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Marcella Oliveira: Inhotim é o destino que você precisa viver e não apenas visitar

Visitamos o complexo de arte contemporânea em Brumadinho (MG) que combina arquitetura, natureza e emoção em uma proposta única no mundo

Há lugares que desafiam rótulos e categorias, e Inhotim é um deles. Localizado em Brumadinho, a cerca de 60km de Belo Horizonte, esse museu a céu aberto (um dos maiores da América Latina) não é apenas um espaço expositivo, mas uma imersão sensorial onde arte, arquitetura e paisagismo se entrelaçam de maneira impressionante. 

No momento em que deixamos a rodovia e adentramos a estrada cercada por árvores por todos os lados, a sensação é de atravessar um portal. É impossível não se sentir transportado, não apenas fisicamente, mas emocionalmente, para um estado de beleza, contemplação e descoberta.

O Instituto Inhotim se ergue sobre um tripé fascinante: arte, natureza e educação. Com mais de 140 hectares de visitação – e outros 205 hectares de Reserva Particular do Patrimônio Natural –, ele abriga um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do mundo e um dos maiores jardins botânicos do Brasil. O diálogo entre a vegetação nativa e os jardins desenhados torna cada percurso uma experiência estética em si mesma – e o brasiliense vai sentir a influência de Burle Marx, que não atuou no paisagismo, mas era amigo do empresário Bernardo Paz, fundador do instituto, e fez muitas caminhadas pela propriedade, dando um pitaco ou outro. 

Ali, nada parece por acaso, ainda que a natureza sempre encontre maneiras de surpreender, moldando-se às intervenções humanas de maneira orgânica. A arquitetura dos pavilhões, por si só, dialoga com as obras, muitas vezes amplificando suas mensagens. 

Nosso guia, Edno, conduziu a visita com uma paixão contagiante – aliás, faz toda a diferença contratar um. Nas galerias, uma história, uma curiosidade e uma ajuda para interpretar a arte contemporânea. 

Marcella Oliveira: Inhotim é o destino que você precisa viver e não apenas visitar

Jardim de Todos os Sentidos | Foto: Brendon Campos

Pipilotti Rist, Homo sapiens sapiens | Foto: Ícaro Moreno

Rebeca Carapiá, Apenas depois da chuva | Foto: Ícaro Moreno

Cada obra parece convidar o visitante a interagir, refletir, sentir. Um dos exemplos é a obra de Cildo Meireles, um labirinto de cacos de vidro, onde pode-se caminhar – desde que esteja com sapatos fechados. A primeira reação é de hesitação: como assim pisar sobre vidro? É preciso alguém dizer que é permitido. E logo vem a compreensão – com uma ajuda do guia – de que essa experiência traduz desafios da vida, os caminhos tortuosos que precisamos percorrer.

Outro momento memorável é a passagem pela Galeria Adriana Varejão. Com obras impregnadas de narrativas históricas e texturas surpreendentes, a artista – que foi casada com o fundador do instituto – tem um espaço dedicado exclusivamente às suas criações. As paredes da galeria escondem camadas que evocam feridas e cicatrizes da história brasileira, e a sensação de estar dentro desse espaço é visceral.

Experiência sensorial

Entre um pavilhão e outro, os jardins revelam encantos inesperados. Os lagos de coloração verde vibrante, que mais parecem saídos de uma pintura impressionista, não são naturais – recebem um corante especial chamado Lagoa Azul, que reage e fica no tom esmeralda – segredo compartilhado pelo guia, que faz questão de deixar claro: “é um corante natural”. 

As obras ao ar livre reforçam essa fusão entre o natural e o construído. Troca-Troca, com fuscas coloridos do artista Jarbas Lopes, dispostos no jardim, tem peças em cores diferentes que remetem às transformações que vivenciamos durante as viagens. A metáfora é clara: trocamos experiências, olhares, perspectivas – e voltamos para casa diferentes. 

Em 2024, o instituto atingiu um recorde de visitação, recebendo mais de 335 mil pessoas no ano. Mas, para além dos números, Inhotim é sobre experiência. É sobre percorrer trilhas sombreadas por árvores centenárias e deparar-se, de repente, com uma obra que redefine sua percepção de espaço. É sobre escutar o silêncio entre as galerias e sentir que, ali, ele também é parte da arte. Mais do que um museu, Inhotim é um convite para olhar o mundo – e a nós mesmos – de uma nova maneira. Vale muito a visita, e acho que mais de uma, porque eu já quero voltar. 

Galeria True Rouge | Foto: Ana Clara Martins

Galeria Adriana Varejão | Foto: William Gomes

Foto: João Marcos Rosa/Nitro

Cildo Meireles, Desvio para o vermelho I Impregnação, 1967-84. | Foto Brendon Campos

Um pedaço de Inhotim para viagem, por favor

Ao final do passeio, a Inhotim Loja Design se apresenta como uma espécie de memória tátil do que foi vivido ali. Mais do que simples souvenirs, os objetos vendidos na loja traduzem a experiência de Inhotim em formas e materiais. Desde publicações sobre os artistas expostos até peças de design autoral brasileiro, cada item permite prolongar a conexão com o espaço. Mais do que um presente ou lembrança, levar algo da loja é uma forma de contribuir para a manutenção e preservação desse lugar singular, garantindo que mais pessoas possam se emocionar com Inhotim no futuro.

Lygia Pape, T teia | Foto: Daniela Paoliello

Matthew Barney, DE LAMA LÂMINA | Foto: Pedro Motta

Galeria Psicoativa, Tunga Palíndromo incesto, 1990-92. | Foto: Daniel Mansur

O novo refúgio de luxo em Inhotim

Despertar no Clara Arte é uma experiência que transcende o conceito tradicional de hospedagem. A poucos passos das obras e jardins do Instituto Inhotim, o novo hotel foi inaugurado em dezembro de 2024 e já tem mostrado sua ligação com Inhotim e sua hospitalidade típica de um mineiro. 

O silêncio das manhãs é pontuado apenas pelo canto dos pássaros e pelo leve farfalhar das folhas, enquanto a varanda privativa, com lareira e vista para a natureza exuberante, oferece um convite irrecusável para começar o dia sem pressa. O cheiro do café recém-passado se mistura ao frescor do ar da serra. 

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Os bangalôs são uma celebração do design e da hospitalidade mineira. A madeira clara, as texturas naturais e a luz que atravessa grandes janelas criam um ambiente que transmite acolhimento imediato. Detalhes como a banheira esculpida em pedra-sabão e a curadoria artística presente nos mínimos elementos fazem com que cada espaço pareça uma extensão do próprio Inhotim. 

Após um dia percorrendo galerias e jardins, o retorno ao Clara Arte é um mergulho no conforto. O spa convida a um momento de relaxamento profundo, enquanto a piscina climatizada e a sauna a vapor proporcionam um descanso merecido. O restaurante tem curadoria do renomado chef Leo Paixão. O pão de queijo de casca crocante, servido ainda quente, é apenas um dos muitos sabores que traduzem o espírito do hotel: aconchego, elegância e um profundo respeito pelas tradições da região.

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*Matéria originalmente publicada na edição 42 da Revista GPS|Brasília

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