Filmmaker Marcos Cavallaria fala sobre novo documentário com Klebber Toledo no Xingu

Artista já trabalhou com grandes artistas, expôs no Burning Man e agora transita entre diferentes ambientes do audiovisual

Gisele Bündchen, Matthew McConaughey, Zac Efron e Kendall Jenner são apenas alguns dos vários nomes que já trabalharam com o diretor e fotógrafo brasileiro Marcos Cavallaria, considerado o pioneiro do fashion film no Brasil. Com mais de 500 campanhas publicitárias no portfólio, ele se dedica atualmente à produção de um documentário sobre a líder indígena Watatakalu Yawalapiti, que traz uma nova perspectiva sobre a reserva, com foco na liderança feminina. 

A experiência no Xingu

O convite para gravar o documentário veio a partir de um encontro de Klebber Toledo, amigo de longa data de Cavallaria e que integra o elenco da produção, com a líder indígena. “Quando ele me falou da ideia, eu aceitei na hora”, conta. “Inicialmente, tivemos uma imersão no Xingu, que foi uma experiência profunda e inexplicável, algo que realmente me transformou. Assim, a cada ida, uma nova versão e percepção surgiam”, destaca.

O que mais me atraiu foi a força da Watatakalu enquanto liderança feminina, e a forma como ela tem conseguido proteger a reserva, mobilizar seu povo e dar visibilidade às questões urgentes da região”, afirma o filmmaker em entrevista ao GPS|Brasília

Ela conquistou investimentos de fora e de dentro do Brasil para proteger a reserva do desmatamento e da destruição provocada pelas madeireiras, pela agropecuária e pelo garimpo, temas muitas vezes ignorados fora das aldeias. Eu me apaixonei pela causa e pela potência dessa luta. Acredito que essa narrativa é essencial para o público porque amplia a escuta sobre a realidade indígena, valoriza a sabedoria ancestral e mostra que a preservação da floresta está diretamente ligada à existência desses povos”, revela.

Filmmaker Marcos Cavallaria fala sobre novo documentário com Klebber Toledo no Xingu

Por ter trabalhando em ambientes tão distintos, Cavallaria acredita que o audiovisual comercial o ensinou sobre processos, disciplina e qualidade high-end. Trabalhei em diversos filmes e campanhas para grandes marcas e personalidades, experiências que abriram espaço para explorar a criatividade dentro de contextos comerciais. Essa vivência me ensinou a lidar com prazos, grandes equipes e a comunicar ideias de forma clara e impactante”, pontua. 

Levo tudo isso para os documentários, onde aplico um olhar estético apurado e uma direção sensível”, explica o diretor. “Ao mesmo tempo, o contato com temas mais profundos e reais no documentário alimenta o cerne da minha arte, trazendo significado e camadas de reflexão que transbordam para todos os outros trabalhos”, reflete.

Para ele, os principais desafios da experiência no Xingu foram relacionados ao deslocamento e à logística, já que eles estavam no meio da floresta. Levar equipamentos, lidar com as condições do ambiente e adaptar a estrutura de produção exigiu bastante da equipe, que era reduzida. “Por ser um trabalho intimista, é bem diferente do ritmo da moda e da publicidade”, afirma. “Eu amo essa proposta porque transito do filmmaker ao diretor, do fotógrafo com uma câmera na mão e a vida à sua frente, ao que desenha em um estúdio branco um mundo imaginado. Estou sempre aberto a novos desafios, e essa oportunidade me permitiu mergulhar em algo muito mais conectado à natureza, à verdade e à ancestralidade”, comenta.

Ainda, acredita que cada tema trabalhado exige uma abordagem diferente, sempre a partir da escuta. “No fashion film, trabalho com mais liberdade estética e simbolismos, buscando provocar sensações e interpretações subjetivas. Já em documentários, especialmente sobre povos indígenas, a escuta e o respeito ganham protagonismo. É um processo de aprendizado, de troca e de responsabilidade com as narrativas que ajudo a contar”, compara. “Apesar das diferenças, em todos os projetos mantenho um compromisso com a sensibilidade, a verdade e a potência da imagem”, admite.

O documentário sobre a líder indígena Watatakalu Yawalapiti ainda não tem data de estreia definida, visto que ainda está em fase de captação e pré-edição. Estamos cuidando de cada detalhe com muito carinho para que o resultado final esteja à altura da importância dessa história. A expectativa é que consigamos transmitir toda essa potência no lançamento”, destaca.

Me emocionei em todos os momentos, os povos originários são a natureza em forma humana”, relembra Cavallaria sobre a experiência. “Todos os povos e sociedades de todos os mundos têm muito que aprender a interagir e ouvir os povos da floresta enquanto é tempo. Estar próximo da Watatakalu Yawalapiti, uma mulher extraordinária e uma liderança tão potente, foi profundamente marcante. Ela é um verdadeiro ícone pela sua força, sabedoria e o papel que exerce dentro e fora da aldeia. Esse projeto, além de tudo, reforça a essência da minha arte, que sempre foi voltada para as musas e o poder feminino. Ver isso representado de forma tão real e intensa me tocou profundamente”, declara.

Filmmaker Marcos Cavallaria fala sobre novo documentário com Klebber Toledo no Xingu

Como tudo começou

Formado em atuação e cinema no Studio Fátima Toledo, Marcos Cavallaria chegou a atuar em séries e filmes, à frente e atrás das câmeras. Foi nesse ambiente que encontrou uma maneira de unir tudo que mais amava: a arte de desenhar, luz, as musas, atuação, fotografia e o storytelling. Aos 25 anos, abriu seu atelier Cavallaria, foi o precursor da arte de produzir fashion films no Brasil e criou vídeos icônicos e inovadores para diversas marcas. É contemporâneo de Nick Knight, da Inglaterra, e Steven Meisel, dos Estados Unidos. 

Arte e ciência

Atualmente, se dividindo entre viagens, o fotógrafo busca sempre uma nova maneira de expressar sua paixão pela arte, com obras que misturam física quântica e fotografia. “Meu interesse por essa conexão vem de experiências pessoais e transformadoras. Perdi meu pai aos cinco anos, o que me levou a questionar profundamente o sentido da existência”, explica Cavallaria

“Com essa perda, desenvolvi vitiligo, o que me fez buscar refúgio no universo da criação. Minha mãe, apaixonada por arte, despertou meu talento, apresentou-me ao mundo da estética e me conectou com o feminino como fonte de inspiração. A arte se tornou meu caminho de expressão, da pintura à fotografia, da música à direção. Mais tarde, descobri na física quântica um campo fascinante que dialogava com essas questões existenciais que sempre me moveram. Esse estudo uniu meu propósito à minha linguagem artística, permitindo explorar, de forma simbólica e sensorial, as fronteiras entre o visível e o invisível, o humano e o divino”, detalha.

Recentemente, o artista levou para um dos maiores festivais de arte do mundo, o Burning Man, nos Estados Unidos, seu projeto Cavallaria Exhibition, que consiste em uma live performance inspirada no pensamento da Teoria das Cordas. Com as séries TimeFrame e Stardust, a relação entre realidade e dimensão se tornam reais sob o efeito óptico captado pelas lentes de Marcos.

Esses projetos unem conceitos da física quântica à arte da fotografia. Através de uma intervenção artística colaborativa, conseguimos criar uma imersão no cerne da arte, tecendo experiências que desafiam e expandem a percepção da realidade. É uma proposta que tem tudo a ver com o espírito do Burning Man, e estar lá, vivendo e compartilhando isso, é sempre uma alegria imensa. Eu me identifico muito com esse ambiente de liberdade criativa e conexão profunda”, conta o artista.

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Isabeli Fontana

O material de trabalho que utiliza foi desenvolvido a partir de estudos e tecnologias fornecidas pela RED DIGITAL (empresa de ferramentas de cinematografia e fotografia digitais) e seus cientistas, que são os mesmos da Nasa. “Tenho o privilégio de ser o único brasileiro entre os quatro embaixadores globais da RED, ao lado de nomes como Brad Pitt e Michael Bay”, celebra. “Para mim, não é apenas uma câmera, mas um verdadeiro pincel de luz. Essa colaboração me permite explorar novas possibilidades criativas e levar a arte para outro nível, agregando uma narrativa visual high-end a todos os desdobramentos”, destaca.

Depois de diferentes experiências, Cavallaria acredita que sua forma de criar e apresentar a arte mudou. “Consegui unificar todas as minhas vertentes criativas e me encorajei a explorar novas possibilidades. Por meio do meu trabalho, celebro minha maneira única de me expressar, explorando as infinitas conexões entre tecnologia, ciência e expressão artística, sempre em diálogo com a beleza e o mistério do cosmo. O existencialismo segue como minha base criativa”, acrescenta.

Sobre a relação entre arte e ciência, ele afirma que “uma ilumina e a outra chancela”, e que podem – e devem – caminhar juntas. “A ciência traz profundidade e beleza à arte, enquanto a arte traduz conceitos científicos complexos de forma sensível, visual e acessível. Quando unidas, despertam curiosidade e encantamento, criando pontes de compreensão”, complementa.

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Marcos Cavallaria

O trabalho com celebridades

Aos 44 anos, Marcos já passou por diferentes estilos e tamanhos de sets de filmagem. Já dirigiu e fotografou celebridades como Isabeli Fontana, Alessandra Ambrósio, Anitta; gravou clipes musicais de artistas como Iza, Claudia Leitte, Di Ferrero, Vintage Culture e Jaafar Jackson, sobrinho de Michael Jackson; e já fez trabalhos para marcas como Giorgio Armani, Givenchy, Boucheron, Biotherm, Le Lis Blanc, John John, Avon, C&A, Natura, Ellus, entre tantas outras. 

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Anitta

Ao ser perguntado sobre se sentir pressionado ao trabalhar com pessoas tão famosas, ele confessa que sim, existe uma pressão externa muito por conta do tempo e do dinheiro investidos. “Mas eu me blindo e foco no encontro entre artistas, que é justamente o que viemos fazer para dar vida ao trabalho”, revela. “Sou muito perfeccionista e sempre dou o meu máximo, independentemente de quem esteja na frente da câmera. É claro que há expectativas, mas meu foco está sempre em criar uma experiência autêntica e entregar um resultado verdadeiro, respeitando a individualidade de cada pessoa”, afirma.

“O mais bonito em trabalhar com grandes artistas é a troca genuína, a química do encontro. É nesse espaço que a imagem nasce e onde se guarda a memória mais forte do processo”, acredita o artista. “Um momento marcante foi dirigir Kendall Jenner em um estádio de futebol americano. Eu queria tirar o peso do fashion e trazer algo mais lúdico, então pedi para ela ficar descalça na grama. Usei meu conhecimento sobre o aterramento: em segundos, ela relaxou, mudou de estado, começou a brincar, dar estrelas, como uma menina no parque. Essa pureza de gesto nos deu exatamente a cena que buscávamos, algo verdadeiro, leve e conectado”, recorda.

Ele relembra, ainda, um dos projetos que mais se sentiu desafiado, que foi com a atriz Zhou Dongyu, na China. “Tínhamos pouquíssimo tempo, rodamos em um museu durante a madrugada e a logística era extremamente restrita. Além disso, havia a barreira cultural e a necessidade de conquistar a confiança dela rapidamente. Foi a soma de muitos desafios em um só set: tempo, espaço e linguagem, e, justamente por isso foi tão marcante e transformador”, afirma.

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Jade Picon

De olho no futuro

O artista revela que um grande sonho profissional que ainda não realizou é levar suas obras para grandes espaços dedicados à arte, como o Instituto Inhotim, a Bienal, o Museu da Imagem e do Som, o MASP e tantos outros internacionais. “Seria incrível compartilhar meu trabalho com um público mais amplo e ver essa expressão dialogando com diferentes contextos e olhares”, reflete.

Para ele, o papel do artista visual no Brasil é provocar reflexões, emocionar e transmitir mensagens por meio da sua linguagem única. “Cada obra carrega um olhar sobre o mundo e tem o poder de transformar realidades. Meu propósito é justamente esse: tocar as pessoas por meio da arte e levar beleza, questionamento e significado para diferentes espaços, quebrando polarizações e explorando o existencial como um todo”, afirma.

Por fim, ao refletir sobre um tema ou causa para um próximo projeto autoral, Cavallaria revela que tem “projetos para algumas vidas”, brinca. “Meu maior desafio hoje é conciliar a agenda entre o universo da moda e beleza e os mergulhos em imersão criativa. No âmbito social, quero aprofundar o trabalho com povos originários em diferentes partes do mundo, projeto que já iniciei junto à artista Rafaela Maia. Nas artes plásticas contemporâneas, sigo pesquisando narrativas que exploram o existencialismo, o feminino: tempo, espaço e dimensão, esses sempre serão meu eixo criativo. E na ficção, tenho roteiros em captação que também giram em torno desse tema, buscando traduzir o invisível em experiência sensorial”, conclui.

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