Morreu nesta segunda-feira (29), aos 74 anos, o jornalista Marcelo Beraba, um dos principais nomes do jornalismo investigativo brasileiro. Com quase cinco décadas de atuação na imprensa, Beraba foi um dos fundadores e o primeiro presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), criada em 2002.
Formado pela Escola de Comunicação da UFRJ, iniciou a carreira no jornal O Globo, em 1971, ainda como estudante. Foi repórter de destaque na editoria de Polícia, participando da renovação da cobertura do setor durante o período final da ditadura militar. Em 1981, publicou com exclusividade imagens da cirurgia do coronel Wilson Machado, ferido no atentado frustrado do Riocentro. A reportagem, em destaque na primeira página do Globo, ajudou a comprovar a participação de militares no plano terrorista e se tornou um marco da cobertura jornalística no processo de abertura política.
Com passagens por Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil, Estadão e TV Globo, Beraba ocupou cargos de chefia em várias redações. Foi diretor de sucursal, secretário de redação, editor-executivo e ombudsman. Também atuou como repórter especial e conduziu coberturas importantes, como o vazamento na usina nuclear de Angra dos Reis, em 1986.
A fundação da Abraji, em 2002, veio após o assassinato do jornalista Tim Lopes. Comovido com o crime, Beraba mobilizou colegas de diversas redações para criar uma entidade voltada à capacitação profissional e à proteção dos jornalistas que atuam em coberturas de risco. Ele presidiu a associação até 2007 e, nesse período, foi reconhecido com o prêmio de Excelência em Jornalismo do ICFJ (International Center for Journalists), nos Estados Unidos.
Ao longo da carreira, foi reconhecido pelo rigor na apuração, pela defesa da clareza na linguagem e pelo compromisso com o interesse público. Entre colegas, era visto como um profissional exigente, inquieto e comprometido com a essência do jornalismo.
Beraba era casado com a também jornalista Elvira Lobato e deixa uma filha, Cecília.