djairlon Henrique Moura, afirmou em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) que a corporação realizou blitz para fiscalizar ônibus com eleitores no segundo turno das eleições presidenciais de 2022, especialmente no Nordeste. No entanto, negou que a operação tivesse motivação política. O depoimento foi prestado como parte da defesa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, investigado por suposta participação em uma tentativa de golpe de Estado durante o governo Bolsonaro.
Segundo Moura, a PRF entendeu que poderia continuar fiscalizando veículos por infrações ao Código de Trânsito Brasileiro, mesmo após uma ordem do ministro Alexandre de Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, para interromper a fiscalização de transporte de eleitores. Moura afirmou que a operação já estava planejada antes da decisão judicial e que o objetivo era garantir o transporte regular dos eleitores, conforme entendimento da corporação.
Moura explicou que, mesmo após a determinação judicial, as fiscalizações prosseguiram com base em uma interpretação respaldada por parecer da Advocacia-Geral da União (AGU), que diferenciava fiscalização de trânsito de controle sobre transporte de eleitores. Segundo ele, a maioria dos ônibus foi liberada rapidamente, e não houve retenções motivadas por razões políticas.
O ex-diretor também confirmou que participou de reuniões no Ministério da Justiça na semana que antecedeu o segundo turno, onde o então ministro Anderson Torres solicitou aumento do efetivo nas ruas. Moura negou que houvesse qualquer direcionamento político nessas orientações e alegou que esse tipo de operação é comum em períodos eleitorais, inclusive quando há investigações em andamento da Polícia Federal.
Durante a mesma audiência, Moura mencionou que, meses antes da eleição, o Ministério da Justiça solicitou uma operação focada em ônibus que estivessem rumo ao Nordeste.
“O Ministério da Justiça determinou a realização de uma operação antes da eleição dos ônibus que estivessem saindo de São Paulo e da região Centro-Oeste com destino ao Nordeste com possíveis votantes e recursos financeiros, e que já estariam em investigação da PF”, argumentou.
A defesa de Torres sustenta que todas as suas ações seguiram a legislação e não houve envolvimento em qualquer plano golpista. As audiências no STF seguem para ouvir testemunhas arroladas pela defesa dos acusados, incluindo Torres, apontado como figura central no suposto plano de golpe, segundo a Procuradoria-Geral da República.