No dia 3 de fevereiro, é celebrado o Dia da Mulher Médica, data que homenageia a trajetória feminina na Medicina e destaca os desafios e as conquistas das profissionais da área. A escolha do dia faz referência à norte-americana Elizabeth Blackwell, considerada a primeira mulher a obter um diploma de Medicina no mundo. Após enfrentar rejeições de dez universidades, ela foi admitida no Geneva Medical College, em Nova York, e se formou em janeiro de 1849, abrindo caminho para as futuras gerações de médicas.
No Brasil, a presença feminina na Medicina tem crescido de forma expressiva. De acordo com dados da Demografia Médica divulgados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em 2024, existem, atualmente, 575.930 médicos no País, sendo que 49,92% (287.457) são mulheres.
Entre as especializações com maior representatividade feminina estão a Dermatologia (77,9%), seguida pela Pediatria (75,6%), e Alergia e Imunologia e Endocrinologia e Metabologia (ambas com 72,1%). As áreas de Ginecologia e Obstetrícia, Geriatria, Hematologia e Hemoterapia e Genética Médica têm, pelo menos, 60% de representantes mulheres.
No entanto, apesar dos inúmeros avanços, as profissionais ainda enfrentam grandes desafios diariamente, como a desigualdade salarial e a luta com transtornos mentais. Uma pesquisa realizada em 2024 pela Afya, hub de educação em saúde e health techs do Brasil, identificou que 40% dos médicos brasileiros apresentam quadro de transtorno mental, sendo afetados, majoritariamente, por ansiedade, depressão e burnout, sendo que duas em cada três pessoas afetadas são mulheres.
Dos profissionais que participaram do estudo, 33,5% são diagnosticados com ansiedade, enquanto 22,1% sofrem com a depressão e 6,7%, com burnout.
“O paciente e seus familiares depositam esperança de cura nas mãos dos médicos. Mas, infelizmente, nem sempre há o que se fazer e esse sentimento de ‘incapacidade’ também afeta o emocional do profissional, especialmente das mulheres, que atuam sobrecarregadas”, observa o presidente da Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem), Raul Canal.

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Outro ponto que chama a atenção na pesquisa é a desigualdade salarial. Apesar de a média de remuneração dos médicos ter crescido nos últimos anos, existe, ainda, uma disparidade entre os valores recebidos por homens e por mulheres que prestam os mesmos serviços. O estudo revela que, enquanto um médico recebe cerca de R$ 26.138, uma médica recebe R$ 19.865, revelando uma diferença de 24% entre os sexos.
“Ao longo da carreira, percebi que mulheres precisam sim se esforçar mais para ganhar credibilidade e reconhecimento, principalmente em ambientes cirúrgicos, em que predominam profissionais do sexo masculino”, relata a médica Taciana Fontes, que trabalha há mais de 18 anos na área de Cirurgia Minimamente Invasiva e Cirurgia Robótica, além de ser especializada em Ginecologia e Obstetrícia.
Apesar de as mulheres representarem metade dos profissionais da Medicina no Brasil, elas ainda enfrentam desafios significativos na profissão, principalmente em especialidades cirúrgicas. De acordo com um levantamento do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC), as mulheres representavam, em 2022, apenas 21,7% dos profissionais na área de cirurgia geral.
Em outras especialidades cirúrgicas, a disparidade de gênero é ainda mais acentuada: na neurocirurgia, as mulheres correspondem a 8,8% dos profissionais, enquanto na urologia, o número cai para apenas 2,3%. “Essa desigualdade reflete barreiras culturais e estruturais que dificultam a ascensão feminina na área”, acredita Taciana.

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Para ela, a predominância masculina na cirurgia não ocorre por falta de interesse ou de capacidade das mulheres, mas, sim, por fatores como: ambiente hostil, carga horária intensa e falta de representatividade nos cargos de gestão e entidades de classe. “Nós precisamos provar constantemente nossa competência em um ambiente dominado por homens”, destaca. Mas há, ainda, outros fatores que tornam a jornada feminina na Medicina ainda mais desafiadora, como a necessidade de conciliar a vida pessoal com o trabalho, especialmente para aquelas que são mães.
“Já vivi situações em que fui subestimada ou tratada de forma diferente apenas por ser uma mulher em meio a tantos anestesistas e cirurgiões homens. Mas, ainda assim, sigo acreditando na importância de ocupar esses espaços e mostrar que a competência independe do gênero”, afirma.

Taciana Fontes | Foto: reprodução/Doctoralia