O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou neste sábado (17), na abertura da 37ª Cúpula da União Africana, na Etiópia, e mencionou a criação da Aliança Global contra a Fome no âmbito do G-20, atualmente presidido pelo Brasil. Ele também destacou a participação do bloco como membro pleno do G-20 e voltou a condenar os ataques do Hamas a civis israelenses e a “resposta desproporcional” de Israel, lembrando da situação da Faixa de Gaza.
“A presença da União Africana como membro pleno do G-20 será de grande valia. É inadmissível que um mundo capaz de gerar riquezas da ordem de US$ 100 trilhões por ano conviva com a fome de mais de 735 milhões de pessoas. Estamos criando no G-20 a Aliança Global contra a Fome, para impulsionar um conjunto de políticas públicas e mobilizar recursos para o financiamento dessas políticas”, disse o presidente.
A busca de uma solução para a fome é um dos objetivos do Brasil na presidência do G-20, assim como a discussão da dívida de países mais pobres, que também foi destacado por Lula. “Cerca de 60 países, muitos deles na África, estão próximos da insolvência e destinam mais recursos para o pagamento da dívida externa do que para a educação ou a saúde. Isso reflete o caráter obsoleto das instituições financeiras, como o FMI e o Banco Mundial, que muitas vezes agravam crises que deveriam resolver”, declarou.
Ao mencionar o conflito entre Hamas e Israel, Lula condenou excessos dos dois lados, mas defendeu a criação de um Estado palestino, reconhecido como membro pleno das Nações Unidas. O presidente também cobrou o fortalecimento da ONU e um Conselho de Segurança mais representativo, já que a guerra na Ucrânia teria escancarado sua paralisia.
Ele também mencionou a multipolaridade e a consolidação dos Brics, dizendo que sem os Países em desenvolvimento não será possível a abertura de novo ciclo de expansão mundial, que combine crescimento, redução das desigualdades e preservação ambiental, com ampliação das liberdades.
“Crises que decorrem de um modelo concentrador de riquezas, e que atingem sobretudo os mais pobres – e entre estes, os imigrantes. A alternativa às mazelas da globalização neoliberal não virá da extrema direita racista e xenófoba. O desenvolvimento não pode ser privilégio de poucos”, afirmou.
Lula iniciou sua fala de improviso e destacou os vínculos entre Brasil e África. “Estamos dispostos a desenvolver programas educacionais na África e a promover intenso intercâmbio de professores e pesquisadores. Vamos colaborar para que a África possa se tornar independente na produção de alimentos e energia limpa”, disse.
O presidente cumpriu agenda na cúpula da União Africana neste sábado. Antes da abertura do evento, na Etiópia, ele teve um encontro com o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, e uma reunião com o Primeiro-Ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh. Ele cancelou a participação em um evento da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) em Adis Abeba. O presidente ainda participou de almoço oferecido pelo primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, e pelo presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat.