Por Jorge C. Carrasco e Luciana Dyniewicz
O recém-eleito presidente da Argentina, Javier Milei, trabalha nesta semana na confirmação dos nomes que devem compor o gabinete do seu novo governo. Até o momento, a maior incerteza em relação às indicações encontra-se na pasta mais sensível – e de maior impacto – em meio à crise da Argentina: o ministério da Economia.
Nesta quinta-feira, 23, ao meio dia, o futuro chefe de gabinete do governo de Milei, Nicolás Posse, reuniu-se com o ex-presidente do Banco Central e ex-ministro das Finanças da Argentina, Luis “Toto” Caputo, aumentando as expectativas em torno à indicação do economista para o cargo de ministro da Economia na administração do político libertário.
O encontro, que foi mantido em secreto até ser revelado por membros da Associação de Empresários da Argentina, ocorre após a queda do nome de Emilio Ocampo – um dos principais colaboradores do plano econômico de Milei – como possível indicado ao Banco Central.
Na noite desta quarta-feira, 22, Milei disse em entrevista a um canal argentino de televisão o economista teria a “expertise necessária” para ser o chefe da pasta de Economia durante seu governo. Caputo é “alguém em condições de estar nessa posição, sem dúvida”, disse Milei. “Ele é alguém que tem a expertise necessária para desarmar o problema monetário que temos e encontrar uma solução de mercado financeiro para acabar com o problema da dívida do banco central e os controles de moeda”, afirmou o libertário.
“Caputo é uma pessoa de muito prestígio no setor financeiro nacional”, disse o economista argentino Fabio Rodríguez em entrevista ao Estadão. Ele foi encarregado do difícil processo de restruturação da dívida Argentina, e Macri confia muito nele. É um nome que liderou a economia nos momentos de abertura nacional e também nos piores momentos do governo de Macri”.
“Ele não conseguiu dominar a crise, mas seus resultados deixaram bastante satisfeitos a uma boa parcela do setor financeiro, que viu com bons olhos seu trabalho”, afirmou Rodríguez
De acordo com o economista, Caputo não estava na lista de equipes e nomes de confiança de Milei, mas com a mudança de estratégia do libertário, o nome de confiança de Macri pode ser confirmado como o líder da economia argentina nos próximos dias
“As negociações com Caputo são resultado direto da aproximação entre Macri e Milei. Mas outra leitura importante disto é que Milei estaria buscando um funcionário que o ajudasse a trazer de volta os financiamentos internacionais que a Argentina tanto precisa, deixando para outro momento a proposta de dolarização, da qual Caputo não é favorável”, explicou Rodríguez ao Estadão.
Nesta semana, o presidente eleito afirmou que não levantaria os controles cambiários até estabilizar a situação da dívida a curto prazo do Banco Central.
Perfil
Luis “Toto” Caputo, de 58 anos, é formado em economia pela Universidade de Buenos Aires e é professor de economia e finanças na Universidade Católica da Argentina. Conhecido no mercado financeiro argentino, o provável futuro ministro comandou o Deutsche Bank no país. Na infância, estudou na mesma escola que Macri, o Colegio Cardenal Newman, instituição pela qual passou grande parte da elite argentina. É também primo de Nicolás Caputo, empresário do setor da construção e um dos melhores amigos de Macri.
Foi ministro das Finanças e presidente do Banco Central do país durante a presidência de Mauricio Macri. Considerando as propostas radicais do presidente eleito Javier Milei para a área econômica, Caputo pode ser considerado um moderado. Ele é contra a ideia de dolarização, que foi defendida por Milei durante sua campanha, mas que vem sendo criticada por grande parte dos economistas – tanto devido à falta de dólares na Argentina para adotar uma medida como essa quanto devido ao fato de um país abrir mão de sua política monetária quando deixa de ter moeda própria.
Nesta quinta-feira, 23, os jornais argentinos Clarín e Cronista já dão como certa a nomeação de Caputo. Outros, porém, afirmam que Milei fez o convite ao economista, mas ainda não recebeu o “sim” dele.
No governo Macri, Caputo foi responsável, em 2017, por parte das negociações da Argentina com os fundos abutres (credores que compraram papéis “podres” da dívida do país e não aceitaram as reestruturações dos anos 2000). Também ficou conhecido como o “homem do título de 100 anos”, após conseguir emitir com sucesso um título do Tesouro argentino com vencimento em 2117. À época, o governo Macri passava por um dos seus poucos bons momentos econômicos e a emissão do papel foi considerada uma prova de que o país havia ganhado credibilidade do mercado financeiro.
Caputo deixou o Ministério das Finanças em 2018 para comandar o Banco Central após a renúncia de Federico Stuzenegger, que também era cotado para assumir a Economia no futuro governo Milei. No BC, Caputo ficou apenas três meses e abandonou o posto alegando questões pessoais. Nos bastidores, porém, eram conhecidos os desentendimentos entre ele e o então ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne.
Uma das questões de divergência entre Caputo e Dujovne era o empréstimo de US$ 50 bilhões que o governo argentino então negociava com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Foi o próprio ex-presidente quem escreveu sobre isso em um de seus livros, no qual descreve o estilo de Caputo como “apaixonado e direto”.