Uma das mais consagradas carnavalescas do Rio de Janeiro, Maria Augusta Rodrigues morreu nesta sexta-feira (11), aos 83 anos, de falência múltipla de órgãos, em decorrência de um câncer. Ela estava internada desde o mês passado, no Hospital São Lucas, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Entre 1971 e 1993, ela assinou ou co-criou 15 desfiles de escolas de diferentes grupos, mostrando uma capacidade única de adaptar-se às circunstâncias e tamanhos do mundo do samba.
O nome de Maria Augusta esteve intimamente ligado a duas escolas de samba: a Acadêmicos do Salgueiro e a União da Ilha. Na agremiação da Tijuca, deu seus primeiros passos no mundo do samba, guiada pelo mestre Fernando Pamplona, então professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Ele convidou Maria Augusta, no final da década de 1960, para integrar o time que dominaria o Carnaval carioca por 40 anos, com Joãosinho Trinta, Arlindo Rodrigues e Rosa Magalhães. O primeiro título do grupo viria em 1971, com “Festa para um rei negro”, cujo samba-enredo de Zuzuca, curto e ritmado, alteraria para sempre as composições, muito pelo refrão-chiclete “O-lê-lê, o-lá-lá /Pega no ganzê/Pega no ganzá”.
Na carreira solo, Maria Augusta iria brilhar na União da Ilha do Governador, com enredos coloridos e criativos, para compensar os recursos escassos. Foi assim que encantou a avenida com os históricos “Domingo” (1977), quando usou, pela primeira vez na história, todas as cores em um desfile de escolas de samba, sempre limitado aos tons das agremiações, e “O Amanhã”, de 1978, que levaram a escola insulana ao terceiro e quarto lugar, respectivamente. naqueles dois anos. Após deixar a União da Ilha, Maria Augusta teve passagens por Tradição, Paraíso do Tuiuti e Beija-Flor de Nilópolis.
Como personalidade do Carnaval, recebeu quatro homenagens em vida. Em 1996, no Grupo D, a Unidos da Vila Santa Teresa trouxe “Maria Augusta, é mestra, é sorte, é carnaval”. Em 2004, pelo Grupo B, a Arranco do Engenho de Dentro levou à avenida “Maria Augusta, o sonho nas estrelas”. Em Campos (RJ), em 2014, a Academia de Ritmos Onça no Samba a homenageou com “Uni, Duni, Tê – Maria Augusta, a escolhida é você”, referência ao seu último desfile à frente de uma escola, em 1993, pela Beija-Flor de Nilópolis. Por fim, no ano passado, o Aprendizes do Salgueiro, escola mirim, repetiu a dose com “Uni-duni-tê, o Aprendizes escolheu você!”.
Professora de Artes aposentada da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Maria Augusta também foi comentarista de Carnaval nas TVs Globo, Bandeirantes, Manchete e CNT. Também era jurada do famoso troféu Estandarte de Ouro, que premia os destaques carnavalescos.
Escolas relembram seu legado
Pelo Instagram, a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) lamentou a morte de Maria Augusta. “Mais do que uma carnavalesca de sucesso, com trabalhos brilhantes em escolas como a União da Ilha do Governador, sempre defendeu a bandeira do samba, atuando também como comentarista e jurada do Estandarte de Ouro. Sua paixão era tanta que não perdia um evento da Liesa e das escolas de samba que tanto admirava. Descanse em paz”, afirmou a Liesa, em seu perfil.
O Salgueiro, também pelo Instagram, disse que se despedia de Maria Augusta com o coração em luto, mas repleto de gratidão. “Uma das maiores carnavalescas da história, salgueirense de alma e a última viva da geração que transformou para sempre o desfile das escolas de samba. Maria Augusta não foi apenas uma artista genial. Ela foi uma revolução inteira”, disse a nota da escola de samba.
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Já a União da Ilha fez cinco postagens em homenagem à carnavalesca. “Não existiria União da Ilha como nós a conhecemos sem Maria Augusta – esse é o exato tamanho de sua importância para nossa história”, escreveu a agremiação, em seu perfil no Instagram. A escola lembrou seus dois primeiros carnavais no grupo 2, com os enredos “A Festa da Cavalhada” (1972) e “Y Juca Pirama” (1973).
O momento mais glorioso da história de amor entre União da Ilha e Maria Augusta, porém, veio mesmo em 1977. Existe um Carnaval antes e depois daquele dia ensolarado em que uma grande escola de samba se apresentou para o mundo. Ela empreendeu uma revolução temática que imprimiu à nossa escola, para sempre, a sua identidade, sua marca registrada. Em vez de um enredo folclórico, ela preferiu a simplicidade e decidiu provar que o dia da semana dedicado ao descanso poderia ser o tema de uma apresentação de escola de samba. “Domingo” foi um desfile objetivo, evidente, próximo ao real, sem qualquer luxo, mas sem deixar de ser “carnavalizado”.
Madrinha da comissão de frente e da bateria do Império Serrano, a escola também homenageou Maria Augusta. “Sempre presente nos ensaios, eventos e desfiles, tornou-se uma figura querida e marcante, símbolo de carinho e respeito à frente dos nossos ritmistas”, diz a nota. “Como carnavalesca, se consolidou como uma das maiores da história, rompendo barreiras em uma profissão dominada por homens”, acrescenta.
Na televisão, emprestou seu talento e conhecimento como comentarista de carnaval em emissoras como Globo, Band, Manchete e CNT, ajudando a contar a história da maior festa popular do mundo para milhões de brasileiros. Também atuava como jurada do prêmio Estandarte de Ouro, contribuindo com seu olhar técnico e sensível para valorizar os grandes destaques do carnaval carioca”, completa a escola.
Outras agremiações, como Unidos da Tijuca, Mocidade Independente de Padre Miguel, Unidos de Padre Miguel e Imperatriz Leopoldinense também emitiram notas de pesar.