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Marcos do Val fabrica versões conflitantes sobre plano golpista

Após revelar uma trama golpista envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e contar versões divergentes sobre o caso, o senador Marcos Do Val (Podemos-ES) alegou que fez isso para chamar a atenção e tumultuar a narrativa. Em dois dias, o parlamentar fabricou ao menos cinco versões diferentes de um plano elaborado no Palácio da Alvorada para impedir a diplomação e posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e agora tenta levantar suspeitas sobre o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Do Val soltou na sexta-feira (04) a mais recente variação de sua “_denúncia_”. Disse que tudo o que falou foi de caso pensado, e agiu para “_ludibriar o inimigo_”. E explicou o motivo: quer pedir o afastamento de Moraes da função de relator de inquérito sobre atos antidemocráticos que tramita no do Supremo. Do Val disse que o ex-presidente está sendo comunicado de seus passos e agradeceu o apoio dos filhos parlamentares dele, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), a quem chamou de “_parceiraços_”.

Na madrugada de quinta-feira (03), o senador publicou sua primeira versão nas redes sociais. Disse que foi coagido por Bolsonaro a gravar Moraes para obter dele declaração comprometedora que servisse de argumento para anular as eleições e impedir a posse de Lula.

Procurado pelos filhos de Bolsonaro, Do Val deu a segunda versão. Disse a jornalistas que Bolsonaro não tinha bolado o tal plano, e que a ideia foi do então deputado Daniel Silveira (PTB-RJ). Uma terceira versão foi apresentada em seguida, em entrevista à _GloboNews_, na qual ele diz que só foi se reunir com o então presidente depois de consultar Moraes. Segundo ele, o ministro o teria aconselhado a ir à reunião “_porque todas as informações são importantes_”.

A quarta versão ele apresentou à Polícia Federal. Em depoimento na noite de quinta, Do Val alegou que só tinha gravado vídeo relatando coação de Bolsonaro porque estava com raiva de ataques sofridos nas redes sociais de bolsonaristas.

**Intenção**

Na sexta, o senador apresentou a quinta versão. Alegou que faz uso de técnicas de contrainteligência, dando declarações antagônicas, e disse que mentiu ao declarar que renunciaria ao cargo apenas para chamar atenção. Ele afirmou que sua intenção é tumultuar a narrativa.

“_Quem trabalha no setor de inteligência sabe que a gente não faz um histórico de começo, meio e fim. Nós soltamos informações em cada emissora de uma forma exatamente para ludibriar o inimigo. Estou deixando todo mundo tonto, eu solto uma informação para um, uma informação para outra…_”, afirmou Do Val, que atua na área policial, a seus seguidores no Instagram. “_Tudo isso é proposital_”, disse.

Na live, Do Val declarou que “_daria start à segunda fase da nossa estratégia_”. Em seguida, em entrevista à _CNN_, anunciou que pediria o afastamento de Moraes da relatoria do inquérito que investiga os atos antidemocráticos.

Entenda as idas e vindas de Do Val:

**_”Bolsonaro tentou me coagir”_**

Na madrugada de quinta-feira, 2, o senador Marcos do Val postou um vídeo dizendo-se irritado com quem o chama de senador bolsonarista. E avisou que a revista Veja iria publicar uma reportagem revelando uma “bomba”. Do Val disse que fora coagido por Bolsonaro a participar de uma tentativa de golpe. Mas que ele denunciou o caso.

**A renúncia**

Na mesma madrugada, o senador capixaba escreve em suas redes que iria renunciar ao mandato. Que já tinha sofrido um infarto e iria se cuidar.

**Telefonemas**

O senador disse que recebeu na manhã do dia 2 uma série de ligações de colegas pedindo para que não abrisse mão do mandato. Contou que Eduardo e Flávio Bolsonaro ligaram para ele fazendo o mesmo apelo. Do Val foi para o Senado e, no plenário conversou de novo com o senador Flávio Bolsonaro. A partir daí começou a mudar a versão da denúncia original.

Marcos do Val contou à revista _Veja_ que o ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado Daniel Silveira o convidaram para uma conversa no Palácio da Alvorada. Assunto: um plano para impedir a posse do petista Luiz Inácio Lula da Silva. O primeiro contato para a conversa ocorreu no dia 7 de dezembro. Lula já estava eleito, mas não tinha sido diplomado como presidente no TSE.

**O plano**

Na versão original que deu à _Veja_, Do Val foi categórico: ao chegar no Alvorada ouviu de Bolsonaro e Silveira um plano de golpe. O então presidente queria que o senador fosse até o ministro Alexandre Moraes com um gravador escondido. Era para gravar Moraes, obter dele uma declaração comprometedora. O resultado seria uma crise política que poderia anular a eleição de 2022 e garantir a permanência de Bolsonaro no cargo. Na conversa, Bolsonaro ainda teria dito que o aparato para gravar seria cedido pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

**Mudança na versão**

Pouco antes das 12h da quinta-feira, 2, depois de encontrar com Flávio Bolsonaro no plenário, o senador Marcos Do Val recebeu a imprensa em seu gabinete. Ali começou a reajustar sua história. Disse que quem tinha feito a proposta de gravar Moraes fora Daniel Silveira. Bolsonaro só ficou calado. “_O presidente (Bolsonaro) estava numa posição semelhante à minha, ouvindo uma ideia esdrúxula do Daniel_”, disse Do Val. “_Quando a imprensa diz que ele me coagiu, isso não confere_”, prosseguiu o senador desmentindo as declarações dadas por ele mesmo durante a madrugada, quando afirmou que Bolsonaro o “_coagiu para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto com ele_”.

**Versão número 3**

O senador Marcos do Val, em entrevista à _Globonews_, fez mais um ajuste na sua versão original. Negou que o então presidente Jair Bolsonaro tenha oferecido a estrutura do GSI para um grampo ilegal destinado a gravar o ministro Alexandre de Moraes. Do Val alegou que ele mesmo é que interpretou que o GSI daria o suporte, mas que a sigla não fora mencionada por Bolsonaro na conversa que tiveram no Alvorada.

**Revista divulga áudio com voz de senador**

No início da noite de quinta-feira, 2, a revista _Veja_ divulgou o áudio da entrevista feita com Do Val. Na gravação, o senador é categórico na acusação sobre a participação direta de Bolsonaro na tentativa de golpe para impedir Lula de assumir a presidência. Do Val ainda relata que o GSI daria suporte para fazer a gravação do ministro do STF.

“_(Bolsonaro) disse, sim. Que o GSI ia me dar o equipamento para poder montar para gravar. Aí eu falei assim, quando eu falei que ‘mas não vai ser aceito’. ‘Não, o GSI já tá avisado’. Quer dizer, já tinha validado a fala comigo. ‘Eles vão te equipar, botar o equipamento de escuta, de gravação e a sua missão é marcar com o Alexandre e conduzir o assunto até a hora que ele falar que ele, que ele avançou, extrapolou a Constituição, alguma coisa nesse sentido.’ Aí ele falou ‘ó, eu derrubo, eu anulo a eleição, o Lula não toma posse, eu continuo na Presidência e prendo o Alexandre de Moraes por conta da fala dele_'”.

**Suspeitas sobre conduta de Moraes**

Na mesma entrevista, o parlamentar contou que antes de ir se encontrar com Bolsonaro e Daniel Silveira para ouvir o plano do golpe no Alvorada foi ao STF avisar Alexandre de Moraes. Disse que o ministro sugeriu que ele deveria ir lá mesmo “_porque toda informação é importante_”. Nesse novo relato, Do Val acabava levantando dúvidas sobre a parcialidade do magistrado que, por essa versão, poderia ter instruído uma testemunha a obter provas contra Bolsonaro. O senador foi convocado a prestar depoimento no final da quinta-feira, 2, e repetiu a versão à Polícia Federal Do Val contou ainda que teve um segundo encontro com Moraes para relatar como fora a conversa e revelar o plano golpista de Bolsonaro. Segundo o senador, o ministro do STF reagiu como quem achou a história absurda e nada mais disse.

**Moraes admite encontro, mas diz que conversa foi diferente**

Na manhã de sexta-feira, 3, Moraes confirmou que teve um encontro com Do Val. Que ele relatou o plano de golpe que o magistrou chamou de “_operação tabajara_”. Moraes afirmou que pediu ao senador que formalizasse a denúncia, mas ele se recusou. O caso agora está sob investigação do STF.

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