Jair Bolsonaro (PL) afirmou, nesta terça-feira (10), não ter passado a faixa presidencial para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para não se “submeter à maior vaia da história do Brasil”. A fala ocorreu durante interrogatório do ex-presidente ao Supremo Tribunal Federal (STF) em inquérito que investiga suposta trama golpista para mantê-lo no poder.
Na ocasião, Bolsonaro rechaçou a tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. “Não havia da nossa parte uma gana de procurar, mesmo que viéssemos a encontrar remotamente algo na Constituição [para reverter a derrota nas urnas], não existia essa vontade”, disse.
“O sentimento de todo mundo era de que não tínhamos nada a fazer. Se tivesse que ser feito alguma coisa, seria lá atrás, via Congresso Nacional. Não foi feito. Tínhamos que entubar o resultado das eleições”, continuou.
Em seguida, ele falou sobre o rito da faixa presidencial, que simboliza a transferência pacífica de poder, com o presidente eleito recebendo o adorno do antecessor na rampa do Palácio do Planalto. “E Vossa Excelência poderia perguntar: ‘E por que não passou a faixa?’. Eu não ia me submeter à maior vaia da história do Brasil. O senhor há de concordar comigo.”
O ministro relator do STF, Alexandre de Moraes, interrompeu o ex-presidente: “Eu não iria perguntar para o senhor.” E Bolsonaro continuou. “Não passei porque iria me submeter a passar a faixa para esse atual mandatário que está aí.”
Depoimentos
Bolsonaro é o sexto dos oito réus a depor junto ao STF sobre as investigações que apuram a suposta trama golpista. Antes do ex-presidente, depuseram o tenente-coronel Mauro Cid; o ex-diretor-geral da Abin Alexandre Ramagem; o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha; o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres; e o general Augusto Heleno.
As oitivas tiveram início na segunda-feira (9) e miram o chamado “núcleo crucial” da ação penal que apura uma tentativa de golpe de Estado. Os depoimentos fazem parte da fase final de instrução da ação penal.
Após Bolsonaro, serão ouvidos: Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e Walter Braga Netto (general e ex-ministro da Casa Civil), que será ouvido remotamente por estar preso preventivamente no Rio de Janeiro.