O Brasil perdeu, nesta sexta-feira (26), um de seus maiores expoentes da arte popular: José Francisco Borges, conhecido como J. Borges, faleceu em sua casa aos 88 anos. Natural de Bezerros, no Agreste de Pernambuco, ele deixa um legado incomparável como pintor, cordelista, poeta e xilogravurista.
Borges enfrentava problemas de saúde há algumas semanas e chegou a ser internado por complicações no pulmão e coração. Após receber alta, voltou para casa, onde acabou falecendo. O velório está previsto para ocorrer no Centro de Artesanato de Bezerros às 13h.
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Trajetória e contribuições
Nascido e criado em Bezerros, J. Borges teve uma educação formal breve, frequentando a escola por apenas um ano. Contudo, essa limitação não impediu que ele aprendesse a ler, escrever e fazer contas, habilidades que ele usou para ingressar no mundo do trabalho como carpinteiro e pedreiro. Aos 10 anos, Borges descobriu a literatura de cordel, iniciando uma trajetória que o consagraria nacional e internacionalmente.
Em 1964, começou a criar xilogravuras para ilustrar seus cordéis, marcando o início de uma carreira que o levaria a ser reconhecido globalmente. A primeira xilogravura de J. Borges foi a imagem de uma igrejinha, dando início a um estilo único de talhar diretamente na madeira, sem esboço ou rascunho, inspirado nos títulos dos cordéis.
Reconhecimentos e exposições
A obra de J. Borges recebeu inúmeras premiações, incluindo a Comenda da Ordem do Mérito Cultural e o Prêmio da UNESCO na categoria Ação Educativa/Cultural. Em 2006, foi reconhecido como Patrimônio Vivo de Pernambuco. Suas xilogravuras foram exibidas em prestigiadas instituições, como o Museu do Louvre, na França, e em exposições nos Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Itália, Venezuela e Cuba. Atualmente, suas obras podem ser vistas no Museu do Pontal, no Rio de Janeiro, até 25 de março de 2025.
Colaborações e influências
Ao longo de sua carreira, J. Borges contou com o apoio de grandes nomes da literatura e das artes. Ariano Suassuna foi um importante divulgador de sua obra, enquanto José Saramago escolheu Borges para ilustrar “O Lagarto”. Eduardo Galeano também teve capas de seus livros ilustradas pelo pernambucano. Além disso, Borges inspirou documentários e foi homenageado no desfile da escola de samba Acadêmicos da Rocinha em 2018.