O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, voltou a criticar, nesta quinta-feira (24), a decisão do governo dos Estados Unidos de sobretaxar em até 50% os produtos brasileiros. Alckmin, que esteve reunido esta semana com diferentes áreas do setor produtivo, classificou a medida como “injusta” e “sem nenhuma justificativa econômica”.
Em coletiva de imprensa, o vice-presidente detalhou a mobilização do governo junto a representantes da indústria nacional e anunciou a promulgação de uma nova legislação para estimular as exportações brasileiras.
“Não é possível que um país com o qual temos 200 anos de relação diplomática imponha uma penalidade comercial tão drástica ao Brasil, sem nenhuma razão de natureza econômica, comercial ou tarifária”, afirmou.
Ele detalhou ainda que, no último sábado (19), manteve uma conversa considerada “longa e produtiva” com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutkenick. “Reiterei a disposição do Brasil para o diálogo. O Brasil nunca saiu da mesa de negociação. Não criamos esse problema, mas queremos resolver. São conversas institucionais que devem ser reservadas, mas o contato foi importante”, declarou.
O titular do MDIC vem liderando pessoalmente uma série de reuniões com entidades do setor produtivo e empresas altamente exportadoras, como a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e a fabricante de armas Taurus.
A principal preocupação do governo federal é reverter, antes de sua entrada em vigor, a decisão dos EUA de elevar tarifas sobre produtos brasileiros em setores estratégicos. “Estamos trabalhando com todo o setor produtivo no sentido de, nesses dias, demovermos essa medida, que não tem nenhuma justificativa para ser implantada”, reforçou Alckmin.
Diálogo, não monólogo
Ao final do pronunciamento, Alckmin reiterou que o Brasil permanece comprometido com uma solução negociada, sem contaminação política ou ideológica. Ele citou como positiva a manifestação conjunta da Amcham Brasil e da US Chamber — câmaras de comércio dos dois países — contrárias à interferência político-partidária em decisões tarifárias.
“Diálogo não é monólogo. Há uma pauta extensa e positiva que pode ser explorada. Não se pode confundir política tarifária com disputa ideológica. Isso é um precedente perigoso e inaceitável”, concluiu.
A partir da próxima semana, o comitê de trabalho liderado pelo Ministério do Desenvolvimento fará coletivas diárias às 11h para atualizar a imprensa sobre as negociações.
Balança comercial desigual
Os dados apresentados pelo vice-presidente revelam um desequilíbrio crônico na balança comercial com os EUA. Em 2023, o Brasil exportou US$ 145 milhões em produtos farmacêuticos para o mercado americano, enquanto importou US$ 1,7 bilhão — um superávit amplamente favorável aos EUA.
Situação semelhante ocorre no setor minerário, que representa apenas 3% das exportações brasileiras aos EUA, mas responde por mais de 20% das importações nacionais em máquinas e equipamentos.
“Não há como justificar uma política tarifária punitiva contra um país que já proporciona um superávit comercial tão expressivo aos Estados Unidos”, criticou.
Nova lei para exportadores
Além da frente diplomática, Alckmin lembrou que senadores brasileiros também estão se mobilizando e devem viajar aos EUA nos próximos dias para reforçar a posição do Brasil junto a parlamentares e autoridades americanas.
O governo federal aposta ainda em medidas estruturantes para ampliar a competitividade da indústria nacional. Na segunda-feira (29), o presidente Lula sancionará a nova lei do programa Acredita Exportação, que cria um mecanismo de devolução imediata de 3% do valor exportado para pequenas empresas.
A proposta foi aprovada por unanimidade na Câmara e no Senado e visa mitigar perdas enquanto a reforma tributária não entra em vigor por completo, o que está previsto apenas para 2032.
“É um reintegra de transição, voltado especialmente às pequenas empresas, que precisam de apoio para ganharem mercado externo. A Itália é um grande exemplo de como pequenos negócios podem ser altamente exportadores”, pontuou o vice-presidente.