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Mostra “A Quem Traspassam” desafia narrativa eurocêntrica na História da Arte

A mostra destaca as obras de dois artistas nacionais que, até então, viveram à margem do reconhecimento: Manuel Messias dos Santos e Chico Tabibuia
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Foto: Divulgação

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Na contramão de séculos de uma escrita da História da Arte predominantemente eurocêntrica, os curadores Marcos de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto trazem à capital brasileira, Brasília, em uma mostra exclusiva, a obra de dois destacados artistas nacionais que, até então, viveram à margem do reconhecimento: Manuel Messias dos Santos e Chico Tabibuia.

A indagação que dá título à mostra, ‘A Quem Traspassam’, é extraída de uma peça da série Via Sacra, elaborada por Messias em 1979, inspirada no texto bíblico. A frase incita uma profunda reflexão sobre quem, de fato, foi torturado na crucificação: o homem Jesus ou o próprio Deus. Os curadores exploram essa provocação para analisar de que maneira as trajetórias desses dois artistas foram moldadas por questões socioeconômicas, e como suas experiências e criações continuam a ressoar nos dias de hoje.

A exposição tem como propósito apresentar ao público de Brasília as esculturas de Chico Tabibuia e as xilogravuras de Manuel Messias, expandindo o diálogo sobre a produção artística brasileira. A mostra visa fundamentalmente democratizar o acesso e o direito à expressão artística, alinhada ao Programa de Ocupação dos Espaços da Caixa Cultural para os anos de 2023-2024.

A inauguração da mostra está marcada para esta terça-feira, 14, na Caixa Cultural Brasília, permanecendo em exibição na Galeria Vitrine até 28 de janeiro de 2024. A entrada é gratuita, com visitação de terça-feira a domingo, das 9h às 21h, e classificação indicativa para maiores de 14 anos.

Os Artistas e Suas Narrativas

Chico Tabibuia, nascido Francisco Moraes da Silva, explorou diversas formas de trabalho com madeira ao longo de sua vida, mas somente após os 40 anos dedicou-se plenamente à escultura. Apesar de descendente de quatro gerações de marceneiros, Chico é considerado autodidata, integrando o conhecimento transmitido por sua família em sua produção artística. Suas obras, permeadas por uma mitologia entre o bem e o mal, refletem a influência de sua vivência em um Centro de Umbanda e sua posterior filiação à Igreja Universal do Reino de Deus.

Manuel Messias dos Santos, nascido em Sergipe e estabelecido no Rio de Janeiro nos anos 1950, teve seu primeiro contato com a xilogravura em 1960, técnica que predominou em sua vasta produção. Integrando um grupo de artistas influenciados pela violência da ditadura militar, Messias desenvolveu séries complexas de gravuras na década de 1970, marcadas pelo primor técnico e estética refinada. O artista enfrentou um período crítico nos anos 1990, chegando a morar nas ruas de Santa Teresa, bairro artístico do Rio de Janeiro.

A mostra propõe a interseção dessas duas trajetórias, destacando a arte como espaço de sobrevivência. Chico representa uma realidade rural impregnada de tradições, misticismo e fantasias, enquanto Messias expõe as dificuldades e pulsões de uma existência urbana marcada pelo racismo estrutural, hierarquização social e desigualdade econômica. Os curadores afirmam que colocar essas vivências tão extremas em contato provoca a percepção da capacidade de subversão que possuem, tanto por seu conteúdo estético e poético quanto pelo poder da criação como espaço de resistência emocional, espiritual e prática.

SERVIÇO

[Artes Visuais] A Quem Traspassam

Local: CAIXA Cultural Brasília | Galeria Vitrine
Endereço: SBS Quadra 4 Lotes 3/4
Visita: Experiência em Montagem, dia 13 de novembro, a partir das 15h, com os curadores
Data: dia 14 de novembro, às 19h, com visita mediada e bate-papo com os curadores
Visitação: de 15 de novembro de 2023 a 28 de janeiro de 2024
Hora: das 9h às 21h, de terça-feira a domingo

*Entrada franca