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No GPS|Entrevista, Eliziane Gama fala de sua candidatura à Presidência do Senado

Jornalista formada pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) trouxe da profissão muito do seu estilo aguerrido na política, combinando-o com tons conciliadores de sua personalidade, forjada pela Assembleia de Deus, importante igreja evangélica brasileira. Filiada ao PSD desde janeiro de 2023, ela tentará. agora, dar mais um passo pela representatividade feminina na política: será candidata à Presidência do Senado Federal, para substituir seu colega de partido, o mineiro Rodrigo Pacheco.

Mas não será a única mulher a disputar o cargo. A sul-matogrossense Soraya Thronicke, do PODE, também está no páreo. Engana-se, porém, quem pensa que as duas são adversárias. Ao GPS|Entrevista, a senadora Eliziane Gama detalhou que as postulações tem um objetivo: colocar uma mulher no comando da Casa. “Nós temos 200 anos de Senado e durante este tempo nunca tivemos uma mulher presidindo. Há uma lacuna significativa e a gente precisa preencher este espaço. As mulheres têm alcançado espaços significativos na sociedade brasileira, embora estejam ainda muito aquém do que deveriam ser”, contou ao jornalista Jorge Eduardo Antunes.

“A Soraya é uma mulher extraordinária e qualificada, com um dinamismo intenso e que respeito demais. Fizemos um pacto para construir um objetivo: uma mulher na presidência do Senado. Nossa ideia é seguir com as candidaturas e, lá na frente, se as candidaturas forem importantes para a gente ter um segundo turno, serão mantidas. Se for importante a junção, haverá apenas uma. Tomamos uma decisão que não é pessoal. A gente não vai romper 200 anos pensando de forma individualizada. Ela não é uma adversária. É uma companheira de um objetivo transparente: a presença feminina na condução do Senado Federal”, complementou.

A estratégia tem todo sentido quando a senadora faz uma análise da presença da mulher na política. “Nunca alcançamos o percentual de 20% de participação feminina. Temos no Senado e na Câmara um percentual em torno de 15% a 16%, ainda muito baixo. Agora, há um tempo para isso”, explicou.

“A dinâmica do processo vai trazendo suas transformações. Quando você tem uma mulher em um cargo importante, estratégico e de cúpula, essa posição se torna processadora para o envolvimento de outras mulheres. Elas se sentem empoderadas e dizem: ‘se vejo Eliziane em um cargo estratégico, eu também posso chegar lá’. Nós, mulheres, temos responsabilidades com a nossa vida, mas sobretudo com as gerações que estão chegando”, avaliou.

Parte do problema ainda está em raízes estruturais, mas também na falta de uma regulamentação que garanta não apenas candidaturas, mas também a efetiva eleição das mulheres. Eliziane Gama faz uma análise profunda do papel da mulher na sociedade. “No histórico da humanidade, a mulher foi colocada como um ser menor, em algumas sociedades até sem ter cidadania. A gente ainda vive isso em alguns países. Em todos os continentes do mundo há essa deficiência”, analisou.

A criação de leis no Brasil que permitiram maior participação das mulheres nas nominatas dos partidos e o aumento dos recursos para as campanhas femininas foram um passo inicial. Mesmo com a modificação da composição da Câmara dos Deputados, os números ainda são tímidos. “Se você compara o Brasil com os países das Américas, temos a menor participação feminina em todos os cenários, com exceção do Haiti. É preciso romper este ciclo”, afirmou.

“Passamos a ter quase 20% de participação de mulheres no parlamento porque elas tiveram direitos aos recursos. Mas não vai apenas adiantar dizer que se quer mulheres na política. A pergnta que deve ser feita é: ‘o que estou fazendo para isso ocorra?'”, questionou, identificando ainda o problema das eleições majoritárias. “No Senado, a vaga é majoritária e não há obrigação de candidatura (feminina). Então é raro ter presença feminina em vagas majoritárias. A gente só vai mudar este cenário a partir da luta por cotas, por acesso (ao fundo) e obrigação (de candidaturas)”, completou. 

Neste sentido, Eliziane Gama aponta uma das muitas contradição no modelo político brasileiro. “Se eu tenho uma Casa que se diz representativa, ela precisa ser no gênero, com homens e mulheres no Congresso Nacional. Como vamos resolver isso? Mudando a legislação brasileira. Não há outro caminho. Por um tempo da história da humanidade, a gente precisa de cotas. Se amanhã eu vou derrubar as cotas, vamos revisá-las. Porque se eu tiver isonomia, preciso evitar que se crie outro fosso”, completou.

A senadora sentiu na pele as barreiras impostas às mulheres na política. Quando foi deputada estadual no Maranhão, enfrentou dificuldade de acesso a comissões. O mesmo se repetiu na Câmara dos Deputados e no Senado, quando foi barrada por uma suposta “falta de condições”. Para derrubar os osbtáculos, teve de brigar por seu espaço, para não ser excluída e para resistir ao assédio moral nos parlamentos.

Um dos piores momentos ocorreu na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro. “Como é que atacam a mulher? Na moral, na competência, tentam diminui-la, atacar a família, ao marido e aos filhos. Eu vivi isso no início como relatora da CPMI. No primeiro dia, eles vieram para cima de mim tentaram me acuar, me confrontar”, conta.

“Mas eu me posicionei. Fizemos um trabalho com muita responsabilidade, com uma equipe qualificada e elaboramos um relatório muito digno. E na CPMI eu fui muitas vezes tremendamente agredida. Mas eles esquecem que temos resignação. Essa coisa da proteção e da garra feminina é muito presente e se materializa nas diversas instâncias de atuação”, acrescentou.

Eliziane Gama aponta Jair Bolsonaro como um dos responsáveis pelo 8 de Janeiro. Foto: reprodução/Alquimia Filmes

Culpa de Jair Bolsonaro
Na entrevista, a senadora Eliziane Gama foi enfática ao responsabilizar o ex-presidente Jair Bolsonaro pelos atos de vandalismo do 8 de janeiro de 2023.

“Não há dúvida nenhuma. Nós constatamos isso na CPMI, tanto que procedemos o indiciamento. E foi por uma razão simples: ele era a autoridade máxima do Brasil, que, por tabela, é o principal formador de opinião de um país. À medida que um presidente fala, cai ou sobe uma bolsa de valores; cai ou aumenta o dólar. Agora você imagina esse formador de opinião maior do Brasil indo para a televisão e questionando o resultado da urna eletrônica sem ter prova para isso. E disse várias vezes. Isso foi o combustível para que um grupo pequeno de pessoas que estava no acampamento viesse invadir os prédios da Praça dos Três Poderes. Ele teve participação direta neste ponto específico, sem falar nas tentativas e reuniões para criar o caos nacional. E isso ocorreu em uma sociedade dividida pelo resultado das eleições”, avaliou.

A rigor, sua atuação repetiu o que ocorreu na CPI da Covid, quando, mesmo não sendo membro efetivo, impôs-se como liderança importante, junto com outras senadoras, tanto que ganhou uma pasta de trabalho para cuidar. Saiu, nas duas ocasiões, fortalecida não só ante seu eleitorado, como dentro do Senado.

Crítica ferrenha dos movimentos da extrema-direita nacional e internacional, Eliziane Gama tem viajado o mundo para defender a democracia, que ela vê sob ameaça. E cita países como  Turquia e Polônia, que fazem movimentos políticos que põem em risco as instituições democráticas.

“É a destruição da democracia por dentro da democracia. Você, por ela, chega ao poder. Em sua primeira condução como chanceler alemão, Hitler foi eleito democraticamente. Ao chegar lá, passou a dar golpe sobre golpe. E se torna o líder maior da Alemanha com plenos poderes. E o resultado o mundo inteiro sabe”, relembra. 

Mas também aponta países que estão sob comando da esquerda em que a democracia está em risco, citando explicitamente a Venezuela.

“O caso do Maduro é algo que precisamos estar atentos. Você não consegue fazer eleição sem transparência. Na medida em que ele não dá as atas e esconde informações, tem alguma coisa errada. O ponto central do processo democrático é a transparência. Se ele não dá transparência, não posso dizer que foi democraticamente eleito”, avalia.

Filha de um pastor da Assembleia de Deus que prega há 50 anos, Eliziane Ga,a também faz importantes considerações sobre a proximidade dos evangélicos com a extrema-direita nacional. “Sempre digo que há bons e maus em todos os lugares. É difícil você generalizar a representação evangélica. Mas a instrumentalização da fé seria totalmente condenada por Jesus Cristo”, avalia. 

“A extrema direita não valoriza as minorias. Há pessoas da extrema direita que usam a fé. Mas a igreja não está corrompida, pois ela é diferente. O meu pastor, que possivelmente você nunca ouviu falar, tem um rebanho de cem mil membros e não está nas redes sociais e nem falando como influencer. Há muitas pessoas que são influencers e tentam passar a ideia de que são líderes de um rebanho. E não são”, destaca.

A senadora completa sua análise, lembrando que Jesus acolhia os excluídos. “Ele esteve do lado dos mais rejeitados pela sociedade. Será que estas pessoas que aderem à extrema-direita não estariam, hoje, apedrejando Jesus? Ou crucificando Jesus, se ele estivesse aqui? O evangelho de Cristo é desafiador. O evangelho da cruz não é seguido por todo mundo porque é dolorido. Ele dá a segunda face”, conclui.

Assista a íntegra da entrevista com a senadora Eliziane Gama.

Jorge Eduardo Antunes

É jornalista com uma carreira de mais de 34 anos, já tendo trabalhado em diversas redações, assessorias e também no rádio. Atua como editor e publisher do GPS.

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