Categories: Cotidiano

Morre Bento XVI, o Papa Emérito da Igreja Católica

Morreu neste sábado, 31, às 9h34 (horário local), Bento XVI, aos 95 anos, em sua residência no Mosteiro Mater Ecclesiae, Vaticano. De acordo com informações da Sala de Imprensa da Santa Sé, mesmo grave, o estado de saúde do pontífice se mantinha estável. O aviso destaca ainda que o corpo do Papa Emérito estará na Basílica de São Pedro para a saudação dos fiéis a partir da segunda-feira, 2 de janeiro. Na quinta-feira, 5, o papa Francisco celebrará o funeral do seu antecessor. Segundo o porta-voz do Vaticano, **Matteo Bruni**, deixou como último pedido que o funeral fosse “o mais simples possível; solene, mas sóbrio.

**Renovador e tradicionalista**

![Bento XVI Jovem /Foto: Pinterest](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/Foto_Pinterest_9d9edd5fd4.jpg)

Apontado por muitos como conservador, Bento XVI entrará para a história como um papa contraditório, entre renovador e tradicionalista, mas de vontade férrea, que nunca renunciou a suas ideias. Na verdade, ficará marcado por uma inovação em 700 anos: a renúncia. Apesar da pressão provocada pelos escândalos de abuso sexual e do vazamento de correspondência particular (o Vatileaks), o que ele manteve como motivação até o fim foi a declaração oficial de 11 fevereiro de 2013: a fragilidade de sua idade avançada e as exigências físicas e mentais do cargo.

O que poucos sabem é que esta não foi a primeira renúncia na vida de Joseph Ratzinger, nascido em Marktl am Inn, na Baviera (Alemanha), em 16 de abril de 1927, um Sábado de Aleluia. Ele passou a adolescência em um seminário regional onde viu os nazistas dominarem seu país e levá-lo à guerra. Evitou fazer parte daquilo – arrolado no Exército, desertou.

Depois da guerra, voltou aos estudos de Teologia. Padre por pouco tempo em Munique, lecionou em universidades alemãs até concluir o doutorado. Professor em Tübingen, renunciou à cátedra diante da agitação estudantil em 1968. Mas ele mesmo nessa época poderia ser colocado entre os “agitadores”: esteve entre os jovens teólogos que sacudiram Roma no Concílio Vaticano II, entre 1962 e 1965. Foi dos que lutaram contra os tradicionalistas.

Mas data dessa época também a contradição que marcaria sua vida e seu papado. Em 1966, identificou o que achava ser as primeiras tendências inquietantes na renovação da Igreja. Um “certo espírito partidário” levava para a igreja o dilema do século: reforma ou revolução. Sentiu então a fé ameaçada e não titubeou

Nos anos seguintes, se mostrou crítico à mudança litúrgica de Paulo VI – via na ruptura com a chamada missa tridentina (em latim) uma ameaça à fé e à unidade da Igreja. Dizia que não havia como mudar a forma de orar dos fiéis sem alterar sua crença. Mas seria o mesmo Paulo VI que o tornaria cardeal de Munique, em 1977.

**João Paulo II**

![Bento XVI e João Paulo II /Foto: Vatican Média ](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/Foto_Vatican_Media_b4db432d83.jpeg)

Mas o papa que marcaria a história do novo cardeal alemão seria aquele que o nomeou em novembro de 1981 para a poderosa Congregação para a Doutrina da Fé: o polonês Karol Woytila. Sob João Paulo II, caberia a Ratzinger ser o guardião da ortodoxia e o principal aliado contra o avanço de ideias marxistas na Igreja Católica, notadamente as da chamada Teologia da Libertação.

Foi nessa época que entrou em confronto direto contra o brasileiro **Leonardo Boff**, que teve um de seus livros condenados em 1985 e acabou obrigado a cumprir um ano de “silêncio obsequioso”. Posteriormente, Boff se sentiu pressionado a deixar a hierarquia católica, e sempre o fato a João Paulo II e ao agora papa emérito falecido, apesar de considerá-lo “uma pessoa finíssima, elegante, muito gentil, que nunca levanta a voz”.

E assim Bento XVI seguiu criando muitos inimigos, renunciando a visões consideradas mais “progressistas”, em prol da ideia que a caridade, e não a ação política, é a principal forma de transformação social que a Igreja pode oferecer. Não fez concessão aos que pregavam a ruptura com a tradição como continuidade do aggiornamento do Concílio Vaticano II. Não mudou o veto à comunhão dos descasados nem aos “viri probati” (ordenação de casados) – nem pensou em abrir brechas para isso, ao contrário do seu sucessor, o papa Francisco.

Foi do mesmo escritório em que trabalhava diariamente no Vaticano que transformou a antiga Inquisição no principal polo de combate a ideologias, incluindo o liberalismo. Sempre viu no marxismo a versão materialista da esperança cristã que, no lugar de Deus, busca a redenção no partido. Para ele, a “adoração ateísta” sacrificava à ideologia o humanismo. Mas foi na mesma Congregação para a Doutrina da Fé que recebeu o encargo de cuidar de um problema que marcou seu pontificado: o abuso sexual

O assunto ganhou destaque sobretudo nos Estados Unidos, a partir de 2001, quando o Boston Globe começou a revelar uma série de acusações de acobertamento, que renderia uma série de reportagens e anos depois o filme vencedor do Oscar, Spotlight. As acusações atingiram diretamente a Igreja, na figura do cardeal Bernard Law, que acabou transferido para Roma por João Paulo II em 2004. O problema, que ainda causa constrangimentos hoje a Francisco, acabaria ficando em segundo plano com a longa doença e posterior morte de Woytila, em 2005 – sob os gritos de “santo súbito”.

**Bento XVI**

![Bento XVI e o Papa Francisco /Foto: Vatican Média ](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/Foto_Vatican_Media_99d295e671.jpeg)
Foi em meio à comoção popular que ocorreu o conclave. Só três votantes não haviam sido nomeados por Woytila e o discurso de Ratzinger chamou a atenção, sob o espírito de dar continuidade à linha adotada até aquele momento. Foi assim que, após quatro votações, Ratzinger se tornou Bento XVI. “Queridos irmãos e irmãs, depois do grande João Paulo II, os cardeais escolheram a mim — um simples, humilde trabalhador da vinha do Senhor.”

Mas os anos de seu pontificado não foram tranquilos. As queixas de abuso sexual por sacerdotes reacenderam – e ganharam uma força nunca antes vista. A situação passou a causar “profunda tristeza” ao papa, como relataram assessores próximos. A isso se uniria o que foi visto como uma traição pessoal: a revelação de seus documentos pelo mordomo pessoal, Paolo Gabriele. O mesmo ocorreu com desvios no Banco do Vaticano, outra dor de cabeça para o papa.

Bento XVI foi o homem que pediu a Deus que tivesse piedade da Igreja. “Senhor, frequentemente a Tua Igreja se parece com uma barca que está para afundar.” Pressionado, renunciou e abriu espaço para um reformador na Igreja Católica, o papa Francisco.

A relação entre dois papas, algo que não era visto sem atritos há séculos, chamava a atenção nos poucos e cordiais encontros públicos. “É como ter um avô com quem conversar”, disse por várias vezes Francisco, que fazia questão de visitá-lo com certa regularidade. O pensamento de correligionários do pontífice alemão foi, porém, por várias vezes apresentado como um empecilho a propostas renovadoras de Francisco. Apesar de não vir a público mais, Bento XVI renunciou a silenciar totalmente. Nos últimos anos, talvez o que tenha criado mais “barulho” seja sua alegação, em carta, de que a revolução sexual dos anos 1960 está no cerne dos atuais escândalos sexuais da Igreja.

Ratzinger, homem que falava dez línguas e tinha sete doutorados honorários, se imaginava aposentado, lendo e escrevendo livros em uma vila na Baviera. Terminou seus anos em um convento no Vaticano. Secretário particular do papa emérito, o monsenhor Georg Gänswein relatou à TV italiana, há três anos, que por muitas vezes chegaram a conversar sobre a hora da morte. “Ele pensa e se prepara, porque preparar-se para a morte significa preparar-se para o encontro com Deus, que é o encontro decisivo”.

**Repercussão Internacional**

Presidentes, primeiros-ministros e lideranças mundiais em geral lamentaram a morte do papa emérito Bento XVI. Entre eles, o presidente da Itália, **Sergio Mattarella**, afirmou que o país “está de luto” por Bento XVI, cuja “doçura e sabedoria beneficiariam” a “toda a comunidade internacional”. “Com dedicação, seguiu servindo à causa da Igreja em seu encargo sem precedentes de papa emérito, com humildade e serenidade.”

O presidente da França, **Emmanuel Macron**, homenageou o pontífice nas redes sociais. “O meu pensamento dirige-se aos católicos de França e do mundo inteiro, enlutados pela partida de sua santidade Bento XVI, que trabalhou com alma e inteligência por um mundo mais fraterno.”

O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, também prestou suas condolências. “Foi um grande teólogo, cuja visita ao Reino Unido, em 2010, foi um momento histórico para católicos e não católicos em todo o nosso país. Meus pensamentos estão com os católicos no Reino Unido e em todo o mundo hoje”, declarou em rede social.

Em sua conta oficial no Twitter, o presidente eleito do Brasil, **Luís Inácio Lula da Silva** também demonstrou seu pesar. “Recebi com tristeza a notícia da morte do papa emérito Bento XVI. Tivemos a oportunidade de conversar na sua vinda ao Brasil em 2007 e no Vaticano, sobre seu compromisso com a fé e ensinamentos cristãos. Desejo conforto aos fiéis e admiradores do Santo Padre”, disse Lula.

**Visita ao Brasil**
![Visita ao Brasil / Foto: Agência Brasil ](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/Foto_Agencia_Brasil_ba2fcf8161.jpg)

Bento XVI esteve à frente da Igreja Católica de 2005 a 2013. Durante seu papado, viajou ao Brasil em 2007 na Conferência dos Bispos para América Latina e Caribe, no Santuário de Aparecida (SP). Meses depois, classificou a viagem como um dos destaques daquele ano. A vinda ao País ficou marcada pela canonização de Frei Galvão.

O papa ficou por aqui entre os dias 9 e 13 de maio de 2007, pouco mais de dois anos após assumir como pontífice, participando de encontros em São Paulo e nas cidades de Guaratinguetá e Aparecida do Norte. Na capital paulista, Bento XVI passou pelo Mosteiro de São Bento e pela Catedral Metropolitana de São Paulo, na Sé, região central da cidade.

Ele foi também ao Memorial da América Latina e a um encontro com jovens no estádio do Pacaembu, na zona oeste, além de ter reunido uma multidão durante missa no aeroporto Campo de Marte, na zona norte. O Frei Galvão foi canonizado durante o evento. No Vale do Paraíba, o pontífice visitou a Fazenda da Esperança, que abriga dependentes de drogas, em Guaratinguetá, e o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, onde celebrou uma missa.

A visita de Bento XVI a São Paulo mobilizou as forças de segurança do Estado. Um efetivo superior a 20 mil homens atuou ao longo dos cinco dias de visita. A tropa era equivalente a cerca de 27% dos 93 mil policiais militares existentes à época no Estado. Os responsáveis diretos pela segurança do pontífice foram o Exército Brasileiro e a Polícia Federal.

Bento XVI classificou viagem como ‘inesquecível’! Mesmo sentimento que milhões de brasileiros compartilham. Descanse em paz!

Redação GPS

Nós somos uma equipe de jornalistas apaixonados por informar, entreter e inspirar nossos leitores com conteúdo de qualidade e credibilidade.

Posts Recentes

Onda de calor: Brasília terá sexta-feira (6) quente e com umidade que pode chegar a 15%

Inmet alerta para baixa umidade; hidratação e suspensão de atividades físicas são recomendadas

6 horas ago

Após acusação de assédio, Silvio Almeida nega relatos e pede “investigação rigorosa”

Ministro dos Direitos Humanos classifica denúncias como "mentiras sem provas"

6 horas ago

Voa Brasil tem mais de 500 opções de trechos para todo o país. Veja como comprar

Ministério de Portos e Aeroportos declarou que os números de venda de bilhetes estão em…

7 horas ago

Aulas de educação física da rede pública estão suspensas devido à baixa umidade

Medida foi divulgada pela Secretaria de Educação nesta quinta-feira (5)

7 horas ago

Após prisão de Deolane, dono da Esportes da Sorte se entrega à Polícia Civil de Pernambuco

Empresário e esposa são investigados na Operação Integration

8 horas ago

Com presença de Nelson Wilians, Forbes Power Dinner reúne autoridades na casa de Fernando Cavalcanti

O jantar celebrou a nova etapa de expansão da revista internacional de negócios no Brasil

9 horas ago