Muito se falou nas redes sociais sobre a “falta de brasilidade” após o desfile de inverno 2025 da Mondepars, realizado na última quarta-feira (11), no Theatro Municipal de São Paulo. Fundada por Sasha Meneghel, a marca propõe uma alfaiataria de linhas sóbrias com toques de streetwear, em coleções sem gênero e com apelo contemporâneo. No entanto, parte do público questionou a ausência de elementos visuais que, na expectativa popular, representariam o Brasil na passarela.
Nos bastidores do desfile, Sasha afirmou: “quando a gente fala da moda brasileira, a gente rapidamente pensa no biquíni, nas estampas coloridas, em tecidos leves. Só que o Brasil é muito grande e muito plural. Então a moda brasileira também tem que ser muito plural”. E ela tem razão. A moda feita no Brasil é plural. É biquíni, sim, é estampa tropical e cores vibrantes, mas também é alfaiataria, é minimalismo, é silhueta reta, é monocromia. É urbana, silenciosa e sofisticada. A Mondepars se insere nesse movimento, que também é liderado por marcas como Piet, Martins e Apartamento 03: grifes que propõem uma nova narrativa para a moda brasileira, menos folclórica e mais conectada com uma geração digital, globalizada e politizada.
O debate em torno do que é ou não “brasilidade” expõe um impasse importante: por que ainda esperamos que todas as marcas brasileiras expressem sua origem por meio de clichês tropicais? A identidade nacional não é uma fórmula fechada. Ela é feita de contrastes: do sertão à cidade grande, do sol do Nordeste ao frio da Serra Gaúcha. Nesse sentido, a Mondepars talvez represente justamente o Brasil metropolitano, que caminha apressado sob o concreto, e que se expressa em formas limpas, tons neutros e tecidos encorpados.
O Theatro Municipal, por sua vez, também não é uma escolha aleatória. O contraste entre a arquitetura clássica e a coleção contemporânea de Sasha evidencia uma narrativa que transita entre o passado e o futuro, entre o luxo do patrimônio histórico e a urgência de uma nova moda nacional. Há, sim, brasilidade nessa escolha — e também na presença do maestro João Carlos Martins como regente da orquestra que se apresentou durante o desfile, em uma de suas últimas apresentações. Outro gesto simbólico foi a abertura do desfile com a modelo Carol Trentini, um dos maiores nomes da moda nacional.
As críticas, portanto, devem considerar o que a Mondepars se propõe a ser, e não o que gostaríamos que fosse. Esta é apenas a segunda coleção da marca, que ainda está em processo de estruturação e consolidação no mercado. Exigir de uma grife nascente a representação total de uma cultura é um peso desproporcional.
A moda brasileira está em expansão, e é justamente essa multiplicidade de vozes que a torna mais rica. Ao propor uma alfaiataria jovem, de DNA cosmopolita e acabamento preciso, a Mondepars contribui com uma nova camada ao que entendemos por moda nacional. E isso, por si só, já é um ato de afirmação cultural.